http://precisoaprenderlinguasestrangeiras.blogspot.com.br/

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Entendendo o efeito estufa,

Entendendo o efeito estufa

Eliana Morais de Abreu - 25/01/2010

Msc. em meio ambiente e servidora da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí.

A atmosfera terrestre é formada por uma película de gases naturais que permite a passagem da radiação solar, e absorve grande parte do calor emitido pela superfície aquecida da Terra, formando assim, o efeito estufa natural, fenômeno de essencial importância para a manutenção da vida na biosfera.

Os gases da atmosfera, inclusive o dióxido de carbono (CO2), agem como uma membrana protetora que impede que o calor absorvido da irradiação solar escape para o espaço exterior, mantendo um estado de equilíbrio térmico sobre a superfície terrestre durante o dia e a noite.

Embora a quantidade de CO2 que existe permanentemente na atmosfera seja relativamente pequena, ela é muito importante para manter a temperatura da superfície terrestre constante, via efeito estufa. Porém, este fenômeno é garantido tanto pela presença do CO2, como pelo vapor de água e de outros gases que mantém a Terra aquecida, de modo a propiciar condições favoráveis para a continuidade da vida.

Por analogia, vamos entender o mecanismo do efeito estufa. Considere um carro exposto ao sol com os vidros fechados. O vidro ao permitir a passagem da luz do Sol, vai acumulando calor no interior do carro, que fica cada vez mais quente, formando uma estufa. Assim, pelos princípios da física, quanto maior for a concentração de gases, maior será o aprisionamento do calor. Portanto, mais alta será a temperatura.

Assim também funciona o efeito estufa natural. Ali, os gases naturais, incluindo o CO2, se acumulam na atmosfera agindo como um obstáculo que impede o calor proveniente do Sol de sair da atmosfera. Com isso, a temperatura do globo terrestre se mantém constante, favorecendo a existência das diversas formas de vida. Por ser um processo natural e equilibrado, sua ação é bastante benéfica ao meio ambiente.

Por outro lado, a liberação na atmosfera de outros gases como metano, óxido nitroso e clorofluorcarbonos, de forma contínua e excessiva, provoca o efeito estufa maléfico. O aumento da concentração desses gases de efeito estufa na atmosfera funciona como um isolante por absorver uma parte da energia irradiada pela Terra. Dessa forma, mais calor fica retido na atmosfera e o planeta se torna cada vez mais quente, reduzindo as possibilidades de sobrevivência de muitas espécies.

Apesar dos clorofluorcarbonos, em passado recente, terem sido utilizados largamente na indústria, o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proíbe terminantemente a utilização destes gases, visto que eles contribuíram para agravar o efeito estufa e provocar a destruição da camada de ozônio que protege a Terra contra os raios nocivos do sol. Mesmo assim, atividades como a indústria, a agricultura e os transportes públicos continuam liberando os gases de efeito estufa para a atmosfera.

Estudos comprovam a queima de combustíveis fósseis aliada ao desmatamento, ao longo dos últimos cem anos, intensificaram a concentração de CO2 na atmosfera com reflexos no aumento da temperatura da terra. Nesta perspectiva, o aquecimento crescente da superfície terrestre vem alterando o clima, resultando em freqüentes ondas de calor e enchentes, no avanço do mar sobre o continente, na perda de habitats e da biodiversidade. Além disso, produção agrícola e as reservas de água poderão ser afetadas, com sérias ameaças à saúde humana devido à desnutrição e epidemias.

Para combater a intensificação do efeito estufa, em 1997 foi ratificado o Protocolo de Kyoto, um tratado internacional em vigor desde 2005, que estabelece compromissos para a redução da emissão de gases que provocam o efeito estufa. Muitos países, inclusive o Brasil, já ratificaram este tratado. Entretanto, os Estados Unidos, maior emissor destes gases, ainda não ratificou.

Embora alguns países em desenvolvimento já utilizem tecnologias limpas e renováveis, a concentração dos gases estufa na atmosfera ainda é alarmante. Daí a urgente necessidade de se combater o efeito estufa por meio do uso sustentável de combustíveis alternativos, da reciclagem de materiais e da eficiência energética.

sábado, 2 de outubro de 2010

Cecília Meireles...............Canção excêntrica - Cecilia Meireles

 

Cecília Meireles
Cecília Meireles
Cecília Meireles
Cecília Meireles
                                                                          
Pequena canção

Pássaro da lua,
que queres cantar,
nessa terra tua,
sem flor e sem mar?

Nem osso de ouvido
Pela terra tua.
Teu canto é perdido,
pássaro da lua...

Pássaro da lua,
por que estás aqui?
Nem a canção tua
precisa de ti!




Cecília Meireles

Vaga música
( 1942)

Sobre o autor


 

Mesmo àquele que folhear displicentemente o livro Vaga Música não passará despercebido o fato de que uma das formas poéticas mais utilizadas aqui é a da canção, o que vem indicado, à maneira antiga, já nos títulos: "Pequena canção da onda", "Canção da menina antiga", "Canção excêntrica", "Canção quase inquieta", "Canção do caminho", "Canções do mundo acabado", "Canção quase melancólica", "Canção de alta noite", "Canção mínima", entre muitas outras semelhantes.
Essa forma é na verdade largamente usada em toda a obra de Cecília Meireles, não constituindo uma peculiaridade apenas desse livro. Segundo alguns teóricos, a canção seria a manifestação mais importante do gênero lírico. Ela seria, por assim dizer, o lugar onde a essência desse gênero é realmente liberada. Que esse lugar tenha sido amplamente explorado pela poeta, cuja poesia está entre as mais genuinamente líricas da literatura brasileira, não é um acaso.

No poema escolhido, algumas características da canção aparecem nitidamente: a forte atuação do som e do ritmo, a impregnação da realidade exterior pela emoção, o apagamento dos fatos, a indeterminação quanto ao tempo e ao espaço. Essas características se ligam intimamente. Assim, a musicalidade mais enfatizada na canção indica a fusão entre o eu e o mundo exterior. A alma invade o mundo objetivo, que aparece apenas como um reflexo daquela. Isso leva a um apagamento dos contornos da vida exterior e, conseqüentemente, a frases mais brandas, mais musicais, pois, mais do que definir um acontecimento, busca-se criar uma atmosfera emocional, para o que a música contribui fortemente. Esse relaxamento dos contornos implica também o relaxamento das noções de tempo e espaço, elementos sempre difíceis de precisar numa canção, que parece no mais das vezes se desenvolver no sem-tempo e no sem-espaço. É o sem-tempo e o sem-espaço da vida interior.

Som e Ritmo
Antes de qualquer consideração quanto à musicalidade, é necessário levantar alguns aspectos que dizem respeito ao metro usado no poema. Este é constituído por três estrofes ou quadras, com quatro versos cada uma, sendo estes pentassílabos, isto é, compostos de cinco sílabas:
  1    2  3   4  5
Pás-sa-ro-da-lu-(a)
  1     2    3    4    5
que-que-res-can-tar,
  1    2  3    4  5
nes-sa-ter-ra-tu-(a)
  1     2  3   4     5
sem-flor-e-sem-mar?

Se procedermos assim com os demais versos do poema, verificamos sempre o mesmo número de sílabas, ou seja, cinco. Lembramos que, tratando-se de poesia, conta-se apenas até a última sílaba tônica. Por isso não é de estranhar que tenhamos considerado, nos versos paroxítonos "Pássaro da lua" e "nessa terra tua", apenas até as sílabas "lu-" e "tu-" respectivamente. Já os versos "que queres cantar" e "sem flor e sem mar" são oxítonos, ou seja, terminam em sílaba tônica, a qual deve ser incluída na contagem silábica.

Versos de cinco sílabas são também chamados de redondilhas menores, tomados em relação à redondilha maior, de sete sílabas. Um como o outro são fartamente empregados na poesia popular, como é o caso da literatura de cordel. O uso de versos curtos na produção folclórica e semifolclórica certamente é um fator que colabora na condensação maior do assunto e confere mais agilidade rítmica a composições feitas muitas vezes para ser acompanhadas de música. 


No caso da poesia culta, que é o foco do nosso interesse nesta pequena análise, esse recurso muitas vezes visa a objetivos semelhantes: maior concentração do conteúdo, realce dos valores rítmicos, entre outros. 

Por que dizemos "concentração do conteúdo"? 

  Ora, porque os pequenos versos de cinco sílabas não propiciam que um conteúdo seja desdobrado, em todas as suas conexões lógicas, tal como o permite o soneto, por exemplo, tipo de composição estruturado por versos de dez sílabas e bastante apto ao jogo intelectual.

 Na canção ocorreria, ao contrário, uma "simplificação do conteúdo". Isso não quer dizer que se perca em profundidade, mas antes que esta é obtida por meio da força sugestiva das palavras, cuja sonoridade ganha relevo, e dos ritmos, bastante diversificados na composição analisada. Aqui, as três principais modalidades rítmicas possíveis para versos de cinco sílabas comparecem:
a)- - ´ - ´
b)´ - ´ - ´
c) - ´ - - ´
O sinal (´) corresponde justamente às sílabas fortes no verso, e o sinal (-) indica as sílabas fracas. Ao ritmo A se ajustariam os seguintes versos:
  -    -   ´   -   ´
nes-sa-ter-ra-tu-(a)
pe-la ter-ra-tu-(a)
O verso seguinte, que se repete em cada uma das quadras, é o único que descreve o ritmo B:
  ´    -   ´  -   ´
Pás-sa-ro-da-lu-(a)

O ritmo C aparece nos demais versos:
  -      ´   -    -      ´
que que-res-can- tar
Nem-os- so- deou-vi-(do)
Teu-can-toé-per- di-(do)
pre- ci- sa- de- ti
Observe que nos ritmos A e C há dois momentos fortes e três fracos (os momentos fortes estão em negrito), alterando-se apenas a maneira como esses momentos se sucedem, por outro lado no ritmo B há três momentos fortes e dois fracos, o que o torna menos suave que os outros, pois há apenas um intervalo entre os acentos. Estes, quando estão mais separados uns dos outros (como nos ritmos A e C), conferem ao verso um movimento mais ondulatório e delicado.
Vamos tentar solfejar o poema, isto é, ler em voz alta apenas seu desenho rítmico. Usaremos tá (que deve ser pronunciada com energia) para indicar as tônicas e ta para indicar as átonas:
Tá-ta-tá-ta-tá,
ta-tá-ta-ta-tá,
ta-ta-tá-ta-tá,
ta-tá-ta-ta-tá?
ta-tá-ta-ta-tá
ta-ta-tá-ta-tá.
ta-tá-ta-ta-tá,
tá-ta-tá-ta-tá...
tá-ta-tá-ta-tá,
ta-ta-tá-ta-tá?
ta-ta-tá-ta-tá
ta-tá-ta-ta-tá!

Lendo em voz alta, podemos perceber melhor a variedade dos ritmos, com a qual o poema se livra de cair na monotonia. Observem como se altera a distribuição dos acentos de uma linha para a outra. 

As linhas destacadas em negrito dizem respeito ao verso "Pássaro da lua", que, como já dissemos, descreve o ritmo B, mais rígido, uma vez que, nele, o número de momentos acentuados supera o de momentos não acentuados. Não é um ritmo com o qual possamos nos sentir embalados; ao contrário, ele nos obriga a trabalhar, ficar vigilantes, pois um golpe duro (o acento) não tarda. Mas a poeta o empregou com comedimento e habilidade: ele aparece em posições alternadas, abrindo a primeira estrofe, encerrando a segunda e novamente abrindo a terceira. Está, portanto, em situação de destaque. 


Ora, esse único verso que se repete três vezes é o "tu" do poema, ao qual se dirige o eu lírico. Em termos gramaticais, "pássaro da lua" é um vocativo. Todo o poema é, na verdade, uma interpelação desse "tu", interpelação que aparece em lugares estratégicos, como já referimos:
Pássaro da lua,
......................,
.......................,
.......................?
.......................
....................... .
.......................,
pássaro da lua...
Pássaro da lua,
.......................?
.......................
.......................!

 
A primeira e a segunda ocorrência estão separadas uma da outra por um intervalo de seis versos, enquanto a segunda e a terceira ocorrência se sucedem imediatamente. Mas, para aliviar essa seqüência de dois versos idênticos, de dois ritmos idênticos, Cecília Meireles achou a excelente solução de colocar reticências no fim da segunda quadra, com o que se produz uma pausa maior e podemos respirar um pouco. As reticências ao menos propiciam que o verso seja repetido com um intervalo de tempo maior. São uma espécie de pausa no centro do poema, após o que recobramos mais força para voltar à pergunta que inicia a terceira quadra e com o que se evita a desagradável colisão de duas ocorrências de um verso bastante duro quanto ao ritmo.
Esse afrouxamento do tempo ocasionado pelas reticências tem por certo uma contrapartida no nível da mensagem, pois o eu lírico já avisa: "Teu canto é perdido,/ pássaro da lua...". Há aqui também um certo afrouxamento, mas da expectativa, da ilusão: para que cantar se não existe nem "osso de ouvido"? Reparemos no alcance dessa última imagem, pela qual o ato de ouvir se torna uma espécie de estaca, de porto seguro que impeça a dissolução, a evanescência total. Pois, se batesse no "osso" de algum ouvido, a canção não resultaria em algo tão inapreensível e mesmo inútil, como seria, aliás, o canto de um fictício pássaro da lua:
Pássaro da lua,
que queres cantar,
nessa terra tua,
sem flor e sem mar?


O poema se inicia com uma pergunta sobre a matéria da canção: o que há para cantar se não há, "nessa terra tua", nem flor nem mar, elementos que desde as mais remotas épocas servem à poesia?

 Essa estrofe conclui que não está disponível, para o pássaro cantor/compositor, os elementos tipicamente poéticos nos quais se basearam tanto as simples e belas cantigas.
A segunda quadra verificará a ausência de um destinatário ao qual se dirija o pássaro e concluirá pela inutilidade do canto, pois ele "é perdido". Mas devemos entender esse perdido em sentido literal também: na ausência de um ouvido-pedra, de um ouvido-calço, de um ouvido-osso, a música não se fixa e escapa.
Não há, para esse canto, nem matéria nem ouvinte. E a estrofe final põe em questão até mesmo a serventia do cantor:
Pássaro da lua,
por que estás aqui?
Nem a canção tua
precisa de ti!
A canção, sem ter aquilo de que falar e sem ter para quem falar, talvez não precise nem de seu criador. Reparemos como aqui é reposta a rima lua/tua que percorre o poema e que contribui para a sua unidade sonora, melhor dizendo, para a sua circularidade sonora - para o que é também decisiva a repetição de "Pássaro da lua" ora no começo, ora no fim das estrofes, como já referimos.

As palavras tua e lua são palavras-chave, que, a cada repetição, adensam mais e mais a atmosfera do poema, aumentando o seu clima onírico, cujo ponto alto coincide com a conclusão de quem nem mesmo a canção acompanha o seu cantor. O pássaro da lua talvez seja o mais solitário dos seres. Mas não será dele talvez a canção mais pura, por ser praticamente vazia de conteúdo e por estar livre de seu próprio autor? Uma canção que, mais do que algo criado, parece ter existido desde sempre? Não será a canção por excelência?
Lembremos algumas das características que definem esse gênero poético, comentadas brevemente por nós no início deste texto: o apagamento dos fatos, a indeterminação quanto ao tempo e ao espaço. Essas características não apareceriam com extrema força no canto de um pássaro da lua, ser imaginário no fim das contas? Este não viria a ser, portanto, o símbolo de uma situação extrema, ou mesmo um ideal? Pois nele a canção se livraria de todos os estorvos que ainda a impedem de ser a mais pura música: o osso de autor, o osso de ouvido e o osso de conteúdo. Liberta de tudo isso, a canção de um fabuloso pássaro numa terra de nada e de ninguém como é a Lua seria a indeterminação total, o sem-tempo e o sem-espaço máximos. Uma tal indeterminação que, no limite, implica a inutilidade até mesmo do eu, do sujeito cantor.
Assim é que, se, num primeiro momento, o gênero da canção significava a mais íntima expressão do cantor, na qual o mundo de fora está dissolvido, o poema de Cecília parece apontar para algo além disso, na medida em que cria uma situação imaginária em que o próprio cantor aparece dissolvido. Uma situação por certo de negatividade e desolamento, em que não há nem flor nem mar nem ouvido e nem mesmo pássaro- mas paradoxalmente propícia à libertação total do canto.

Cecília Meireles
Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro em 7 de novembro de 1901. Aos 16 anos se diploma professora e começando a escrever poemas de forma efetiva. Publica diversos livros: Espectros (1919), Nunca mais ... e poema dos poemas (1923) e Baladas para El-Rei(1925). Seu livro de prosa poética, Criança, meu amor foi indicado como leitura oficial nas escolas. Entre 1930 e 1933, dirigiu a Página da Educação no Diário de Notícias do Rio de Janeiro e, em 34, inaugurou o Centro de Cultura Infantil do Pavilhão do Mourisco, a primeira biblioteca infantil do país. Com o suicídio do marido Cecília Meireles volta a lecionar, escreve sobre folclore no jornal A Manhã, crônicas para o Correio Paulista e dirige a Revista Travel in Brazil, no Rio. O livro Viagem (1939), recebeu da Academia Brasileira de Letras o Prêmio de Poesia. Inicia um período de intensas atividades e viagens, cujo reflexo encontramos em obras como Doze noturnos de Holanda e Poemas escritos na Índia. Em 1953, após intensa pesquisa histórica, publicou o Romanceiro da Inconfidência. Cecília Meireles morreu no Rio, em 9 de novembro de 1964.
Visite também o site do Alô Escola: Cecília Meireles, baseado em programa produzido pela Rádio Cultura FM







Retrato - Cecilia Meireles

cecilia meireles

Maria Bethânia declama Cecília Meireles

Nem tudo é fácil - Cecília Meireles

Motivo - Cecilia Meireles

Aceitação - Cecilia Meireles

Valsa - Cecilia Meireles

ANALISANDO POEMAS

PRIMAVERA - CECÍLIA MEIRELES

CeCilia Meireles- bibliografia vida e obras !!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A NOVA ORTOGRAFIA --- A Nova Ortografia é um Bicho-Papão?

 A NOVA ORTOGRAFIA.




 A Nova Ortografia é um Bicho-Papão? 

É. E por isso mesmo não é preciso ter medo dela. Bicho-Papão não existe na realidade, só na nossa imaginação ou no nosso medo. Primeira prova de que na realidade o tal Bicho-Papão ortográfico não existe: não há Nova Ortografia. O que aconteceu foi um “acordo”, entre os países que usam a Língua Portuguesa, para eliminar diferenças entre seus sistemas ortográficos. Esse acordo gerou em nossa ortografia umas poucas mudanças. Mas nosso Sistema Ortográfico continua valendo na grande maioria dos casos. Que maravilha! Ainda sabemos escrever, mesmo sem conhecer o Acordo Ortográfico! Muitos jornais e revistas estão usando o termo errado, portanto. Deveriam dizer “as pequenas alterações” da Ortografia, e não a “NOVA” ortografia. Há pessoas que parecem gostar de enfeitar o Papão só para assustar os estudantes! Seria muito mais didático e útil dizer “Olha, gente, houve um acordo entre os países de Língua Portuguesa, e vamos ter de mudar algumas coisinhas na nossa ortografia, tá?” Mas não, fizeram o contrário. Estão escrevendo até livros a respeito. Parece que a mania em nosso país é dizer que tudo é grandioso, até as pequenas modificações na ortografia, que atingirão apenas 0,47% das palavras. Segunda prova de que o tal Bicho-Papão ortográfico não existe: seis regrinhas novas são para deixar de fazer e não para passar a fazer. Que bom! É mais fácil deixar de fazer o que se sabe do que aprender a fazer o que ainda não se sabe. Não é? Assim, não se preocupe com essa questão da “nova” ortografia no seu exame vestibular, por três razões:

 Primeira – Ainda há tempo para começar a obedecer a essas regras: até dezembro de 2012. Até lá, ninguém poderá penalizá-lo por escrever sem as alterações do Acordo. Se você for do tipo “sossegadão”, deixe para pensar no assunto somente a partir dessa data.
  Segunda – Não poderá haver, portanto, exigência dessas regras em nenhuma situação: concursos, vestibulares, etc. etc. 
Terceira – Como você agora sabe, apenas 0,47% das palavras do português do Brasil serão modificadas na escrita. Isso não alterará em quase nada a ortografia de qualquer texto. Quer uma boa prova? Observe todo este texto do Blog, do título até este ponto. Nenhuma das palavras escritas até aqui é alcançada pela “nova” ortografia. Se o autor deste artigo não conhecesse as novas regrinhas, o texto seria exatamente o mesmo. Isso provavelmente acontecerá com as trinta linhas de sua redação no exame vestibular. Captou? Então, não se preocupe. Esse Bicho-Papão não assusta nem criança. Mas se você é do tipo “ligadão” e não quer deixar para amanhã o que pode aprender hoje, vamos estudar o trema e a acentuação no Acordo Ortográfico de um jeito muito descontraído. São regrinhas do tipo “Deixe disso!”, isto é, deixe de botar o sinal. Assim, 1) DEIXE de usar o trema. O trema morreu, que os Anjos digam amém! Era um mal antiquíssimo criado por algum linguista louco e eloquente, uma coisa de equino que ninguém mais aguentava. Vamos ficar cinquenta vezes mais tranquilos e será ótimo depois de uma sequência de cinco anos comemorar um quinquênio sem tremar coisa nenhuma. 

 2- DEIXE de colocar o acento agudo sobre a vogal aberta tônica dos ditongos -EI- e -OI- em palavras paroxítonas terminadas em -EIA, -EIAS, -EICO, -EICOS, -OIA, -OIAS, -OIAM, -OICO, -OICOS, -OIDE, -OIDES, -OIE, -OIES, -OIEM, -OIO, -OITO, -OITOS. Que joia! Não me sinto mais um androide moloide que não sabia se devia acentuar ou não colmeia. Apoio e espero que você apoie e todos apoiem inteiramente essa ideia. Foi um esforço estoico e heroico acabar com essa paranoia. Mas, cuidado! Só as paroxítonas com esses ditongos ficam sem acento; as oxítonas continuam sendo acentuadas: Você vai continuar pagando aluguéis, usando anéis, pescando com anzóis, comendo caracóis, enrolando fios nos carretéis, ligando os faróis, tirando o chapéu, andando ao léu, lavando os lençóis, defendendo o réu e sendo um fiel entre os fiéis. 


 3- DEIXE de acentuar o -U- tônico que surge após ditongo em palavras paroxítonas como baiuca, bocaiuva, boiuno, reiuna, reiuno, feiura. Para falar a verdade, a gente já tinha deixado de fazer isso havia muito tempo, não é? E ninguém notava! Mas, cuidado também aqui! Só as paroxítonas. As oxítonas continuam com o acento: teiú, teiús, sucuruiú, sucuruiús, tuiuiú, tuiuiús, Piauí. 

  4- DEIXE de usar o acento circunflexo sobre o -E- e o -O- tônicos de palavras paroxítonas terminadas em -EEM, -OO, -OOS: creem, deem, descreem, leem, preveem, releem, reveem (verbo rever), veem (verbo ver), abençoo, abotoo, acoroçoo, acorçoo, assoo, caçoo, coo, doo, enjoo, magoo, perdoo, reboo, ressoo, revoo, soo, voo. 

 Não confunda: continua valendo a distinção gráfica entre a terceira pessoa do singular e a do plural no caso dos verbos “ter” (ele tem, eles têm) e “vir” (ele vem, eles vêm). E assim também correspondentemente em: mantém, mantêm; retém, retêm; entretém, entretêm; sustém, sustêm; contém, contêm; advém, advêm; convém, convêm; provém, provêm. Mas, como você já fazia isso, é só um lembrete. 


 5) DEIXE de usar o acento diferencial em pólo, pôlo, péla, pêlo, pára, pêra. Agora é tudo polo, polo, pela, pelo, para, pera, não importando a pronúncia nem a classe de palavra.  

Veja como ficou fácil: 

Ele come uma pera e para para jogar polo. Sobraram apenas duas palavras em que é obrigatório: pôr (verbo) para diferençar de por (preposição) e pôde (pretérito perfeito) para diferençar de pode (presente do indicativo, com “o” aberto); e uma palavra que você poderá usar com acento diferencial, se achar que tornará mais clara a frase em que aparecer: fôrma, para diferençar de forma. Ontem o padeiro não pôde pôr a massa na fôrma, porque estava amassada e perdeu a forma, mas hoje ele pode, por ter comprado duas fôrmas novas. 


 6) DEIXE de usar o acento agudo no -U- tônico dos grupos -GUE, -GUI, -QUE, -QUI: apazigue, apazigues, arguem, argui, arguis, arguem, averigue, averigues, averiguem, oblique, obliques, obliquem, redargui, redarguis, redarguem. 

  Muito fácil, não?

 Não é muita coisa. Sim, mas a regra do hífen?

 Vixe! Essa é fera! É Papão mesmo. Como assustava até os gramáticos, tentaram deixar menor o bicho, mas ele aumentou, e agora até os criadores do monstro têm dúvidas. Vamos tocar no assunto noutra oportunidade, depois que sair a segunda edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – VOLP. A primeira ainda não resolveu tudo.

Cruzadas; "IDADE MÉDIA" ; Auto da Barca do Inferno ; Análise da obra de Gil Vicente







Auto da Barca do Inferno 
         Análise da obra de Gil Vicente







PERSONAGENS

Fidalgo: representa a nobreza, que chega com um pajem, uma roupagem exagerada e uma cadeira de espaldar, elementos característicos de seu status social. O diabo alega que o Fidalgo o acompanhará por ter tido uma vida de luxúria e de pecados. Ao Fidalgo, nada lhe valem as ―compras‖ de indulgências, ou orações encomendadas. A crítica à nobreza é centrada nos dois principais defeitos humanos: o orgulho e a prática da tirania.Onzeneiro: o segundo personagem a ser inquirido é o Onzeneiro, usuário que ao chegar à barca do Diabo descobre que seu rico dinheiro ficara em terra. Utilizando o pretexto de ir buscar o dinheiro, tenta convencer o Diabo a deixá-lo retornar, mas acaba cedendo às exigências do julgamento.
Parvo: um dos poucos a não ser condenado ao Inferno. O Parvo chega desprovido de tudo, é simples, sem malícia e consegue driblar o Diabo, e até injuriá-lo. Ao passar pela barca do Anjo, diz ser ninguém. Por sua humildade e por seus verdadeiros valores, é conduzido ao Paraíso.
Sapateiro: representante dos mestres de ofício, que chega à embarcação do Diabo carregando seu instrumento de trabalho, o aventar e as formas. Engana na vida e procura enganar o Diabo, que espertamente não se deixa levar por seus artifícios.Frade: como todos os representantes do clero, focalizados por Gil Vicente, o Frade é alegre, cantante, bom dançarino e mau-caráter. Acompanhado de sua amante, o Frade acredita que por ter rezado e estar a serviço da fé, deveria ser perdoado de seus pecados mundanos, mas contra suas expectativas, é condenado ao fogo do inferno. Deve-se observar que Gil Vicente desfecha ardorosa crítica ao clero, acreditando-o incapaz de pregar as três coisas mais simples: a paz, a verdade e afé.

 Brísida Vaz: misto de alcoviteira e feiticeira. Por sua devassidão e falta de escrúpulos, é condenada. Personagem interessante que faz o público leitor conhecer a qualidade moral de outros personagens que com ela se relacionaram.Judeu: entra acompanhado de seu bode. Deplorado por todos, até mesmo pelo Diabo que quase se recusa a levá-lo, é igualmente condenado, inclusive por não seguir os preceitos religiosos da fé cristã. Bom lembrar que, durante o reinado de D. Manuel, houve uma perseguição aos judeus visando à sua expulsão do território português; alguns se foram, carregando grandes fortunas; outros, converteram-se ao cristianismo, sendo tachados cristãos novos.Corregedor e o Procurador: ambos representantes do judiciário. Juiz e advogado deviam ser exemplos de bom comportamento e acabam sendo condenados justamente por serem tão imorais quanto os mais imorais dos mortais, manipulando a justiça de acordo com as propinas recebidas.
Enforcado: chega ao batel, acredita ter o perdão garantido: seu julgamento terreno e posterior condenação à morte o teriam redimido de seus pecados, mas é condenado também a ir para o Inferno.
Cavaleiros: finalmente chegam à barca quatro cavaleiros cruzados, que lutam pelo triunfo

Auto da Barca do Inferno Análise da obra de Gil Vicente , detalhe de quadro português anônimo de 1520 Antes de mais nada, "auto" é uma designação genérica para peça, pequena representação teatral. Originário na Idade Média, tinha de início caráter religioso; depois tornou-se popular, para distração do povo. Foi Gil Vicente (1465-c. 1537) que introduziu esse tipo de teatro em Portugal. O "Auto da Barca do Inferno" (c. 1517) representa o juízo final católico de forma satírica e com forte apelo moral. O cenário é uma espécie de porto, onde se encontram duas barcas: uma com destino ao inferno, comandada pelo diabo, e a outra, com destino ao paraíso, comandada por um anjo. Ambos os comandantes aguardam os mortos, que são as almas que seguirão ao paraíso ou ao inferno. Resumo do enredo Os mortos começam a chegar. Um fidalgo é o primeiro. Ele representa a nobreza, e é condenado ao inferno por seus pecados, tirania e luxúria. O diabo ordena ao fidalgo que embarque. Mas ele, arrogante, julga-se merecedor do paraíso, pois deixou muita gente rezando por ele. Recusado pelo anjo, encaminha-se, frustrado, para a barca do inferno; mas tenta convencer o diabo a deixá-lo a rever sua amada, pois esta "sente muito" sua falta. O diabo destrói seu argumento, afirmando que ela o estava enganando. Um agiota chega a seguir. Ele também é condenado ao inferno por ganância e avareza. Tenta convencer o anjo a ir para o céu, mas não consegue. Também pede ao diabo que o deixe voltar para pegar a riqueza que acumulou, mas é impedido e acaba na barca do inferno. O terceiro indivíduo a chegar é o parvo (um tolo, ingênuo). O diabo tenta convencê-lo a entrar na barca do inferno; quando o parvo descobre qual é o destino dela, vai falar com o anjo. Este, agraciando-o por sua humildade, permite-lhe entrar na barca do céu. Mais personagens A alma seguinte é a de um sapateiro, com todos os seus instrumentos de trabalho. Durante sua vida enganou muitas pessoas, e tenta enganar também o diabo.  Como não consegue, recorre ao anjo, que o condena como alguém que roubou do povo. O frade é o quinto a chegar... com sua amante. Chega cantarolando. Sente-se ofendido quando o diabo o convida a entrar na barca do inferno, pois, sendo representante religioso, crê que teria perdão. Foi, porém, condenado ao inferno por falso moralismo religioso. Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, é recebida pelo diabo, que lhe diz que seu o maior bem são "seiscentos virgos postiços". Virgo é hímen, representa a virgindade. Compreendemos que essa mulher prostituiu muitas meninas virgens, e "postiço" nos faz acreditar que enganara seiscentos homens, dizendo que tais meninas eram virgens. Brísida Vaz tenta convencer o anjo a levá-la na barca do céu inutilmente. Ela é condenada por prostituição e feitiçaria. Judeus e "cristãos novos" A seguir, é a vez do judeu, que chega acompanhado por um bode. Encaminha-se direto ao diabo, pedindo para embarcar, mas até o diabo recusa-se a levá-lo. Ele tenta subornar o diabo, porém este, com a desculpa de não transportar bodes, o aconselha a procurar outra barca. O judeu fala então com o anjo, porém não consegue aproximar-se dele: é impedido, acusado de não aceitar o cristianismo. Por fim, o diabo aceita levar o judeu e seu bode, mas não dentro de sua barca, e, sim, rebocados. Tal trecho faz-nos pensar em preconceito anti-semita. É necessário entender, porém, que durante o reinado de dom Manuel, de 1495-1521, muitos judeus foram expulsos de Portugal, e os que ficaram, tiveram que se converter ao cristianismo, sendo perseguidos e chamados de "cristãos novos". Ou seja, Gil Vicente segue, nesta obra, o espírito da época. Representantes do judiciário O corregedor e o procurador, representantes do judiciário, chegam, a seguir, trazendo livros e processos. Quando convidados pelo diabo para embarcarem, começam a tecer suas defesas e encaminham-se ao anjo. Na barca do céu, o anjo os impede de entrar: são condenados à barca do inferno por manipularem a justiça em benefício próprio. Ambos farão companhia à Brísida Vaz, revelando certa familiaridade com a cafetina - o que nos faz crer em trocas de serviços entre eles e ela... O próximo a chegar é o enforcado, que acredita ter perdão para seus pecados, pois em vida foi julgado e enforcado. Mas também é condenado a ir ao inferno por corrupção. Por fim, chegam à barca quatro cavaleiros que lutaram e morreram defendendo o cristianismo. Estes são recebidos pelo anjo e perdoados imediatamente. O bem e o mal Como você percebeu, todos os personagens que têm como destino o inferno possuem algumas características comuns, chegam trazendo consigo objetos terrenos, representando seu apego à vida; por isso, tentam voltar. E os personagens a quem se oferece o céu são cristãos e puros. Você pode perceber que o mundo aqui ironizado pelo autor é maniqueísta: o bem e o mal; o bom e o ruim são metades de um mundo moral simplificado. 




 ATIVIDADES COMENTADAS


1) Na seguinte cena do Auto da Barca do Inferno, o Corregedor e o Procurador dirigem-se à Barca da Glória, depois de se recusarem a entrar na Barca do Inferno:

Corregedor Ó arrais dos gloriosos,
passai-nos neste batel!
Anjo Ó pragas pera papel,
pera as almas odiosos!
Como vindes preciosos,
sendo filhos da ciência!
Corregedor Ó! habeatis clemência
e passai-nos como vossos!
Joane (Parvo) Hou, homens dos breviairos,
rapinastis coelhorum
et perniz perdiguitorum
e mijais nos campanairos!
Corregedor Ó! Não nos sejais contrairos,
Pois nom temos outra ponte!
Joane (Parvo) Beleguinis ubi sunt?
Ego latinus macairos.
pera: para
habeatis: tende
homens dos breviairos: homens de leis
Rapinastis coelhorum/Et perniz perdiguitorum:
Recebem coelhos e pernas de perdiz
como suborno
Beleguinis ubi sunt?: Onde estão os oficiais de justiça?
Ego latinus macairos: Eu falo latim macarrônico

(Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno. São Paulo: Ateliê Editorial, 1996, p. 107-109.)


a) De que pecado o Parvo acusa o homem de leis (Corregedor)? Este é o único pecado de que ele é acusado napeça?
    O Corregedor é acusado de corrupção na passagem em que o Parvo se refere ao fato de ele receber subornos, “presentes”, “propinas”, “agrados”, “pequenos mimos” tais como coelhos e pernas de perdizes. Além disso, o Corregedor é acusado, na peça, de ser desrespeitoso (mijar nos campanários), injusto com relação aos desfavorecidos, preguiçoso e adúltero, pecados pelos quais é condenado a seguir com o Diabo na Barca do Inferno.

ANALISANDO.

  Além de identificar o pecado de suborno praticado pelo Corregedor, apontar
também o outro pecado do qual a personagem citada foi acusada durante a peça.
o primeiro pecado: suborno. No que diz respeito ao outro pecado,: desrespeito aos mandamentos da igreja, heresia, adultério (por usufruir dos serviços de BrísidaVaz), injustiça, desonestidade, falta de ética, falta de profissionalismo, ou sinônimos. O principal é que se perceba que o Corregedor foi acusado na peça de Gil Vicente de vários deslizes cometidos no exercício de sua função e em sua conduta moral como um todo., no entanto, entender que a resposta para a segunda parte do item a deverá ser positiva (sim, suborno é o único pecado do qual o Corregedor foi acusado na peça .



b) Com que propósito o latim é empregado pelo Corregedor? E pelo Parvo?

   Por se tratar de língua da tradição dos bacharéis, o latim é empregado pelo Corregedor como símbolo de distinção e prestígio, tal como a vara e os processos que ele carrega nas mãos. Na verdade, no contexto em que os termos latinos são empregados indistintamente pelo Corregedor como sinal de afetação, arrogância,superioridade e status social, pode-se observar uma certa ironia por parte de Gil Vicente, a qual se explicitará na fala do Parvo. O Parvo se expressa em latim para ridicularizar e ironizar a postura dos magistrados. Chega a admitir essa intenção, ao afirmar que seu latim é macarrônico.

ANALISANDO

      No item b, deverá ficar claro na resposta  que a intenção do Corregedor é demonstrar sua
condição de homem de leis – o latim visto como língua do direito – e que, por isso, ele deveria ser tratado de maneira diferenciada pelo Anjo e ser conduzido à barca que se dirigia ao Paraíso. O Parvo, por sua vez, usa o latim a fim de satirizar o Corregedor e sua tentativa de mostrar-se superior através da linguagem. Foi um equívoco bastante comum é identificar o latim como língua oficial da igreja, afirmando que o Corregedor estaria usando tal idioma de modo a convencer o Anjo – através daquela que seria sua linguagem própria – a levá-lo para a Barca da Glória. Esse tipo de resposta, embora muito recorrente, não se mostra adequado, uma vez que em nenhum momento o latim é usado pelo Anjo na peça como língua de autoridade da igreja. E, no momento em que o Parvo aparece deturpando a língua latina – chamado por ele mesmo de “latim macarrônico” –, fica claro que a razão para o uso dessa linguagem nada tem a ver com uma crítica ou exaltação específica à religião, mas sim com uma clara ironia contra aqueles que tentam usar essa língua como forma de distinção e poder.

  Características 

    O "Auto da Barca do Inferno" faz parte de uma trilogia (Autos da Barca "da Glória", "do Inferno" e "do Purgatório"). Escrito em versos de sete sílabas poéticas, possui apenas um ato, dividido em várias cenas. A linguagem entre os personagens é coloquial - e é através das falas que podemos classificar a condição social de cada um dos personagens. Valores de duas épocas Escrita na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, a obra oscila entre os seus valores morais de duas épocas: ao mesmo tempo que há um severa crítica à sociedade, típica da Idade Moderna, a obra também está  religiosamente voltada para a figura de Deus, o que é uma característica medieval. A sátira social é implacável e coloca em prática um lema, que é "rindo, corrigem-se os defeitos da sociedade". A obra tem, portanto, valor educativo muito forte. A sátira vicentina serve para nos mostrar, tocando nas feridas sociais de seu tempo, que havia um mundo melhor, em que todos eram melhores. Mas é um mundo perdido, infelizmente. Ou seja, a mensagem final, por trás dos risos, é um tanto pessimista. Idade Média "Idade das trevas", período medieval durou dez séculos Brasão mostra cavaleiro andante, símbolo medieval no imaginário popular A Idade Média e os temas medievais são usados até hoje em histórias reais ou fantásticas que chegaram até nós. Assim, os contos de fada, com suas princesas, castelos, dragões e reis, são geralmente ambientadas na Idade Média. Ainda ouvimos falar também da bravura dos cavaleiros das Cruzadas, que atravessaram o Oriente Médio e a Europa para lutar contra os infiéis. Muitos rituais católicos têm origem medieval. Enfim, a Idade Média é uma fonte de histórias infantis, de lendas, filmes, jogos e videogames.   Mas ela se compôs fundamentalmente de fatos reais. Por isso, devemos separar a realidade da imaginação. As pessoas, hoje em dia, têm uma visão idealizada desse passado, que foi recriado no imaginário da humanidade durante os últimos séculos. Por exemplo, muitos contos de fada foram escritos por autores românticos do século 19, tendo como base histórias do folclore que eram contadas por diversos povos ao longo dos séculos. Desse modo, os autores românticos inventaram um passado medieval cercado de ricos castelos e belas princesas. Isso estava dentro de um ideal artístico, que, no entanto, estava longe de espelhar a realidade da maioria da população que vivia naquele período. Idade "média" por quê? Mas o que devemos entender, afinal de contas, quando dizemos "Idade Média"? 



"IDADE MÉDIA" 


          Esse termo refere-se a uma divisão do tempo que engloba praticamente 1.000 anos de história do continente europeu. Essa classificação para o período - "Média" - foi uma forma de os homens dos séculos 14 e 15, dos reinos italianos, mostrarem que eram inovadores, modernos, transformadores. Esses homens - pintores, artistas e pensadores do chamado Renascimento - achavam que estavam rompendo com um período culturalmente atrasado do mundo ocidental, dominado pelo pensamento da Igreja católica.  Assim, os renascentistas classificavam-se como "modernos" e acreditavam que estavam fazendo renascer o esplendor das culturas grega e romana da Antigüidade. Entre a Idade Moderna e a Idade Antiga havia, portanto uma idade intermediária, que ficava no meio, sendo a média entre esses dois períodos. Assim nasceu o conceito de Idade Média. Essa classificação, na verdade, é uma simplificação preconceituosa, pois classifica uma cultura como inferior a outra e resume a história de diversos povos que viviam na Europa como uma só história. De qualquer forma, o estudo desse período é extremamente importante, para podermos entender diversos aspectos da história do mundo ocidental. Roma, Ocidente e Oriente A Idade Média tem como marcos de seu começo e seu fim duas datas que se referem ao Império Romano. Seu início é marcado pela tomada de Roma pelos germanos: a derrubada do Império Romano do Ocidente ocorreu no ano de 476. O fim da era medieval é dado pelo ataque de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, tomada pelos turcos em 1453. Alta e Baixa Idade Média Para compreender melhor esse vasto período, costuma usar-se uma subdivisão temporal entre Alta e Baixa Idade Média. A Alta Idade Média é o primeiro momento, quando ocorreu formação de diversas sociedades na Europa e se passou entre os séculos 5 e 10. Foi nesse período que se formaram os feudos, estabeleceram-se as relações de suserania e vassalagem, e o poder da Igreja Católica constituiu-se e fortaleceu-se. Já o período da Baixa Idade Média, sua segunda e última fase, foi aproximadamente do século 10 ao século 15. A partir dessa época, novas idéias e novas práticas foram surgindo e houve um processo de decadência das instituições feudais, que se formaram ao longo dos cinco séculos anteriores. Idéias equivocadas sobre a Idade Média No entanto, mais do que pensar em auge e decadência, nascimento e morte de uma época, é importante entender que todos os aspectos que formaram o pensamento e as práticas medievais estão longe de representar um cenário único, um panorama unitário. A idéia de Idade Média desde de muito tempo esteve associada a atraso, a uma época de "trevas" no conhecimento, de pouca liberdade e de restrita circulação de idéias.   
            Embora essa concepção não esteja totalmente errada, de maneira nenhuma podemos imaginar que foi somente isso que ocorreu no continente europeu durante os 1.000 anos de duração do período medieval. Por que não podemos dizer que a Idade Média foi uma época só de atraso para os povos europeus? Porque, embora impregnada pela mentalidade religiosa, a cultura floresceu, como comprova a arquitetura da época, com suas grandes catedrais. Da mesma maneira, no interior da Igreja, diversos pensadores se esforçaram para conciliar a religião cristã com a filosofia grega, em especial a de Aristóteles. Ao mesmo tempo, assentando-se sobre a organização social e jurídica do antigo Império Romano, a Igreja contribuiu para civilizar as tribos e reinos bárbaros. Ao mesmo tempo, se é fato que durante a Alta Idade Média a economia esteve praticamente centrada na agricultura, isso ocorria porque os feudos produziam grande parte dos produtos que necessitavam consumir e a circulação de pessoas era restrita numa Europa povoada por fortificações isoladas uma da outra. No entanto, nem sempre esse cenário correspondeu à Europa inteira.  Além dos feudos Assim, nem todas as relações sociais e de produção estavam concentradas nos feudos, com os senhores e servos. A partir do século 10, os povos que não se encaixavam nesse esquema, que viviam de outras atividades, como comércio e negócios, começaram a morar no entorno dos feudos, nas áreas de passagem e de feiras. Enfim, não podemos mais continuar repetindo que a Idade Média (séculos 5 a 15) seja um período "de trevas", de falta de conhecimento e de opressão contra os povos. Repetir isso é complicado porque estaremos concordando com os artistas renascentistas, os "modernos", que tinham uma visão preconceituosa sobre o período medieval. Na verdade, a própria Idade Moderna (a partir do século xv) foi conseqüência de muitas conquistas medievais, como o renascimento comercial da Europa (século xI), obtido principalmente devido a ação das Cruzadas (séculos XI e XIII). 


 
                                 Cruzadas 


                Igreja promove expedições militares para conquistar Jerusalém Gravura medieval mostra cerco aos muçulmanos na cidade de Antioquia Entender o que foram as Cruzadas não é difícil se partirmos inicialmente do entendimento de seu próprio nome. Seu nome deriva da palavra "cruz", que indica o martírio de Jesus Cristo, carregando-a e sendo nela pregado, até morrer de maneira lenta e dolorosa. Durante a Idade Média, a Igreja transformou a cruz no símbolo do cristianismo. Assim, as Cruzadas foram expedições organizadas pela Igreja para levar o cristianismo para outros povos, que não seguiam essa religião. No entanto, para impor essa cruz, ou a fé em Cristo, para ou praticantes de outras religiões, não adiantava usar somente a palavra. Para povos que oferecessem resistência, a palavra seria de pouca serventia. Assim, a força armada era o principal elemento dessas expedições, que se denominavam também de "Guerra Santa". A principal justificativa das Cruzadas foi reconquistar territórios perdidos para os inimigos da fé católica, ao mesmo tempo trazendo novos povos e regiões ao domínio da Igreja. Assim, a primeira Cruzada partiu em 1096 para Jerusalém, no Oriente Médio, região do nascimento de Jesus, considerado lugar sagrado pelos cristãos. "Infiéis" na Terra Santa Jerusalém havia sido dominada pelos turcos, que eram praticantes do Islamismo e proibiram a presença cristã na chamada "Terra Santa". Essa primeira Cruzada durou três anos: percorreu grande parte do continente europeu e, atravessando parte do mar Mediterrâneo, chegou a Jerusalém por terra. Ao longo de mais de 200 anos, entre os séculos XI e XIII, foram realizadas oito Cruzadas. A mais longa durou seis anos e a mais curta, apenas um.   
No decorrer desse período, as Cruzadas foram desfazendo o isolamento em que a Europa se metera na Alta Idade Média, e reativando cada vez mais o trânsito por mar, chegando, inclusive, a retomar o contato com o continente africano. Essas expedições em busca de novas terras atraíam milhares de pessoas. Havia um forte elemento religioso que motivava essas pessoas a virarem os "soldados de Deus". Ao atribuir às Cruzadas o caráter de "Guerra Santa" e considerá-las sagradas, a Igreja católica prometia aos seus soldados um lugar no Paraíso, depois de sua morte. Mas, além da justificativa religiosa, o interesse econômico de atacar outros povos, invadir suas cidades e saquear suas riquezas, era certamente algo interessante para os cavaleiros que marchavam nas Cruzadas. Uma Cruzada paralela Assim, mais do que empreendimentos exclusivamente espirituais, as Cruzadas foram financiadas tanto pela Igreja, como pelos nobres e por ricos comerciantes, como um negócio ou investimento. Por outro lado, uma legião de miseráveis acabou se juntando à primeira delas, e compôs uma Cruzada paralela, não oficial, que chegou a ser condenada pelo Papa. Isso ocorreu entre 1096 e 1099. Assim, essa primeira expedição oficial que rumava para Jerusalém, a fim de reconquistar a terra ocupada pelos turcos, foi copiada por uma expedição de pobres e miseráveis, que também queria seu lugar no céu, bem como riquezas na Terra. No entanto, essa "Cruzada paralela", organizada por Pedro, o Eremita, que conseguiu juntar 50 mil fiéis, foi aniquilada ao chegar em Constantinopla. Já a Cruzada oficial, financiada pela nobreza e comandada por Godofredo de Bouillon, contou com 100 mil homens soldados e terminou com um final feliz para os cruzados: eles conseguiram não só reconquistar Jerusalém, como também a tomar a terra dos turcos. Saladino e Ricardo Coração de Leão Quase 50 anos depois, Jerusalém foi reconquistada pelos turcos e a Igreja teve nova justificativa para empreender uma outra Cruzada. Assim, entre 1147 e 1149, ocorreu a Segunda Cruzada, financiada por nobres franceses e germânicos. No entanto, essa campanha resultou num grande fracasso para os europeus. Quatro décadas se passaram, quando se resolveu empreender mais uma expedição militar à Terra Santa, que, dessa vez, estava sob o domínio de um sultão árabe, Saladino. Essa Terceira Cruzada, ocorrida entre 1189 e 1192, mais do que ter financiamento dos nobres, teve a presença dos reis de três dos principais reinos daquele período: da França, com Felipe Augusto; da Inglaterra, com Ricardo Coração de Leão, e do reino germânico, com Frederico Barba Ruiva. Apesar disso, a expedição também foi derrotada militarmente. O Barba Ruiva morreu antes de chegar ao campo de combate, ainda que Ricardo Coração de Leão tenha conseguido um acordo com Saladino, o que permitiu aos cristãos pelo menos o direito de rezarem desarmados em Jerusalém. Venezianos e crianças As demais Cruzadas não foram expressivas pelo sucesso de sua missão religiosa, mas por outros motivos. Assim, a Quarta Cruzada, realizada entre 1201 e 1204, que foi financiada pelos comerciantes de Veneza, trouxe grandes benefícios a seus organizadores, pois submeteu povos da Grécia e os bizantinos aos tratados comerciais venezianos. Em 1212, houve uma Cruzada bastante curiosa, não reconhecida pela Igreja católica, organizada por um menino de 12 anos, chamado Estevão de Cloyes. Este garoto conseguiu juntar com ele mais 30 mil jovens, que acreditavam que o Mar Mediterrâneo se abriria para eles chegarem até o Oriente Médio. Muitos comerciantes e proprietários de navios se interessaram por essa Cruzada, prometendo transportar as crianças para a Terra Santa. Na verdade, o que fizeram foi vendê-los como escravos nas cidades pelas quais passavam. As últimas Cruzadas Todas as outras Cruzadas foram fracassos militares: tanto a Quinta, organizada entre 1217 e 1221, quanto a Sexta, realizada entre 1228 e 1229. Esta última foi condenada pelo Papa, pois seu líder, Frederico 2º, Imperador do Sacro Império Germânico passou por cima da autoridade papal, fazendo acordos diplomáticos com os egípcios. Finalmente, com quase 30 anos de distância uma da outra, a Sétima e a Oitava Cruzadas foram realizadas pelo rei francês Luiz 9º. Este rei, tratado com um santo pela Igreja católica, foi feito prisioneiro pelos seus inimigos durante a Sétima Cruzada (que durou 6 anos, entre 1248 a 1254). Na Oitava e última Cruzada, que durou apenas um ano, em 1270, o final da expedição foi ainda pior. A maior parte dos cruzados, inclusive Luiz 9º, acabou morrendo de peste antes de chegar à Terra Santa. Como pudemos ver, as Cruzadas envolveram interesses e crenças de diversos grupos sociais da Idade Média. Pobres, vagabundos, crianças sem perspectiva; nobres poderosos, influentes reis em busca de expansão de seus poderes; ricos comerciantes dispostos a estabelecerem novas rotas de comércio. Todos essas pessoas, com seus projetos e intenções fizeram parte das expedições religiosas e armadas, idealizadas pela Igreja católica para ampliar o domínio do cristianismo no mundo.




         Gil Vicente teve diversas farsas e comédias proibidas pela Inquisição portuguesa Pouco se sabe sobre a vida de Gil Vicente, autor de Auto da Barca do Inferno. Ele teria nascido por volta de 1465, em Guimarães ou em outro lugar na região da Beira. Casado duas vezes, teve cinco filhos, incluindo Paula e Luís Vicente, que organizou a primeira compilação das suas obras. No início do século 16, há referência a um Gil Vicente na corte, participando dos torneios poéticos. Em documentos da época, aparece outro Gil Vicente, ourives, a quem é atribuída a Custódia de Belém (1506), recipiente para exposição de hóstias feita com mais de 500 peças de ouro puro. Há ainda mais um Gil Vicente que foi "mestre da balança" da Casa da Moeda. Alguns autores defendem, sem provas, que os três seriam a mesma pessoa, embora a identificação do dramaturgo com o ourives seja mais viável, dada a abundância de termos técnicos de ourivesaria nos seus autos. Ao longo de mais de três décadas, Gil Vicente foi um dos principais animadores dos serões da corte, escrevendo, encenando e até representando mais de quarenta autos. O primeiro deles, o "Monólogo do Vaqueiro" (ou "Auto da Visitação"), data de 1502 e foi escrito e representado pelo próprio Gil Vicente na câmara da rainha, para comemorar o nascimento do príncipe dom João, futuro rei dom João 3o. O último, "Floresta de Enganos", foi escrito em 1536, ano que se presume seja o da sua morte. 


         O "Auto da Sibila Cassandra", escrito em 1513, introduz os deuses pagãos na trama e por isso é considerado por alguns como o marco inicial do Renascimento em Portugal. Alguns dos autos foram impressos sob a forma de folhetos e a primeira edição do conjunto das obras foi feita em 1562, organizada por Luís Vicente. Dessa primeira compilação não constam três dos autos escritos por Gil Vicente, provavelmente por terem sido proibidos pela Inquisição. Aliás, o índice dos livros proibidos, de 1551, incluía sete obras do autor. Gil Vicente foi considerado um autor de transição entre a Idade Média e o Renascimento. A estrutura das suas peças e muitos dos temas tratados foram desenvolvidos a partir do teatro medieval, defendendo, por exemplo, valores religiosos. No entanto, alguns apontam já para uma concepção humanista, assumindo posições críticas. Em 1531, em carta ao rei, Gil Vicente defendeu os cristãos-novos, a quem tinha sido atribuída a responsabilidade pelo terremoto de Santarém. Também no "Auto da Índia" apresentou uma visão antiépica da expansão ultramarina. Gil Vicente classificou suas peças dividindo-as em três grupos: obras de devoção, farsas e comédias. Seu filho, Luís Vicente acrescentou um quarto gênero, a tragicomédia. 

 
        Estudiosos recentes preferem considerar os seguintes tipos: autos de moralidade, autos cavaleirescos e pastoris, farsas, e alegorias de temas profanos. No entanto, é preciso lembrar que, por vezes, na mesma peça encontramos elementos característicos de vários desses gêneros. Gil Vicente vai muito além daquilo que, antes dele, se fazia em Portugal. Revela um gênio dramático capaz de encontrar soluções técnicas à medida das necessidades. Nesse sentido, ele pode ser encarado como o verdadeiro criador do teatro nacional. Por outro lado, a dimensão e a riqueza da sua obra constituem um retrato vivo da sociedade portuguesa, nas primeiras décadas do século 16, onde estão presentes todas as classes sociais, com os seus traços específicos, seus vícios e suas preocupações. Também no aspecto lingüístico o valor documental da sua obra é inestimável e constitui uma grande fonte de informação sobre o início do século 16 em Portugal. Feudalismo Servidão, impostos, taxas, suserania e vassalagem Camponeses trabalham na terra do senhor feudal Estudar o feudalismo é conhecer a fundo o modo como viviam as pessoas no período medieval. O feudalismo pode ser definido como um modo de produção, ou seja, a forma pela qual as pessoas faziam produtos necessários à sua sobrevivência.     Também é entendido como um sistema de organização social, estabelecendo como as pessoas se relacionavam entre si e o lugar que cada uma delas deveria ocupar na comunidade. O feudalismo consolidou-se a partir do século 8 e teve seu período de maior desenvolvimento até o século 10. Depois disso, esse modelo de sociedade ainda sobreviveu em alguns reinos europeus até o século 15, no final da Idade Média. Mas, para entendermos como ele surgiu, é necessário voltarmos ao próprio início da época medieval.  O fim do Império Romano O marco do início da Idade Média foi a desagregação do Império romano do Ocidente, sediado em Roma, no século 5. Esse Império estava passando por sucessivas crises econômicas, devido à falta de escravos, e seu prestígio político declinava, devido a seu enfraquecimento militar e às invasões de povos bárbaros aos seus domínios. Isolamento e proteção dos feudos Assim, povos como os germanos (do Norte da Europa), os hunos (da Ásia), os vândalos (da África), além de húngaros e vikings (da Europa oriental) estavam atacando diversos pontos dos domínios romanos. Em 476, Odoacro, rei de um desses povos invasores, derrubou o imperador de Roma. A partir de então, os diversos povos, antes conquistados por Roma, passaram a se organizar em reinos, condados e povoados isolados, para se protegerem dos ataques dos estrangeiros. Esse isolamento também se estendia à área econômica, levando-os a manter basicamente uma produção para consumo próprio. A população mais pobre, que vivia de trabalhos no campo, passou a submeter-se aos interesses dos poderosos de uma região, em troca de proteção contra esses ataques externos. Poder, no caso, significava a posse de armas e o comando de soldados. O estabelecimento dessa proteção dos mais poderosos aos pobres, em troca da lealdade, foi adotada pelos povos germanos, que foram dominando grande parte do extinto Império romano do ocidente. Com o passar dos séculos, os camponeses foram se tornando cada vez mais dependentes desses senhores. Assim, os trabalhadores do campo, além de entregarem os produtos que cultivavam aos seus protetores, passaram a dar-lhes suas terras e oferecerem seus serviços para outras atividades. Com isso, grande parte dos camponeses tornaram-se servos. Servidão: uma escravidão mais branda A servidão era uma espécie de escravidão mais branda, pois, ainda que os servos não fossem vendidos, estavam obrigados por toda a vida a entregarem produtos e prestarem serviços a seus senhores. Além disso, não eram proprietários das terras em que trabalhavam, pois estas lhes eram "emprestadas" pelos senhores. A servidão era transmitida dos pais para os filhos, assim como os títulos de nobreza também eram hereditários. Por sua vez, os nobres poderosos eram os chamados senhores feudais. Tinham esse nome em função do tipo de propriedade que possuíam, os feudos. Estes eram extensas propriedades de terras, mantidas isoladas para garantir a proteção das pessoas que ali viviam dos ataques de inimigos externos. Essas unidades eram supridas com uma produção de alimentos quase auto-suficiente, ou seja, produzida pelos próprios moradores, na medida de suas necessidades de consumo. No plano dessas relações servis, havia diversos tipos de impostos que os servos tinham que pagar aos seus senhores, incluindo também os serviços que prestavam a eles. Desse modo, no manso senhorial - que eram as terras do feudo de uso do senhor e representavam um terço da área total - os servos tinham que trabalhar vários dias por semana, numa prática chamada de corvéia. Impostos e taxas do feudo No manso servil - que eram as terras pertencentes ao feudo, de uso dos camponeses, mas não de sua propriedade - parte do que era produzido ia para o senhor feudal. Essa taxa ficou conhecida como talha. Como os senhores feudais não deixavam escapar nenhuma oportunidade de cobrança de taxas ou impostos, os servos também pagavam a banalidade, um imposto pelo uso dos fornos e moinhos que o senhor controlava. Havia também um pagamento relativo ao número de servos que moravam nos feudos, e era cobrado individualmente, "por cabeça" (ou em latim per capita): era a capitação. Por fim, o imposto da mão morta é uma demonstração cabal de até onde podia chegar a exploração dos senhores feudais sobre os servos, pois, além de herdar a servidão dos pais, quando estes morriam, os filhos ainda deveriam pagar mais essa taxa, para continuarem servindo ao mesmo senhor. Mas não eram somente servos e senhores feudais que viviam em função dos feudos. Havia também homens livres e vilões (moradores de vilas, ou pequenas povoações). Estes eram pessoas pobres, que, para terem direito de plantar e colher em suas terras, trabalhavam também no manso senhorial, pagando ao senhor a corvéia. Suserania e vassalagem Os vilões e homens livres contribuíam com um outro imposto, o censo, baseado no número de indivíduos que compunham essa população livre. A novidade do censo é que ele era o único pago em dinheiro, já que todos os outros tributos consistiam em serviços ou produtos agrários. Isso evidencia o quanto era pequena a circulação de moedas na Europa, durante esse período. Por fim, além do aspecto econômico dessas relações sociais, havia também práticas políticas e simbólicas dentro da sociedade medieval. Assim, os acordos entre os mais e os menos poderosos chamavam-se suserania e vassalagem. Dessa forma, os pobres tornavam-se vassalos dos senhores, que, por sua vez, eram chamados de suseranos. Essas relações de proteção e lealdade também ocorriam dentro da nobreza, quando um nobre mais pobre se tornava vassalo de um senhor mais rico e de maior prestígio. Havia vários ritos entre os nobres para celebrar esse pacto de fidelidade. No momento da assinatura do termo de doação de terras ou concessão de favores do suserano (senhor mais rico) ao vassalo (senhor mais pobre) um beijo entre os dois poderia selar o acordo, além de o vassalo ajoelhar-se perante o suserano. Podia-se receber também a investidura, que era um ramo de folhas ou outro objeto entregue pelo suserano ao vassalo. As investiduras funcionavam como símbolo das terras que a eles estavam sendo concedidas. Roma antiga - Introdução De Rômulo e Remo à República e ao Império Símbolo do poder: Senatus Populus Que Romanus (O Senado e o Povo Romano)


               Para entender como Roma conseguiu adquirir tanta importância e poder é necessário conhecer sua história em mais detalhes.



     A origem da sociedade romana não tem uma evidência concreta. Baseia-se numa lenda, que era uma maneira antiga de explicar fatos cuja memória se perdeu em tempos muito distantes. Assim, o poeta romano Virgílio alimentou a fantasia de seu povo ao contar que Roma teria sido fundada por dois irmãos: Rômulo e Remo. Os dois haviam sido abandonados pelo pai ao nascer e só sobreviveram por terem sido alimentados por uma loba. O fato é que os irmãos cresceram, vingaram-se do pai e receberam a missão de fundar uma cidade no local onde foram encontrados pelo animal. Essa lenda criou também a data exata do "nascimento" de Roma: os irmãos teriam fundado a cidade em 753 a.C. O próprio nome dessa localidade derivou do nome um deles (Rômulo), que acabou matando seu irmão Remo devido a disputas políticas. Como se pode ver, a origem de Roma foi inventada através de uma história que misturava o instinto animal (simbolizado pela loba que amamentou os irmãos), com o nascimento de algo novo (a cidade fundada num lugar deserto), retornando aos instintos agressivos no final (simbolizados na rivalidade entre os irmãos e no assassinato de um deles). Assim, essa origem imaginada serviu para os vários imperadores que a governaram justificarem o caráter agressivo e conquistador dessa sociedade romana. Patrícios e plebeus Se não temos dados concretos sobre sua fundação, podemos começar a contar a história de Roma, a partir da monarquia (753 a 509 a.C.). Nesse período, o meio de subsistência principal daquele povo era a agricultura. A sociedade romana dividia-se em quatro grupos, segundo a posição política, econômica e social de cada pessoa: havia patrícios, plebeus, clientes e escravos. A palavra "patrício" (do latim pater, pai) indicava o chefe da grande unidade familiar ou clã. Esses chefes, os patrícios, seriam descendentes dos fundadores lendários de Roma e possuíam as principais e maiores terras. Eles formavam a aristocracia, sendo que somente esse grupo tinha direitos políticos em Roma e formava, portanto, o governo. Já os plebeus eram descendentes de populações imigrantes, vindas principalmente de outras regiões da península Itálica, ou fruto dos contatos e conquistas romanas. Dedicavam-se ao comércio e ao artesanato. Eram livres, mas não tinham direitos políticos: não podiam participar do governo e estavam proibidos de casar com patrícios. Num outro patamar, vinham os clientes, também forasteiros, que trabalhavam diretamente para os patrícios, numa relação de proteção e submissão econômica. Assim, mantinham com os patrícios laços de clientela, que eram considerados sagrados, além de hereditários, ou seja, passados de pai para filho. Por fim, os escravos, que inicialmente eram aqueles que não podiam pagar suas dívidas e, portanto, tinham que se sujeitar ao trabalho forçado para sobreviver. Depois, com as guerras de conquista, a prisão dos vencidos gerou novos escravos, que acabaram se tornando a maioria da população. República e expansão As conquistas aos outros povos e regiões trouxeram o crescimento das atividades comerciais e das negociações em moeda. A riqueza se concentrou ainda mais nas mãos dos patrícios, que se apropriavam das novas terras. Isso tudo dividiu profundamente a sociedade romana entre ricos (aristocratas) e pobres (plebeus), além da grande massa de escravos que ia se formando. Também os membros do exército, enriquecidos pelas conquistas e saques, tornaram-se uma importante camada social. A expansão romana iniciou-se na República (509 a 27 a.C.), por meio das lutas contra os povos vizinhos para obterem escravos (séculos. 5 a 3 a.C.). Depois disso, expandiu-se para a Grécia (séc. 3 a.C.), Cartago (cidade africana que controlava o comércio marítimo no Mediterrâneo) e Macedônia (com a conquista da Grécia, havia formado um grande império), sendo estas duas cidades conquistadas no séc. 2 a.C. Na seqüência, o Egito, a Britânia (que corresponde aproximadamente à atual Grã-Bretanha) e algumas regiões da Europa e da Ásia foram conquistados no séc. 1 d.C. Desde sua origem, Roma fora governada por reis. Um deles foi expulso por tirania em 509 a.C. e o governo da República se estabeleceu, propondo uma nova divisão de poderes entre o Senado, os Magistrados e as Assembléias. Com as conquistas militares de novos territórios, os generais do Exército acumularam muitos poderes políticos e para deterem as revoltas dos povos dominados, resolveram concentrar o poder. Júlio César era um general que havia conquistado a Gália em 60 a.C. Depois disso, deu um golpe em Roma, atacando-a no ano de 49 a.C. e proclamando-se ditador perpétuo (ou seja, governaria com poderes ilimitados até a sua morte). Foi nesse mesmo ano que conseguiu dominar o Egito. No entanto, nem ele nem seu governo tiveram vida longa: foi assassinado pelos próprios romanos em 44 a.C. O Império Romano Com a morte de Júlio César, três líderes políticos governariam juntos. Um deles, Otávio, derrotou os outros e foi o primeiro imperador romano em 31 a.C., recebendo do Senado os títulos de Princeps (primeiro cidadão), Augustus (divino) e Imperator (supremo). Passou para a história com o nome de Augusto, embora essa denominação acompanhasse todos os imperadores que o sucederam. Roma teve 16 imperadores entre os séculos 1 e 3 d.C. A partir daí, começou a desagregação do Império e o descontrole por parte de Roma dos povos dominados. Entre os séculos 3 e 4 d.C., o imperador Dioclesiano dividiu o Império Romano numa parte ocidental e noutra oriental. Constantino, o imperador seguinte, tomou duas importantes medidas: reunificou seus domínios, tornando a capital do Império Romano Bizâncio (depois chamada de Constantinopla e, hoje, Istambul, na Turquia), localizada na parte oriental dos domínios romanos e legalizou a prática do cristianismo. Finalmente, Teodósio, um dos últimos imperadores, tornou o cristianismo religião oficial de todo o Império e dividiu-o novamente em duas partes, sendo as capitais Roma e Constantinopla. A primeira foi dominada pelos povos germanos em 476 e marcou o fim do Império Romano do Ocidente. A segunda foi dominada em 1453 pelos turcos e marcou o fim do Império Romano do Oriente. Quadro sintético História de Roma Períodos Datas Monarquia de 753 a.C. (data tradicional da fundação de Roma) a 509 a.C. (derrota dos Tarqüínios). República de 509 a.C. (proclamação da República) a 27 a.C. (Otaviano recebe o Senado o título de Augusto) Império de 27 a.C. a 476 d.C. (queda do Império romano do Ocidente)