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sábado, 19 de dezembro de 2015

Que vontade de chorar.


Que vontade de chorar!

  Que vontade de chorar
Era uma manhã fresca e transparente de primavera. Parei o carro na luz vermelha do semáforo. Olhei para o lado – e lá estava ela, menina, dez anos, não mais. O seu rosto era redondo, corado e sorria para mim. “O senhor compra um pacotinho de balas de goma? Faz tempo que o senhor não compra…” Sorri para ela, dei-lhe uma nota de um real e ela me deu o pacotinho de balas. Ela ficou feliz. Aí a luz ficou verde e eu acelerei o carro, não queria que ela percebesse que meus olhos tinham ficado repentinamente úmidos.
Quando eu era menino, lá na roça, havia uma mata fechada. Os grandes, malvados, para me fazer sofrer, diziam que na mata morava um menino como eu. “Quer ver?”, eles perguntavam. E gritavam: “Ô menino!” E da mata vinha uma voz: “Ô menino!” Eu não sabia que era um eco. E acreditava. Nas noites frias, na cama, eu sofria, pensando no menino, sozinho, na mata escura. Onde estaria dormindo? Teria cobertores? Os seus pais, onde estariam? Será que eles o haviam abandonado? É possível que os pais abandonem os filhos?
Sim, é possível. João e Maria, abandonados sozinhos na floresta. Os seus pais os deixaram lá para serem devorados pelas feras. Diz a estória que eles fizeram isso porque já não tinham mais comida para eles mesmos. Será que os pais, por não terem o que comer, abandonam os filhos? Será por isso que as crianças são vistas freqüentemente na floresta vendendo balas de goma? Será que havia balas de goma na cesta que Chapeuzinho Vermelho levava para a avó? Será que a mãe de Chapeuzinho queria que ela fosse devorada pelo lobo? Essa é a única explicação para o fato de que ela, mãe, enviou a menina sozinha numa floresta onde um lobo estava à espera.
Num dos contos de Andersen uma menininha vendia fósforos de noite na rua (se fosse aqui estaria num semáforo), enquanto a neve caía. Mas ninguém comprava. Ninguém estava precisando de fósforos. Por que uma menininha estaria vendendo fósforos numa noite fria? Não deveria estar em casa, com os pais? Talvez não tivesse pais. Fico a pensar nas razões que teriam levado Andersen a escolher caixas de fósforos como a coisa que a menininha estava a vender, sem que ninguém comprasse. Acho que é porque uma caixa de fósforos simboliza calor. Dentro de uma caixa de fósforos estão, sob a forma de sonhos, um fogão aceso, uma panela de sopa, um quarto aquecido… Ao pedir que lhe comprassem uma caixa de fósforos numa noite fria a menininha estava pedindo que lhe dessem um lar aquecido. Lar é um lugar quente. Pois, se você não sabe, consulte o Aurélio. E ele vai lhe dizer que o primeiro sentido de “lar” é “o lugar da cozinha onde se acende o fogo.” De manhã a menininha estava morta na neve, com a caixa de fósforos na mão. Fria. Não encontrou um lar.
Um supermercado é uma celebração de abundância. No estacionamento as famílias enchem os porta-malas dos seus carros com coisas boas de se comer. “Graças a Deus!”, eles dizem. Do lado de fora, os famintos, que os guardas não deixam entrar. Se entrassem no estacionamento a celebração seria perturbada. “Dona, me dá uns trocados?” O menino estava do lado de fora. Rosto encostado na grade, o braço esticado para dentro do espaço proibido, na direção da mulher. A mulher tirou um real da bolsa e lhe deu. Mas esse gesto não a tranqüilizou. Queria saber um pouco mais sobre o menino. Puxou prosa. “Para que você quer o dinheiro?” perguntou. “Prá voltar prá onde eu durmo.” “E onde é a sua casa?” “Não vou voltar prá casa. Eu não moro em casa. Eu durmo na rua. Fugi da minha casa por causa do meu pai…”
Em muitas estórias o pai é pintado como um gigante horrendo que devora as crianças. Na estória do “João e o pé de feijão” ele é um ogro que mora longe, muito alto, nas nuvens, onde goza sozinho os prazeres da galinha dos ovos de ouro e da harpa encantada. Mãe e filho, lá embaixo, morrem de fome. Por vezes as crianças estão mais abandonadas com os pais que longe deles. Como aconteceu com a Gata Borralheira. Seu lar estava longe da mãe-madrasta e das irmãs: como uma gata, o borralho do fogão era o único lugar onde encontrava calor.
E comecei a pensar nas crianças que, para comer, fazem ponto nos semáforos, vendendo balas de goma, chocolate bis, biju. Ou distribuindo folhetos… Ah! Os inúteis folhetos que ninguém lê e ninguém quer e que serão amassados e jogados fora. O impulso é fechar o vidro e olhar para a criança com olhar indiferente – como se ela não existisse. Mas eu não agüento. Imagino o sofrimento da criança. Abro o vidro, recebo o papel, agradeço e ainda pergunto o nome. Depois, discretamente, amasso o papel e ponho no lixinho…
E há também os adolescentes que querem limpar o pára-brisa do carro por uma moeda. Já sou amigo da “turma” que trabalha no cruzamento da avenida Brasil com a avenida Orozimbo Maia. Um deles, o Pelé, tem inteligência e humor para ser um “relações públicas”…
Lembro-me de um menino que encontrei no aeroporto de Guarapuava. No seu rosto, mistura de timidez e esperança. “O senhor compra um salgadinho para me ajudar?” Ficamos amigos e depois descobrimos que a mulher para quem ele vendia os salgadinhos o enganava na hora do pagamento…
Um outro, no aeroporto de Viracopos, era engraxate. O pai sofrera um acidente e não podia trabalhar. Tinha de ganhar R$ 20.00. Mas só podia trabalhar enquanto o engraxate adulto, de cadeira cativa, não chegava. Tinha, portanto, de trabalhar rápido. Tivemos um longa conversa sobre a vida que me deixou encantado com o seu caráter e inteligência – ao ponto de ele delicadamente me repreender por um juízo descuidado que emiti, pelo que me desculpei.
E me lembrei das meninas e meninos ainda mais abandonados que nada têm para vender e que, à noitinha, nos semáforos (onde serão suas casas?), pedem uma moedinha…
Houve uma autoridade que determinou que as crianças fossem retiradas da rua e devolvidas aos seus lares. Ela não sabia que, se as crianças estão nas ruas, é porque as ruas são o seu lar. Nos semáforos, de vez em quando, elas encontram olhares amigos.
Os especialistas no assunto já me disseram que não se deve ajudar pessoas nos semáforos, pois isso é incentivar a malandragem e a mendicância. Mas me diga: o que vou dizer àquela criança que me olha e pede: “Compre, por favor…”? Vou lhe dizer que já contribuo para uma instituição legalmente credenciada? Me diga: o que é que eu faço com o olhar dela?
Minhas divagações me fizeram voltar ao Irmãos Karamazóvi, de Dostoiévski. Um dos seus trechos mais pungentes é uma descrição que faz Ivan, ateu, a seu irmão Alioscha, monge, da crueldade de um pai e uma mãe para com a sua filhinha. “Espancavam-na, chicoteavam-na, espisoteavam-na, sem mesmo saber por que o faziam. O pobre corpinho vivia coberto de equimoses. Chegaram depois aos requintes supremos: durante um frio glacial, encerraram-na a noite inteira na privada sob o pretexto de que a pequena não pedia para se levantar à noite (como se um criança de cinco anos, dormindo o seu sono de anjo, pudesse sempre pedir a tempo para sair!). Como castigo, maculavam-lhe o rosto com os próprios excrementos e a obrigavam a comê-los. E era a mãe que fazia isso – a mãe! Imagina essa criaturinha, incapaz de compreender o que lhe acontecia, e que no frio, na escuridão e no mau cheiro, bate com os punhos minúsculos no peito, e chora lágrimas de sangue, inocentes e mansas, pedindo a ‘Deus que a acuda’. Todo o universo do conhecimento não vale o pranto dessa criança suplicando a ajuda de Deus.”
Num parágrafo mais tranqüilo o starets Zossima medita “Passas por uma criancinha: passas irritado, com más palavras na boca, a alma cheia de cólera; talvez tu próprio não avistasses aquela criança; mas ela te viu, e quem sabe se tua imagem ímpia e feia não se gravou no seu coração indefeso! Talvez o ignores, mas quem sabe se já disseminaste na sua alminha uma semente má que germinará! Meus amigos: pedi a Deus alegria! Sede alegres com as crianças, como os pássaros do céu.”
Quando essas imagens começaram a aparecer na minha imaginação comecei a ouvir (essas músicas que ficam tocando, tocando, na cabeça…) sem que a tivesse chamado aquela canção “Gente humilde”, letra do Vinícius, música do Chico. “Tem certos dias em que eu penso em minha gente e sinto assim todo o meu peito se apertar…” Pelo meio o Vinícius conta da sua comoção ao ver “as casas simples com cadeiras nas calçadas e na fachada escrito em cima que é um lar”. Termina, então, dizendo: “E aí me dá uma tristeza no meu peito feito um despeito de eu não ter como lutar. E eu que não creio peço a Deus por minha gente. É gente humilde. Que vontade de chorar.”
Se fosse hoje o Vinícius não teria vontade de chorar. Ele riria de felicidade ao ver as cadeiras nas calçadas e as fachadas escrito em cima que é um lar… Vontade de chorar ele teria vendo essa multidão de crianças abandonadas, entregues ou à indiferença ou à maldade dos adultos: “E aí me dá uma tristeza no meu peito feito um despeito de eu não saber como lutar…” Só me restam meu inútil sorriso, minhas inúteis palavras, meu inútil Real por um pacotinho de balas de goma…
Texto de Rubem Alves

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

E SE..........


E SE...............







Texto abaixo já se aproxima de 2 000 compartilhamentos, foi lido no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, pela deputada Moema Gamacho (PT-BA) 




E SE..........


A legalidade vencerá, o golpe não passará.
E SE...
E se Dilma tivesse vendido uma estatal, avaliada em mais de 100 bilhões, por 3,6 bilhões, como FHC(PSDB) fez com a Cia Vale do Rio Doce?E se Dilma tivesse construído dois aeroportos, com dinheiro público, em fazendas da família, como fez Aécio Neves(PSDB)? 
E se Dilma estivesse na lista de Furnas, junto com FHC, Geraldo Alkimin, José Serra, Aécio Neves(todos do PSDB)... Entre outros?
E se Dilma estivesse acusada de receber propinas da Petrobrás, como Aloysio Nunes(PSDB)?E se Dilma estivesse sendo processada no STF, por ter recebido propinas da empreiteira OAS e ter achacado o Detran do seu estado, em um milhão de reais, como Agripino Maia(Dem)?
E se Dilma tivesse sido denunciada como beneficiária do contraventor Cachoeirinha, além de estar sendo processada, por exploração de trabalho escravo, em sua fazenda, como Ronaldo Caiado(Dem)?
E se Dilma estivesse sendo investigada na Operação Zelotes, por ter sonegado 1,8 milhão de reais e corrompido funcionários públicos, para que essa dívida sumisse do sistema da Receita Federal, como Nardes(Conselheiro do TCU, ligado ao PSDB)?
E se Dilma tivesse sido manchete de capa no New York Times, por suspeição de narcotráfico internacional, o que gerasse diversas reportagens na televisão norte americana, agentes do DEA, Departamento Anti Drogas, dos Estados Unidos, tivessem vindo ao Brasil, para investigá-la, e um helicóptero com quase meia tonelada de pasta de cocaína fosse apreendido em uma fazenda de amigo pessoal e sócio dela, em negócios não muito claros, como Aécio Neves(PSDB)?
E se a filha da Dilma fosse assessora do presidente da CPI da Petrobrás e lobista junto a Nardes, um conselheiro do TCU, e tivesse uma conta secreta no HSBC suíço, por onde passaram milhões de dólares, como Daniele Cunha, a filha de Eduardo Cunha(PMDB)?
E se Dilma tivesse sido presa em 2004, por fraude em licitação de grandes obras, no Amapá, e tivesse sido condenada por corrupção, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, como Flexa Ribeiro(PSDB)?
E se Dilma, quando prefeita de Salvador, tivesse sumido com 166 milhões das obras do Metrô, como Antônio Imbassay(PSDB)? 
E se a filha da Dilma tivesse tido um único emprego, de assessora da mãe, e a revista Forbes a colocasse como detentora de um das maiores fortunas brasileiras, caso do Serra(PSDB) e sua filhinha?
E se Dilma tivesse 18 processos por corrupção, como José Serra(PSDB)?
E se Dilma tivesse 22 processos por corrupção, como Eduardo Cunha(PMDB)?
E se Dilma tivesse dado dois Habeas Corpus, em menos de 48 horas, a um banqueiro que lesou o sistema financeiro nacional, para que ele fugisse do país; desse um Habeas Corpus a um médico que dopava a suas clientes e as estuprava (foram 37 as acusadoras), para que ele fugisse para o Líbano; se fizesse uso sistemático de aviões do senador cassado, por corrupção, Demóstenes Torres(Dem); se tivesse votado contra a Lei da Ficha Limpa por entender que tornar inelegível um ladrão é uma “atitude nazi-fascista”(sic), tendo a família envolvida em grilagem de terras indígenas, como Gilmar Mendes (Ministro do STF)?E se Dilma colocasse sob sigilo, por 25 anos, as contabilidades da Petrobras, Banco do Brasil e BNDES, como Geraldo Alkimin(PSDB) colocou as do Sistema Ferroviário paulista, das Sabesp e da Polícia Militar, após se iniciarem investigações da Polícia Federal, apontando desvios de muitos milhões? 
E se Dilma tivesse sido governadora e, como tal, cassada, por conta de compra de votos na campanha eleitoral, corrupção e caixa dois. Como Cássio Cunha Lima(PSDB)?
E se Dilma, em sociedade com Mário Covas(PSDB) tivesse comprado uma enorme fazenda no município mineiro de Buritis, em pleno mandato, e recebesse um aeroporto de presente, construído gratuitamente, de uma empreiteira, constatando-se depois que foi essa empreiteira a que mais ganhou licitações no governo FHC(PSDB), sócio de Covas?
E se Dilma declarasse à Receita Federal e ao TRE ter um patrimônio de 1,5 milhão e a sua filha entrasse na justiça, reclamando os seus direitos sobre 16 milhões, só parte do seu patrimônio, como aconteceu com Álvaro Dias(PSDB)?
E se Dilma estivesse sendo acusada de ter recebido 250 mil de uma empreiteira, na Operação Lava Jato, como Carlos Sampaio(PSDB)?
E se Dilma tivesse comprado um apartamento no bairro mais nobre de Paris e, dividindo-se o valor do imóvel pelos seus rendimentos, se constatasse que ela teria que ter presidido este país por quase trezentos para tê-lo comprado, caso de FHC(PSDB)?
E se Dilma fosse proprietária da maior rede de televisão do país, devendo quase um bilhão de impostos e mais dois bilhões no sistema financeiro, e tivesse o compromisso de proteger corruptos e derrubar a presidente, em troca do perdão da dívida com o fisco e financiamento do BNDES, para quitar as dívidas da empresa, como no passado, caso dos irmãos Marinho, proprietários da Rede Globo de Televisão?E se Dilma tivesse sido denunciada seis vezes, por seis delatores diferentes, na operação Lava Jato, e fossem encontradas quatro contas suas, secretas, na Suíça, alimentadas por 23 outras contas, em paraísos fiscais, e o dinheiro tivesse sido bloqueado pelo Ministério público suíço, por entendê-lo fruto de fonte escusa, e tivesse mandado toda a documentação para o Brasil, com a assinatura dela, como aconteceu com Eduardo Cunha(PMDB)?
Certamente Dilma, investigada noite e dia, em todas as instâncias, sem um indiciamento, sem sequer evidências de crimes, no dizer do promotor da Lava Jato e de um dos advogados dos réus, “uma mulher honrada”, não estaria com os citados pedindo o seu impeachment.
O seu crime? Chegou o dia de pagar os carentes do Bolsa família e o tesouro não tinha dinheiro. A Caixa Econômica Federal pagou e recebeu três dias depois. Isto é pedalada e por isso todos os citados acima a querem fora do governo.
Porque é desonesta ou porque é um risco para os desonestos?
Para apressar a tramitação dos processos em curso ou para arquivá-los?