ANALISAR,INTERPRETAR E APLICAR OS RECURSOS EXPRESSIVOS DAS LINGUAGENS,RELACIONANDO TEXTOS COM SEUS CONTEXTOS.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
LÍNGUA PORTUGUESA: RESULTADO OFICIAL DO ENEM 2011
LÍNGUA PORTUGUESA: RESULTADO OFICIAL DO ENEM 2011: Sábado, dia 22/10/2011 Domingo, dia 23/10/2011 ...
A epidemia da liberdade - Parte 1
Como um saudável vírus, protestos contra ditaduras espalham-se pelo mundo árabe, causando transformações em uma região marcada pela repressão, a pobreza e a brutalidade
Claudio Dantas Sequeira e Luiza VillaméaREVOLTA
Em Sanaa, a capital do Iêmen, populares protestam contra
o governo e exigem a saída do presidente Abdullah Saleh
O coronel líbio Muamar Kadafi tornou-se o símbolo de uma geração de
déspotas que, agarrados ao poder e alheios às necessidades de seus
cidadãos, transformaram o Oriente Médio e o norte da África em uma das
regiões mais autoritárias e desiguais do planeta. Em quatro décadas de
reinado brutal, Kadafi, que se autoproclamou o “rei dos reis”, conseguiu
reunir em torno de si todos os estereótipos de um ditador extravagante,
sanguinário e opressor. Mais preocupados com as vastas reservas de
petróleo e gás natural do país, ao longo das últimas décadas, os líderes
ocidentais preferiam ver o ditador líbio apenas como uma espécie de
déspota excêntrico. Suas enfermeiras ucranianas, suas roupas coloridas
ou mesmo a insistente obsessão em montar tendas luxuosas onde quer que
fosse serviram de combustível para conversas animadas no pragmático
mundo da diplomacia internacional. Nos últimos anos, Kadafi chegou a
estabelecer relações para lá de cordiais com primeiros-ministros ou
presidentes defensores da democracia, como o britânico Tony Blair ou
mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na última semana, no entanto, as imagens de corpos humanos
destroçados por armas de grosso calibre, os relatos de ataques aéreos
contra manifestantes desarmados e o desespero de milhares de
estrangeiros em fugir do caos que tomou conta da Líbia fizeram o mundo
recordar, sobressaltado, que Kadafi não passa de um ditador sanguinário,
considerado um louco psicopata até mesmo por seus pares. Nesses últimos
dias, ele não mediu esforços para tentar sobreviver à contaminação da
onda libertária que vem tomando conta do norte da África e do Oriente
Médio. Estima-se que até sexta-feira seus mercenários e soldados ainda
leais ao seu comando tenham matado ao menos duas mil pessoas. Como um
vírus que se espalha pelo ar, o desejo de melhor qualidade de vida, de
libertar-se de regimes opressivos e cruéis e, pelo menos um pouco mais
de democracia está transformando a região de forma absolutamente
inédita. Depois da Tunísia e do Egito, restam poucas dúvidas de que a
Líbia será o próximo país a sucumbir a essa saudável epidemia. A queda
de Kadafi, o ditador mais longevo e cruel da região, será emblemática e
reforçará ainda mais uma certeza que parece dominar o mundo árabe: a de
que não há antídoto contra os desejos de um povo cansado da opressão e
da pobreza.
COVARDIA
A artilharia pesada deixa um rastro de destruição na Líbia,
onde militares desertores doaram seus uniformes para a população
As consequências dessa contaminação em massa são absolutamente
imprevisíveis. Estados Unidos e Europa estão agora debruçados na análise
das consequências geopolíticas e econômicas dessas revoltas no mundo
árabe. Afinal, o fornecimento de petróleo e gás tem sido garantido ao
longo dos anos por relações clientelistas que incentivaram a manutenção
de ditaduras. Agora, ninguém sabe como serão as novas relações com o
Ocidente, se a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep)
manterá sua formação e política de cartel ou mesmo se teocracias ao
estilo iraniano vão ocupar o vácuo de poder criado com a queda dos
ditadores. Na quinta-feira 24, os opositores de Kadafi, por exemplo,
tomaram importantes terminais petrolíferos situados a leste da capital
Trípoli e o governo anunciou a paralisação de parte da produção, o que
levou o valor do barril a tocar a barreira dos US$ 120. Na sexta-feira
25 mais da metade da produção de petróleo e gás líbio já havia sido
paralisada. “As primeiras consequências já podem ser sentidas. O preço
da energia está subindo, o que terá impacto adicional nos custos de
transportes e, consequentemente no preço das commodities”, disse à ISTOÉ
o economista tunisiano Saïd Kechida. Outra preocupação é com o êxodo de
migrantes desses países para a União Europeia. Estima-se em 500 mil o
total de pessoas que poderiam bater à porta dos europeus, num momento em
que a recessão e medidas antipopulares alimentam protestos como os
vistos em Atenas há poucos dias.
A única certeza por enquanto é de que a Líbia não será o último país a
ser contaminado de forma avassaladora por essa epidemia de liberdade.
Argélia e Iêmen caminham para uma situação-limite como a vista no país
de Kadafi. No Bahrein – onde a primeira corrida da temporada de Fórmula 1
já foi cancelada –, após a repressão violenta de protestos pacíficos, o
rei Hamad bin Isa recuou e tenta negociar com a oposição, mas poucos
acreditam que as pressões para sua queda irão arrefecer nos próximos
dias. O vírus libertário já começa a mostrar seus primeiros sintomas
também no Marrocos, na Mauritânia e acredita-se que ele possa tomar
conta até mesmo do Irã. Na tentativa de se vacinar, o governo da Arábia
Saudita anunciou um pacote de US$ 35 bilhões em investimentos sociais,
liberação de financiamento para a compra da casa própria sem juros e
aumento de 15% a todos os funcionários públicos. “Os árabes perceberam
que podiam sair às ruas. A revolta da Tunísia mostrou que era possível
derrubar o regime e o Egito confirmou essa tese. A queda de Kadafi é
questão de dias e será emblemática para que outros sigam esse caminho”,
diz à ISTOÉ o cientista político iraniano Meir Javedanfar.
FORA
Revoltados com o ataque a civis,
líbios exigem a saída de Muamar Kadafi
Mais do que a língua, a religião ou o fato de estarem flutuando
sobre as maiores reservas de petróleo do mundo, o que vem unindo os
povos árabes neste início de 2011 é a busca por melhores condições de
vida. Democracia nunca foi um valor exatamente prezado nessa região do
mundo e na história recente não há o mais remoto registro de governos
pautados pela liberdade de expressão, seja ela de ordem pessoal, seja de
ordem política. O catalisador das revoltas foi muito mais a dissonância
entre uma situação econômica decadente e a ostentação exacerbada de
pequenas elites políticas ligadas aos ditadores. Soma-se a isso a
corrupção endêmica que assola esses países aliada a uma repressão feroz e
descomensurada a qualquer tipo de oposição. Confrontados com a escassez
de trabalho em seus próprios países e a constante elevação dos preços
dos alimentos, os árabes simplesmente foram às ruas pedir uma vida
melhor. Tudo começou no dia 17 de dezembro, quando o vendedor de rua
tunisiano Mohamed Bouazizi ateou fogo em si mesmo depois que a polícia
confiscou as frutas e vegetais que vendia nas ruas de Túnis. A
autoimolação de Bouazizi não teve, ao menos diretamente, nenhum estofo
ideológico. Foi apenas um grito desesperado contra as dificuldades de se
ter uma vida digna.
Bouazizi tornou-se um mártir e símbolo do sofrimento dos milhões de
dsempregados tunisianos. Rapidamente a revolta ganhou corpo, facilitada
pelas novas tecnologias, reverberando pelas emissoras de tevê e
angariando cada vez mais apoio entre outros grupos, como sindicatos e
intelectuais. Da Tunísia, os gritos de liberdade se alastram com uma
rapidez impressionante pelos outros países da região. Hoje, são famílias
inteiras, com crianças a tiracolo, empunhando bandeiras e gritando
slogans por melhores condições de trabalho e direitos sociais básicos.
Foi assim no Egito e está sendo assim na Líbia. Movimento semelhante no
último século só foi visto nas ex-repúblicas soviéticas na década de
1990. “As sociedades árabes estavam a ponto de explodir há anos. Que a
faísca tenha saltado na Tunísia e o fogo tenha se espalhado pelo Egito
foi uma coisa do acaso”, afirma Paul Salem, diretor do Centro Carnegie
para o Oriente Médio, com sede em Beirute.
APOIO
Contrários ao ataque a civis, militares se
unem à população contra Kadafi
As dificuldades econômicas, as injustiças sociais e a concentração de
riqueza não são os únicos fatores para justificar um movimento tão
sincronizado no mundo árabe. Ao contrário de outras regiões do mundo
controladas por déspotas e vivendo na iniquidade extrema, o norte da
África e o Oriente Médio atingiram um grau de desenvolvimento relativo
após o início maciço da exploração do petróleo, a partir da segunda
metade do século XX. Os bilhões de dólares que permitiram que Kadafi,
por exemplo, tenha participação acionária em empresas como a Fiat e o
jornal inglês “Financial Times” também foram usados para construir uma
infra-estrutura aceitável, produzir uma classe média intelectualizada e
uma pequena burguesia nascida do comércio e dos serviços com as
potências ocidentais que dependem diretamente das reservas naturais
desses países. Assim, por mais injusta que seja a distribuição de renda,
não há miséria generalizada, como em algumas regiões da África
Sub-saariana, onde ditadores sanguinários como Robert Mugabe, no
Zimbábue, continuam a governar seus países como se esses fossem suas
propriedades particulares. Ainda é incerto se o movimento pode se
espalhar para outras regiões do mundo com regimes semelhantes, como a
China, a Coreia do Norte ou Cuba. Mas o certo é que os governantes
desses países estão atentos a qualquer indício de revolta.
A epidemia da liberdade - Parte 2
Como um saudável vírus, protestos contra ditaduras espalham-se pelo mundo árabe, causando transformações em uma região marcada pela repressão, a pobreza e a brutalidade
Claudio Dantas Sequeira e Luiza Villaméa
O mais notável nas revoluções árabes é
que elas são movimentos genuinamente populares. Em nenhum dos países
assolados até agora pela onda libertária surgiu uma oposição coordenada,
uma liderança clara. “Liberdade, trabalho e dignidade nacional são as
palavras de ordem nos protestos. Isso mostra que não se trata apenas de
uma questão de democracia, mas de justiça social”, afirmou à ISTOÉ o
economista tunisiano Saïd Kechida. “Na América Latina também há pobreza e
alguns países têm democracias frágeis, mas você não vê revolta porque
as pessoas não têm medo de expressar suas ideias sob o risco de serem
presas ou mortas”, concorda o analista iraniano Meir Javedanfar.
Enquanto a população anseia por uma vida melhor, os déspotas já vinham
ensaiando uma sucessão geracional. No Egito, Hosni Mubarak se preparava
para passar o poder ao filho Gamal, enquanto na Líbia os filhos de
Kadafi travavam uma disputa para suceder o pai. Marrocos e Síria, que
fizeram essa transição em 1999 e 2000, respectivamente, parecem ter
agora mais margem de manobra para reagir às pressões populares. Mas não
estão livres de pressões. Porém, isso não significa muita coisa. “Nenhum
país árabe está ao abrigo dos movimentos de protesto, com suas
reivindicações. Na verdade, o povo se sente lesado diante de poderes
absolutos e da falta de liberdades mínimas”, avalia Riad Wahwaji, do
Instituto de Análises Militares do Oriente Médio e do Golfo (Inegma).
Mas a derrubada desses regimes ditatoriais por si só não resolve o
problema. O vácuo deixado por líderes que estão há tanto tempo no poder
não é fácil de ser preenchido, já que a oposição também está dispersa,
isso quando ainda existe depois de décadas de repressão. É grande,
aliás, a chance de que as elites associadas aos antigos ditadores
permaneçam no controle do Estado, como é possível perceber nos processos
de transição na Tunísia e no Egito. Para o analista egípcio, Amr
Hamzawy, “a renúncia de ditadores como Mubarak e Ben Ali é apenas o
‘primeiro passo’ para o sucesso da revolução, que deve ser sucedido por
uma reforma estrutural que pavimente o caminho para a democracia”. Uma
coisa é certa: os árabes estão se acostumando com algo novo, e ainda
terão que aprender a conviver com novas liberdades e lutar contra o
veneno das religiões.
Certo também é que os interesses americanos e europeus em petróleo e
gás permanecerão inalterados, dada a sua dependência, seja qual for o
regime. Mas o grau de imprevisibilidade agora é altíssimo. Se as
ditaduras atuais pecaram pela abertura dos mercados ao capital e pela
corrupção, não é difícil imaginar que ideários nacionalistas ressurjam
com força. Uma unidade regional, no entanto, dependerá do alcance da
revolução e a ideia de um pan-arabismo idealizado pelo antecessor de
Mubarak no Egito, Gamal Nasser, não parece fazer a cabeça da nova
geração. “Acho que será mais uma questão de encontrar um caminho
pragmático e equilibrado para lidar com os interesses nacionais ao
patrocinar os interesses-chaves do mundo árabe”, avalia o tunisiano Saïd
Kechida. Daí a preocupação no governo de Israel, que teme o isolamento
com a eventual vitória de forças políticas muçulmanas em futuras
eleições. Tel-Aviv tinha no governo de Hosni Mubarak seu grande aliado
na região. “A revolução no Egito destrói a tranquilidade estratégica de
Israel no Oriente Médio”, afirma Itamar Eichner. No sentido inverso, o
Irã de Ahmadinejad poderá se beneficiar dessa nova conjuntura. “Os
ex-amigos dos Estados Unidos e de Israel podem virar amigos do Irã, a
menos que o espírito revolucionário ponha em xeque a república
islâmica”, diz o analista iraniano Meir Javedanfar.
RECUO
Após violenta repressão, governo
do Barhein liberta presos políticos
Até agora as grandes potências ocidentais estão acompanhando de longe
os acontecimentos na região. Por mais que os ditadores tentem fazer
crer que os levantes foram orquestrados por forças externas, são poucos
os indícios de uma ação direta das agências de inteligência dos Estados
Unidos ou de países europeus no fomento às revoltas. Na verdade, a
explosão popular no norte da África e no Oriente Médio parece ter pego
de surpresa o mundo ocidental. Só na sexta-feira 25, Estados Unidos e
União Europeia deram sinais de que pretendiam abandonar a retórica e
partir para ações concretas na tentativa de minimizar o banho de sangue
que vem manchando as ruas das principais cidades líbias. Com boa parte
dos seus cidadãos já evacuados do caos que toma conta do país, Estados
Unidos e Inglaterra começaram a considerar a possibilidade de criar uma
zona de exclusão aérea na Líbia para impedir novos ataques com aviões
militares contra cidadãos desarmados e tentar conter a entrada de
milhares de mercenários de países vizinhos contratados por Kadafi.
FUGA
Milhares de estrangeiros tentam desesperadamente deixar a Líbia
Assim como a condescendência ocidental com os abusos de ditadores
como Kadafi foi longa demais, a demora por ações concretas contra o
massacre do povo líbio parece também ter sido demasiada. Na tarde da
sexta-feira a Líbia já se encontrava praticamente em estado de sangrenta
guerra civil. Sem controle de uma vasta porção oriental do país e
perdendo espaço no oeste de Trípoli, Kadafi parecia não mostrar nenhum
tipo de limite para manter o controle de sua capital. Com mercenários
trazidos dos vizinhos Chad, Sudão e Níger, instalou um regime de terror
em Trípoli. Quem saísse às ruas era morto pelos milicianos leais ao
ditador. Na sexta-feira, logo após as orações, manifestantes tentaram
reunir-se na entrada das principais mesquitas da cidade, mas foram
brutalmente atacados. O mesmo aconteceu nos dias anteriores em cidades
próximas à capital, quando novos ataques aéreos foram registrados.
Enquanto isso, parte das Forças Armadas se juntou ao povo e começava a
armar populares para tentar tomar a capital no fim de semana. Poucos
duvidam que Kadafi sucumbirá, mas dificilmente isso ocorrerá sem a morte
de milhares de pessoas. Assim como o ditador se transformou num símbolo
da opressão dos líderes árabes a seu povo, o banho de sangue que
marcará sua queda será também um símbolo da reticência da comunidade
internacional em agir contra déspotas que não se importam em perpetrar
crimes contra a humanidade para manter a todo custo o poder.
Colaboraram: Bruna Cavalcanti e Rafael Teixeira
http://www.istoe.com.br/reportagens/
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A QUESTÃO CONCEITUALNeste
trabalho apresentamos uma sistematização a respeito da trajetória
conceitual da Educação Ambiental procurando demonstrar os vários
sentidos atribuídos no decorrer do debate, explicitando suas relações
com as mentalidades e o pensamento numa perspectiva histórica.
Introdução
O
ser humano, historicamente, em função de sua sobrevivência precisou
transferir matéria e energia do ambiente natural para a sua vida diária.
Entretanto, o acelerado processo de sua ação devastadora em relação a
estes hábitos, vem suscitando questionamentos uma vez que coloca em risco o
futuro do planeta e de sua própria espécie. A esse respeito, vale registrar
o alerta da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente da ONU (1992):
Muitos
dos atuais esforços para manter o progresso humano, para atender as
necessidades humanas, e para realizar as ambições humanas são simplesmente
insustentáveis - tanto nas nações ricas como nas pobres. Elas retiram
demais, e a um ritmo acelerado demais, de uma conta de recursos ambientais já
a descoberto, e no futuro não poderão esperar outra coisa que não a insolvência
dessa conta.
As
discussões por ocasião dos quinhentos anos de Brasil, remetem ao debate de
que entre os ganhos há também conseqüências, provenientes deste processo.
Uma delas é o modelo de desenvolvimento econômico baseado na monocultura agrícola
com a exploração até o esgotamento dos recursos naturais.
Entretanto
um longo caminho foi percorrido até chegar a essa mudança de mentalidade, ou
seja, a gênese da preocupação ecológica conforme aponta Thomas Keith -
pensador inglês, professor da Universidade de Oxford, em seu livro O
mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais,
(1988) como discutiremos mais adiante.
Em
função desse problema identificado como crise ambiental decorre a inserção
da Educação Ambiental percebida como uma das importantes estratégias na
construção de uma nova mentalidade e um novo modelo de desenvolvimento com
utilização sustentada dos recursos naturais, levando em conta no seu
processo à concepção de crescimento com equidade social e equilíbrio ecológico.
É
possível observar que a educação está sendo chamada a desempenhar papéis
paradoxais, uma vez que ora é interpretada como agência portadora dos
valores da classe dominante no sentido de ajustar o indivíduo à sociedade,
por outro lado, deve também instrumentá-lo para criticar esta mesma
sociedade.
Daí
vê-se claramente que a ação educativa tende a operar concomitantemente em
dois níveis: em nível individual, na medida em que orienta o uso
do meio e em nível societário, criando uma consciência crítica,
capaz de lutar pela racionalização na utilização dos recursos naturais, do
meio como um todo e, sobretudo, de apontar as distorções dos sistemas em
relação ao ambiente.
As
preocupações com a Educação Ambiental para a maioria dos autores
mencionados neste estudo datam da década de 1970. Desde então seu conceito
tem evoluído sempre vinculado ao do Meio Ambiente. A esse respeito, uma das
concepções adotadas, apresenta o entendimento de que, como a Educação
Ambiental tem sido praticada a partir da compreensão que se tem do meio
ambiente, esse processo pode acontecer de duas maneiras: através do conceito
científico, cujo entendimento é universal explicitando o consenso acerca um
determinado conhecimento para a comunidade científica ou por meio das
representações sociais, ou seja, a forma como os conceitos científicos são
percebidos e internalizados pelos indivíduos no seu cotidiano. (REIGOTA,
1994).
O
autor após relacionar vários conceitos de Meio Ambiente, avalia a
precariedade destes, uma vez que não apontam para um consenso, o que o leva a
optar pelas representações sociais, embora chegue a definir o meio ambiente
como:
O
lugar determinado, onde os elementos naturais e sociais estão em relações
dinâmicas e em interação. Estas relações implicam processos de criação
cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação
do meio natural e construído.
(REIGOTA, 1994, p. 14).
Outro
conceito de Meio Ambiente, ao nosso ver explicativo e abrangente é o do Guia
do Meio Ambiente que afirma:
Os
seres vivos, em geral, não subsistem sem uma série de condições e substâncias
que proporcionam sua sobrevivência e seu desenvolvimento. Tudo que cerca o
ser vivo, que o influencia e que é indispensável à sua sustentação
constitui o meio ambiente. Estas condições incluem o solo, o clima, os
recursos hídricos, o ar, os nutrientes e os outros organismos. Em 1975, na
Conferência Internacional sobre Educação Ambiental em Tibilísi, Geórgia,
o meio ambiente foi definido não só como meio físico e biológico, mas também
como meio sócio-cultural e sua relação com os modelos de desenvolvimento
adotados pelo homem.
(ROCHA, 1992, p. 84).
As
relações entre Meio Ambiente e Educação Ambiental perduram até nos
estudos mais atuais. Os antecedentes históricos da Educação Ambiental dão
conta de que a chamada crise ambiental
desencadeou o processo de ecologização na sociedade, ampliando um universo
antes restrito aos apreciadores da natureza.
A
idéia romântica que alimenta a possibilidade da existência de práticas
voltadas ao que atualmente entendemos como Educação Ambiental nas sociedades
pré-capitalistas, como a compreensão de que as pessoas mantinham uma relação
mais harmoniosa com a natureza, é veemente combatida por THOMAS (1988), que
apresenta questionamentos instigantes do tipo: Como
foi vivida a natureza nos trezentos anos que inauguram a modernidade?
Nessa reflexão, ele elabora os argumentos necessários que afastam a hipótese
de uma relação harmoniosa entre ser humano e natureza precisamente no período
anterior à Revolução Industrial. Para ele, a conscientização vem
paradoxalmente com a destruição, aspecto central de seu trabalho que analisa
como a humanidade passa do estágio da violência à natureza, pela simpatia e
proteção, traduzidos no fragmento:
Há
apenas poucos séculos atrás, a mera idéia de resistir à agricultura, ao
invés de estimulá-la, pareceria ininteligível. Como teria progredido a
civilização sem a limpeza das florestas, o cultivo do solo e a conversão da
paisagem agreste em terra colonizada pelo homem? Os reis e grandes proprietários
podiam reservar florestas e parques para caça e extração de madeira, mas na
Inglaterra Tudor a preservação artificial de cumes incultos teria parecido tão
absurda como a criação de santuários para pássaros e animais selvagens que
não podiam ser comidos ou caçados. A tarefa do homem, nas palavras do Gênesis
(I, 28), era “encher a terra e submetê-la": derrubar matas, lavrar o
solo, eliminar predadores, matar insetos nocivos, arrancar fetos, drenar pântanos.
A agricultura estava para a terra como o cozimento para a carne crua.
Convertia natureza em cultura. Terra não cultivada significava homens
incultos.
(THOMAS, 1988, p. 17)
Nesse
debate, é importante ressaltar os estudos que demonstram uma postura mais
adequada nas relações do ser humano com a natureza, possivelmente não da
maioria urbanizada, mas das populações tradicionais: E
quando os ingleses seicentistas mudaram-se para Massachusetts, parte de sua
argumentação em defesa da ocupação dos territórios indígenas foi que
aqueles que por si mesmos não submetiam e cultivavam a terra não tinham o
direito de impedir que outros o fizessem (THOMAS, 1988, p. 17).
Outros
estudos privilegiam investigações neste sentido quando buscam as prováveis
razões – construídas principalmente nos relatos dos viajantes europeus por
ocasião de suas incursões pela Amazônia - de se atribuir aos considerados
nativos, primitivos, selvagens e atualmente classificados como Povos da
Floresta, particularmente o caboclo amazônida o adjetivo de preguiçoso
(GONDIM, 1994).
A
idéia da sustentabilidade na concepção e prática das populações
tradicionais pode ser compreendida se percebermos o tempo em que estes vêm se
relacionando com a natureza e a forma como desenvolvem esta relação. Sem
compreender qual é a lógica que opera no seu meio, corremos o risco de
produzir interpretações estereotipadas, semelhantes àquelas presentes nos
relatos fantásticos dos cronistas viajantes e também na literatura
brasileira.
O
homem e a mulher da Amazônia são apresentados de uma forma extremamente
preconceituosa – pessoas acomodadas, preguiçosas, inconstantes,
despreocupadas, desleixadas, etc, características ocasionadas, no dizer de
LOUREIRO (1995) pelo determinismo climático
e pelas teorias raciais; portanto nesta visão discriminada as populações
tradicionais são consideradas incapazes de assimilar os padrões da
modernidade.
E
como a temática ambiental disputa um espaço no currículo escolar?
Inicialmente, os sistemas de ensino incorporaram em seus programas, objetivos
e conteúdos, relacionados ao Meio Ambiente considerando apenas os aspectos
biológicos e geográficos, não levando em conta a contribuição das ciências
sociais na perspectiva e compreensão do conceito de ecossistema (DIAS, 1993).
O
termo Educação Ambiental ou environmental
education, foi lançado em 1965, na Inglaterra, numa Conferência de Educação
que aconteceu na Universidade de Keele, mas já existia a expressão
"estudos ambientais" no vocabulário dos professores da Grã-Bretanha
(BOTELHO, 1998).
Em
1968, em Leicester - Grã-Bretanha, foi recomendado a fundação da Sociedade
para a Educação Ambiental. A Educação Ambiental foi definida como um
programa de educação que deveria objetivar a formação de cidadãos sob
cujos conhecimentos acerca do ambiente biofísico e problemas associados,
pudessem alertá-los e habilitá-los a resolver.
Para
DIAS (1994), a Educação Ambiental representa um processo no qual deveria
ocorrer num desenvolvimento progressivo de um senso de preocupação com o
Meio Ambiente baseado em um completo e sensível entendimento das relações
do ser humano com o Meio Ambiente.
Na
Conferência de Tbilisi, Geórgia, em 1977, a Educação Ambiental foi
definida como uma dimensão dada ao conteúdo e à prática de educação
orientada para a resolução dos problemas concretos do Meio Ambiente através
de enfoques interdisciplinares e de uma participação ativa e responsável,
de cada indivíduo e da coletividade, definição adotada pelo Brasil e a
maioria dos países.
Neste
contexto, é introduzido o caráter interdisciplinar como estratégia para se
alcançar os objetivos da Educação Ambiental conforme a Recomendação nº
1, letra "b":
O
resultado de uma reorientação e articulação de diversas disciplinas e
experiências educativas que facilitam a percepção integrada do meio
ambiente tornando possível uma ação mais racional e capaz de responder às
necessidades sociais (DIAS, 1994).
Para
o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, no Brasil, em seus documentos,
a Educação Ambiental é um processo de formação e informação, orientado
para o desenvolvimento da consciência crítica sob as questões ambientais e
de atividades que levem a participação das comunidades na presença do equilíbrio
ambiental (DIAS, 1994).
Em
1988 e 1989 no Programa Nossa Natureza, do Ministério do Meio Ambiente, a
Educação Ambiental é apresentada como:
O
conjunto de ações educativas voltadas para a compreensão da dinâmica dos
ecossistemas, considerando os efeitos da relação do homem com o meio, a
determinação social, a evolução histórica dessa relação.
(DIAS, 1994, p. 23)
Segundo
AB'SABER (1996, p. 47), a Educação Ambiental é
o conhecimento da estrutura, da composição e da funcionalidade da natureza,
das interferências que o homem produziu sobre esta estrutura, esta composição
e esta funcionalidade
Já
o entendimento de GUIMARÃES (2000, p. 31) sobre a definição da Educação
Ambiental é no sentido de que esta aponta para
as transformações da sociedade em direção a novos paradigmas de justiça
social e qualidade ambiental.
REIGOTA
(1999), referenda o conceito adotado pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura - UNESCO, de 1975, divulgado na Carta de
Belgrado, Iugoslávia, resultado do encontro nesta localidade, que antecipava
a necessidade de se avançar mais, onde explicitava que:
...
devem ser lançadas bases para um programa mundial de educação ambiental que
possa tornar possível o desenvolvimento de novos conhecimentos e habilidades,
valores e atitudes, visando a melhoria da qualidade ambiental
e, efetivamente, a elevação
da qualidade de vida para as gerações futuras.
(REIGOTA, 1994, 18).
No
Brasil, a Lei nº 9795/99, que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui
a Política Nacional de Educação Ambiental, estabelece o conceito de Educação
Ambiental a partir dos processos por
meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação
do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade de
vida e sua sustentabilidade (BRASIL, Diário Oficial da União, 28 de
abril de 1999).
Embora
existam vários conceitos de Educação Ambiental, percebemos que há mais
pontos comuns que divergentes, considerando todos aqueles que tomamos
conhecimento tanto em nosso cotidiano na escola, como no exercício da
pesquisa que ora se realiza.
Há
autores que, como PEDRINI (1999) avaliam que a Educação Ambiental não tem
clareza conceitual uma vez que não dispõe de objetivos, métodos de ação e
avaliação mais definidos, questões observadas nas várias práticas
ambientais consideradas equivocadas ou ainda em função da utilização de
livros didáticos com orientações inconsistentes, onde o ser humano é visto
como elemento separado da natureza, numa visão ingênua que não leva em
conta os aspectos políticos, culturais e econômicos, outros afirmam que os
conceitos referentes à Educação Ambiental apresentam uma
cisão epistemológica: a científica, atendo-se a uma abordagem naturalista,
e a cultural, limitando-se a uma abordagem individualista (PENTEADO, 1997,
p. 27)
O
documento elaborado pela Secretaria de Estado da Educação do Estado de Rondônia
– SEDUC, Proposta de Educação
Ambiental para o Sistema Público de Rondônia (1995), apresenta uma
previsão de atividades a serem desenvolvidas na gestão do governo Raupp
relativas a Educação Ambiental, assinalando que:
A
Educação Ambiental se concebe como um processo permanente onde indivíduos
tomam consciência de seu meio e adquirem os conhecimentos, os valores, as
competências, a experiência e também a capacidade de fazê-los atuar,
individual e coletivamente para resolver os problemas atuais e futuros do meio
ambiente.
Ao
nosso ver, a Educação Ambiental enquanto conhecimento sistematizado
encontra-se em franco processo de construção de suas bases teóricas e
conceituais uma vez que reflete o que acumulamos e aprendemos de forma muitas
vezes não-linear e contraditória. Essas aprendizagens que avaliamos como
insuficientes, evidenciam a necessidade de avançarmos cada vez mais no
sentido de aproximar nossas reflexões a práticas e atitudes mais
consistentes e efetivamente emancipadoras, bem como aos desejos de mudanças
que alimentam nossa capacidade de responder aos desafios postos.
É
importante levar em conta também aspectos processuais, que os tempos de
aprendizagem de temáticas como essa não operam com a tradicional lógica
sustentada nos eixos repetição e
memorização, a mobilização da compreensão aliada à pedagogia
do exemplo pode apontar possíveis rumos neste percurso. A Educação
Ambiental - do ponto de vista histórico, vem sendo pensada e vivenciada há
pouco tempo, sendo assim, entendemos e identificamos este quadro como Educação
Ambiental: conceito em construção,
que se viabiliza no âmbito da caminhada das lutas protagonizadas pelos
movimentos sociais, problematizando a parte que lhe cabe: a produção de uma
práxis educativa ambiental radicalmente transformadora.
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[1]
Mestra em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Psicopedagoga e
Professora da Universidade Federal de Rondônia – Campus de Ji-Paraná
em Rondônia – Brasil. shiva@enter-net.com.br
RESULTADO OFICIAL DO ENEM 2011
Sábado, dia 22/10/2011 | Domingo, dia 23/10/2011 | ||
Provas | Gabaritos | Provas | Gabaritos |
CADERNO 1 - AZUL | AZUL | CADERNO 5 - AMARELO | AMARELO |
CADERNO 2 - AMARELO | AMARELO | CADERNO 6 - CINZA | CINZA |
CADERNO 3 - BRANCO | BRANCO | CADERNO 7 - AZUL | AZUL |
CADERNO 4 - ROSA | ROSA | CADERNO 8 - ROSA | ROSA |
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