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tindo a proposta de mudança do Código Florestal ; Antártica ,A internacionalização do Mundo (sobre internacionação da Amazônia)

A internacionalização do Mundo (sobre internacionação da Amazônia)

Cristovam Buarque*

Durante debate em uma Universidade, nos Estados Unidos, fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha.

De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.

Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade.

Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da Humanidade.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza especifica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o pais onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.

(*) Cristovam Buarque, doutor em economia e professor do Departamento de Economia da UnB (Universidade de Brasília), foi governador do Distrito Federal pelo PT (1995-98). Autor, entre outras obras, de “A Segunda Abolição” (editora Paz e Terra).

Notas:
Este artigo foi publicado no Globo e no Correio Brasiliense, no final de 2000. O fato em si ocorreu em Setembro de 2000 em Nova York, durante o State of The World Forum.











Como interpretar os Mosaicos de
Imagens do Satélite Landsat


 
As imagens Landsat-TM e ETM, na composição das bandas 5, 4 e 3 respectivamente, apresentam uma semelhança bastante grande com as cores verdadeiras da paisagem ou com os resultados de uma fotografia colorida. Entretanto, para alguém não especializado no uso de imagens de satélite, pode ser difícil a identificação de determinados alvos ou áreas de interesse. Para ajudar na interpretação e no uso dos mosaicos de imagens realizados pela Embrapa apresentam-se, a seguir, alguns padrões básicos e didáticos de cores, texturas e formas.
  • As florestas tropicais densas aparecem com diferentes tonalidades de verde (desde o verde escuro até tons mais amarelados), apresentando padrões texturais lisos ou rugosos, dependendo da uniformidade do dossel. É o padrão que domina nos mosaicos do Amazonas, Pará e no norte do Mato Grosso, bem como em remanescentes florestais na região do Bico do Papagaio no Tocantins, no noroeste do Maranhão, na Região Sul da Bahia e na Serra do Mar em São Paulo.
  • Os reflorestamentos apresentam padrões de cor mais escuros e textura mais lisa do que as áreas de florestas naturais, devido à sua composição florística e seu dossel extremamente uniforme e contínuo, como nos casos existentes no Amapá, Maranhão, Tocantins e Espírito Santo.
  • Tipos de florestas: diferentes tonalidades de verde também podem indicar mudanças na composição florística e estrutural em áreas inalteradas (florestas densas, florestas inundáveis e tabocais), como pode ser observado na região oeste do Estado do Acre (florestas com bambús, próximas à Boca do Acre) e norte do Amazonas (florestas com palmeiras, matas de cipó etc.), na região da Cabeça do Cachorro, norte do Pará e em quase todo o Estado do Maranhão (transições entre florestas densas e caducifólias, transições para cerradão e caatinga).
  • Remanescentes florestais podem aparecer como "ilhas verdes" (parques, áreas indígenas) em áreas parcialmente ou bastante degradadas como na região bragantina no Pará, na região central do Estado do Tocantins, ao longo da Transamazônica, no oeste do Maranhão, no Parque Nacional do Araripe, na Serra Negra em Pernambuco, ou no Parque Estadual do Morro do Diabo em São Paulo, por exemplo.
  • No caso das florestas e formações inundáveis, as tonalidades podem ser bastante escuras, em função da presença de grande quantidade de água. Na região do Pantanal, no sul do Mato Grosso e norte do Mato Grosso do Sul, por exemplo, tem um padrão bem típico desses casos, mas diferenciado dos campos inundáveis de Roraima. O mesmo observa-se nos campos abertos de várzea ao longo do rio Demene no Estado do Amazonas e na ilha do Marajó, marcados por diferentes tonalidades de vermelho e marrom.
  • Áreas desmatadas, solos preparados para o plantio e culturas em estágio precoce de desenvolvimento apresentam diferentes tonalidades de rosa e vermelho e formas geométricas muito regulares, como, por exemplo, ao longo das rodovias BR-364 em Rondônia, Cuiabá-Santarém ou ainda na Chapada dos Parecis no Mato Grosso, no vale do Tocantins, no norte de Minas Gerais, no oeste da Bahia, norte do Paraná e no sudoeste de Goiás.
  • Solo nu: na ausência de verde (de vegetação), a natureza do substrato também contribui na cor, como na região leste do Tocantins a área do Jalapão. Ali, as areias quartzosas e arenitos marcam a imagem com tonalidades cinzas e brancas. Padrões idênticos ocorrem em ilhas fluviais, paleodunas e paleodeltas interiores, como na região do rio Demene no Amazonas. O mesmo ocorre em áreas de mineração, como Carajás, no Pará. No Rio Grande do Norte as áreas de solo nu, em substrato cristalino, aparecem em diferentes tonalidades de rosa.
  • Cerrados, campo cerrado e cerradão: essa unidade apresenta um padrão textural com menos rugosidade do que as áreas florestais, como no Parque Nacional de Brasília. Boa parte do ano apresenta-se, marcadamente, com uma tonalidade rósea a avermelhada. Emerge nitidamente no norte do Pará na região de Tiriós, no sul do Amazonas na região de Humaitá, no oeste do Estado de Mato Grosso, na região central do Maranhão e principalmente em grande parte dos Estados do Tocantins e Piauí. Tende a se confundir com pastagens. A intensificação do uso pecuário dos cerrados, dificulta separar o que na origem era um cerrado e hoje apresenta-se como campo cerrado etc. Em geral, são áreas amplamente ocupadas com atividades agro-silvo-pastoris, como nas áreas de campos e lavrados de Roraima.
  • Culturas intensificadas, áreas irrigadas e pastagens de alta produtividade aparecem com uma tonalidade verde claro, bem luminoso, indicador de uma grande atividade fotossintética. Nesses casos, a forma e a regularidade dos polígonos é um bom indicativo do tipo de cobertura, como no caso do projeto de irrigação do Rio Formoso no Tocantins ou os círculos delimitados pelos pivôs de irrigação no Estado do Tocantins, Estado do Mato Grosso, Estado do Maranhão, Estado da Bahia, Estado de Pernambuco, Estado de São Paulo e Estado de Minas Gerais, por exemplo.
  • Grandes culturas mecanizadas e áreas desmatadas apresentam padrões lineares e formas geométricas bem definidas, contrastantes com seu entorno, como no caso dos plantios de soja e algodão na Chapada dos Parecis ou da colonização agrícola em Alta Floresta no norte do Mato Grosso e ainda nas grandes áreas de pecuária no sudeste do Pará e leste do Mato Grosso. O mesmo ocorre com a soja, na região de Balsas no Maranhão.
  • Afloramentos rochosos (arenitos na Serra do Aracá) e pães de açúcar do norte do Amazonas, por exemplo e áreas de cobertura vegetal com marcada influência da sazonalidade (cerrados e região semi-árida), também apresentam padrões avermelhados nas estações secas, como nos limites do Maranhão com o Piauí, Sertão do Ceará e da Paraíba. A forma é um bom parâmetro para decisão entre estas classes e as do item anterior, além dos critérios de contexto.
  • Mangues e ecossistemas costeiros: uma tonalidade verde escuro, bastante acentuada, marca a vegetação dos manguezais, facilmente identificáveis na zona costeira do Pará, Amapá e Bahia. Outros ecossistemas apresentam padrões análogos aos do solo nu (tonalidades róseas e brancas): restingas e áreas de avanço e recuo das marés (como no golfão maranhense e na ilha de Marajó) ou dunas de areia (Lençóis Maranhenses, Delta do Parnaíba, Piauí, Ceará, Alagoas e Santa Catarina).
  • Cidades e aglomerações urbanas também aparecem em rosa e avermelhadas. Em geral é possível identificar (dependendo da escala) a rugosidade ou a regularidade dos quarteirôess e ruas, com um alinhamento ortogonal etc., como no caso das capitais: Aracajú, Belém, Brasília, Porto Alegre, São Paulo etc.
  • Rios, lagos, represas e açudes (Tucuruí, Balbina, Samuel, Barra Bonita) variam em tonalidades que vão do preto e azul escuro (águas claras onde a luz do sol penetra e não é quase refletida), como no Tapajós, no Rio Negro, e na Lagoa de Araruama, até o azul e azul claro, em função do aumento de material em suspensão (argilas ou poluição) como no Rio Solimões ou a Lagoa dos Patos no Rio Grande do Sul. Devido à carga elétrica diferenciada essas águas demoram para misturarem-se e produzem o fenômeno do encontro das águas, como na formação do Rio Amazonas, à juzante de Manaus. Os açudes aparecem geralmente como pequenos pontos pretos nas imagens, como no caso do sudoeste do Rio Grande do Norte e no Rio Grande do Sul.
  • Áreas queimadas aparecem em preto ou em tonalidades muito escuras. Estão geralmente associadas aos cerrados no Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia e região do Tiriós no Pará ou a campos abertos de várzeas ou vegetações análogas como na Ilha do Bananal. Quando a queimada é praticada por atividade agrícola sua forma tende a apresentar um padrão mais regular. Em casos de queimadas descontroladas e em pastagens extensivas, as manchas apresentam uma forma bastante variável e irregular (queimadas em áreas de cerrado são facilmente identificáveis) como nas enormes superfícies queimadas anualmente nas áreas indígenas dos Tiriós (norte do Pará), da Ilha do Bananal no Tocantins e da Chapada dos Parecis no Mato Grosso, por exemplo.
  • Nuvens aparecem em branco, como pequenos flocos de algodão. Geralmente, há uma mancha preta ao lado, correspondendo à sombra da nuvem, na superfície terrestre (Pernambuco e Bahia). Nos mosaicos buscou-se ao máximo a eliminação das nuvens, através da seleção e composição das imagens. Quando são mais azuladas, tratam-se de plumas de fumaça de queimadas, em geral, próximas á frentes de fogo ativas.
  • Estradas são identificadas, geralmente, por desmatamentos que ocorrem em seu entorno, gerando uma superfície alterada de maiores dimensões (rosa ou avermelhada) e evidenciando seu traçado como na rodovia Cuiabá-Santarém, na rodovia Transamazônica, na rodovia BR-364 etc.
  • Salinas: Dependendo do volume de água e da concentração de sais, aparecem em tons azulados contrastando fortemente com o seu entorno, como no caso do Rio Grande do Norte (exemplo 1 e exemplo 2).




09/09/2011
DENGUE - DOENÇA PROVENIENTE DE PROBLEMAS AMBIENTAIS: O CASO DO JARDIM DOS PIONEIROS, NO MUNICÍPIO DE RONDONÓPOLIS – MT
Os problemas ambientais vêm desencadeando uma série de doenças, dentre as quais está a dengue. Diante disso, esta pesquisa tem por objetivo identificar os problemas ambientais que provocam o aparecimento desse tipo de doença, verificando a [...]

DENGUE - DOENÇA PROVENIENTE DE PROBLEMAS AMBIENTAIS: O CASO DO JARDIM DOS PIONEIROS, NO MUNICÍPIO DE RONDONÓPOLIS – MT.

Maria Helena de Almeida Luciano
Bióloga
E-mail: hidrotec1@terra.com.br

Marcio Koetz
Professor Doutor do curso de Engenharia Agrícola e Ambiental – Universidade Federal de Mato Grosso/Campus Rondonópolis
E-mail: marciokoetz@yahoo.com.br


RESUMO
Os problemas ambientais vêm desencadeando uma série de doenças, dentre as quais está a dengue. Diante disso, esta pesquisa tem por objetivo identificar os problemas ambientais que provocam o aparecimento desse tipo de doença, verificando a incidência dessa enfermidade no Jardim dos Pioneiros, no município de Rondonópolis – MT, no período de outubro de 2009 a março de 2010. Para isso, optou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica, com aplicação de questionário para moradores do bairro em estudo e também coleta de informações junto à Secretaria Municipal de Saúde. Foi possível verificar que o bairro apresenta alguns problemas ambientais que contribuem para a proliferação do mosquito da dengue e que cerca de 9% dos moradores entrevistados já contraíram a doença, tendo até mesmo casos de Febre Hemorrágica da Dengue. Apesar de a Secretaria de Saúde desenvolver ações de combate à doença, ainda se faz necessário uma mudança de atitude da população no que se refere à eliminação dos problemas ambientais que oportunizam a proliferação do mosquito.

Palavras-chave: dengue; problemas ambientais; saúde.



INTRODUÇÃO
Os problemas ambientais têm aumentado frequentemente, causando sérios prejuízos à sociedade, em todos os lugares, quer seja no Brasil, como em outros países também.
Atualmente, vêm se discutindo as conseqüências ocorridas em relação aos problemas ambientais. Temos presenciado, aqui mesmo no Brasil, enchentes deslizamentos, tremores, chuvas cada vez mais frequentes, secas que castigam o Norte e o Nordeste do país, isso nada mais é do que a resposta dada pela Mãe Natureza.
Essas conseqüências trazem consigo várias doenças, e, dentre elas, a temida dengue. Uma das causas do surgimento dessas doenças é o desmatamento, pois o homem invade o habitat natural e, consequentemente, os animais invadem as cidades também, deixando a população cada vez mais apreensiva e preocupada. O mosquito Aedes Aegypt tem encontrado nas cidades um local perfeito para sua proliferação, pois as mudanças no perímetro urbano têm favorecido esse processo.
O aquecimento global, juntamente com o efeito estufa, além, é claro, dos danos causados ao meio ambiente também tem facilitado o surgimento do mosquito da dengue, pois as chuvas e a elevação do clima favorecem cada vez mais o aparecimento desse tipo de doença.
A Dengue é considerada uma doença essencialmente tropical, transmitida através da picada das fêmeas dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Essa enfermidade pode ser considerada um dos principais problemas de saúde pública no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) é possível que entre 50 a 100 milhões de pessoas sejam infectadas anualmente, em mais de 100 países, de todos os continentes, exceto a Europa.                
A proliferação do mosquito transmissor ocorre dentro ou nas proximidades de habitações, em qualquer coleção de água limpa, como caixas d'água, cisternas, latas, pneus, cacos de vidro, vasos de plantas, entre outros. Essa realidade, como já foi dito, é decorrente de problemas ambientais que contribuem de forma significativa para o aparecimento desse tipo de enfermidade.
Como a maioria da população não se preocupa em jogar o lixo em locais adequados, tampar caixas d’água, retirar qualquer objeto que venha reter água limpa, o mosquito se prolifera rapidamente e, após picar uma pessoa contaminada acaba transmitindo a doença a outras pessoas.
Em Rondonópolis os casos de dengue estão aumentando a cada ano e a incidência da dengue hemorrágica tem causado espanto em toda a população. Diante desta realidade, a presente pesquisa tem como objetivo geral identificar os problemas ambientais que provocam o aparecimento desse tipo de doença, verificando a incidência dessa enfermidade no Jardim dos Pioneiros, no município de Rondonópolis – MT, no período de outubro de 2009 a março de 2010.
Os objetivos específicos foram assim definidos: compreender o que é a dengue, formas de transmissão, estágios da doença, tratamento e prevenção;                                                                                                                                                     relacionar os problemas ambientais causadores da contaminação da dengue; detectar os principais fatores que proporcionam o aumento da incidência da dengue no Jardim dos Pioneiros; conscientizar a população do Jardim dos Pioneiros da necessidade de mudar seus hábitos para diminuir a incidência da doença na região.
O trabalho está organizado em capítulos nos quais constam o referencial teórico sobre a dengue, enfocando as causas e conseqüências da doença, as formas de proliferação do mosquito e os problemas ambientais que contribuem para o aparecimento da mesma. Em seguida, estão os métodos e técnicas utilizados para o desenvolvimento do estudo. Também serão apresentados os resultados e discussão dos dados coletados na pesquisa e as considerações finais.



METODOLOGIA
O presente estudo foi desenvolvido através de uma pesquisa bibliográfica, que pode ser considerada como sendo aquela desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Conforme Lakatos e Marconi (2005, p. 185) a pesquisa bibliográfica:
Abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografia, teses, material cartográfico etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferencias seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas.
Em outras palavras, esse tipo de pesquisa pode ser definida como a que explica um problema a partir de referenciais teóricos publicados em documentos. Pode ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou experimental.
O método utilizado foi o estatístico, que implica em números, percentuais, análises estatísticas, probabilidades. Quase sempre associado à pesquisa quantitativa. Para Fachin (2001, p. 46),
Este método se fundamenta nos conjuntos de procedimentos apoiados na teoria da amostragem e, como tal, é indispensável no estudo de certos aspectos da realidade social em que se pretenda medir o grau de correlação entre dois ou mais fenômenos.
O procedimento da coleta de dados ocorreu por meio de questionários com perguntas diretas e de observações.
Segundo Lakatos e Marconi (2005, p. 203), “questionário é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito com ou sem a presença do entrevistador”.
Gil conceitua o questionário como sendo:
Técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas (GIL, 1999, p.128).
Nesse sentido, as questões foram formuladas com objetivo de investigar a incidência da dengue no Jardim dos Pioneiros, no período de outubro de 2009 a março de 2010. Também buscou-se através do questionário saber de que forma o poder público tem trabalhado em prol da erradicação da dengue no local, assim como verificar os problemas ambientais que contribuem para a proliferação do mosquito.
Quanto à observação, ela é entendida como uma das técnicas relevantes para obterem-se informações mais precisas, pois permite que o pesquisador conviva com certo tempo com o ambiente em estudo.
Segundo Gil (1999, p. 76) uma observação é considerada científica, quando preenche determinadas condições: “ter um objeto [...] definido, ser planejada e registrada sistematicamente, estas observações devem ser comprovadas quanto a sua validez e confiabilidade”.
Na presente pesquisa, foram aplicados 50 questionários para os moradores do Jardim dos Pioneiros, em Rondonópolis – MT, para verificar a incidência da dengue nessa população no período de outubro de 2009 a março de 2010. Também foi feita uma visita à Secretaria Municipal de Saúde para coletar informações sobre os registros dessa doença no município, assim como as ações que têm sido desenvolvidas em prol da erradicação dessa enfermidade.
O bairro Jardim dos Pioneiros é um dos bairros mais antigos de Rondonópolis e está situado na região central (Figura 1).

Mapa 1 – Localização do Jardim Pioneiros.


Para realização da pesquisa, foram escolhidas, de forma aleatória, 05 casas em 10 ruas do bairro, conforme mostra o Mapa 2.

Mapa 2 – Ruas do Jardim Pioneiros onde foram aplicados os questionários.



Convém comentar que durante a aplicação do questionário buscamos observar as casas e as ruas do bairro, objetivando encontrar possíveis pontos favoráveis de proliferação do mosquito, conforme será descrito nos resultados e discussão.


RESULTADOS E DISCUSSÃO


Neste capítulo será feita a apresentação dos dados obtidos no estudo através de gráficos e a discussão dos resultados.
Os casos de dengue vêm aumentando consideravelmente no Estado de Mato Grosso e no município de Rondonópolis essa realidade não é diferente. De acordo com registros da Secretaria Municipal de Saúde, nossa cidade vem registrando um aumento cada vez mais significativo nos casos de dengue. Dados apontam que no período de 2005 a 2009, os anos em que mais houve notificações foram 2006 e 2009, sendo que em 2006 foram 1742 notificações, com 389 casos confirmados e em 2009 foram 2645 notificações, com 1502 casos confirmados, conforme aponta o Gráfico 1.

Gráfico 1 – Série Histórica da Dengue em Rondonópolis (2005-2009).

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Rondonópolis.


Convém comentar que em 2005 houve um surto de dengue em Rondonópolis e em 2009 o município voltou a apresentar índices altíssimos da doença, conforme afirma Albuquerque (2009, p. 1):

Depois de um surto de dengue no ano de 2005, nesse ano Rondonópolis volta a apresentar altíssimos índices da doença. Desde o início do ano até a sexta-feira passada (16), já foram registradas 837 casos de dengue de todos os tipos, contra 42 casos confirmados durante todo o ano de 2008.  Do início do ano até sexta-feira (16) passada foram registrados 807 casos de dengue clássica; nove de dengue com complicações; e, 21 de dengue hemorrágica. Ocorreram ainda nesse ano, dois óbitos por dengue hemorrágica. Foram descartados 760 casos e 28 ficaram sem conclusão após realização do exame, ou seja, não foi possível identificar se houve realmente ou não dengue.
Já no período em estudo, que vai de outubro de 2009 a março de 2010, a Secretaria Municipal de Saúde informou as seguintes notificações: outubro - 104 casos; novembro – 220 casos; dezembro – 582 casos; janeiro – 1348 casos; fevereiro – 905 casos; março – 375 casos (Gráfico 2).

Gráfico 2 – Casos de dengue notificados no período de outubro de 2009 a março de 2010.

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Rondonópolis.

Observando os dados é possível notar que nos meses de dezembro a março há um acréscimo no número de casos de dengue. Isso ocorre devido a um maior volume de chuva e, consequentemente, de águas empossadas nos quintais, pneus velhos, terrenos baldios, garrafas vazias, caixas d’água destampadas, lixo em geral, conforme foi comentado no referencial teórico da pesquisa.
Na pesquisa realizada no Jardim dos Pioneiros, num primeiro momento, buscamos saber o número de pessoas residentes nas casas para, então, termos uma noção do índice de contaminação no bairro. Em 27 das 50 casas pesquisadas, residem de 1 a 3 pessoas e em 23 casas residem de 4 a 6 pessoas, totalizando aproximadamente 200 pessoas, conforme mostra o Gráfico 3.

Gráfico 3 – Número de pessoas residentes nas casas pesquisadas do Jardim dos Pioneiros.

Fonte: Dados da Pesquisa.


Quanto à incidência da dengue no bairro, foi constatado que, no período de outubro de 2009 a março de 2010, 19 pessoas disseram ter sido infectadas pela doença, ou seja, 9% da população entrevistada, conforme mostra o Gráfico 4.
No entanto, através das informações fornecidas pela Secretaria Municipal de Saúde consta apenas um caso de dengue no Jardim dos Pioneiros, o que indica que os índices seriam maiores se a população fosse consciente e comunicasse à Secretaria os casos da doença.

Gráfico 4 – Incidência da dengue no Jardim dos Pioneiros.

Fonte: Dados da pesquisa.


É válido comentar que 95 % das pessoas infectadas disseram ter realizado o exame para confirmar a doença.
Desses casos, 12 pessoas foram hospitalizadas, ou seja, 63% das pessoas infectadas, e 05 casos (25 %) foram confirmados com dengue hemorrágica, sendo que nenhuma pessoa foi a óbito em decorrência da doença, conforme aponta os Gráficos 5 e 6.

Gráfico 5 – Casos de dengue que precisaram de internação.

Fonte: Dados da pesquisa.


Gráfico 6 – Incidência da Febre Hemorrágica da Dengue no Jardim dos Pioneiros.

Fonte: Dados da pesquisa.


Convém comentar que o bairro é todo asfaltado, possui rede de esgoto, poucos terrenos baldios e casas em construção, na verdade, como já foi dito, é um bairro antigo, a coleta de lixo é feita, no mínimo duas vezes por semana, o fornecimento de água é diário, por isso quase não é necessário o armazenamento de água em recipientes, porém, mesmo assim ainda é possível encontrar grande quantidade de garrafas, latas e plásticos nas residências e nas ruas.
No município de Rondonópolis, no período pesquisado houve 175 casos de internação em decorrência da dengue clássica e 31 casos de internação por Febre Hemorrágica da Dengue, como mostra o Gráfico 7.

Gráfico 7 – Internações em Rondonópolis em decorrência da dengue.

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Rondonópolis.


Convém comentar que, no mesmo período, foram registrados 77 casos da Febre Hemorrágica da dengue, sendo que em outubro não houve nenhum caso confirmado; em novembro houve 6; em dezembro 12; em janeiro 34; em fevereiro 20; e em março 5, como pode ser visto no Gráfico 8.



A Dengue Hemorrágica é uma doença grave e se caracteriza por alterações da coagulação sanguínea da pessoa infectada. Inicialmente se assemelha a Dengue Clássica, mas, após o terceiro ou quarto dia de evolução da doença surgem hemorragias em virtude do sangramento de pequenos vasos na pelo e nos órgãos internos. A Dengue Hemorrágica pode provocar hemorragias nasais, gengivais, urinárias, gastrointestinais ou uterinas. Na Dengue Hemorrágica, assim que os sintomas de febre acabam a pressão arterial do doente cai, o que pode gerar tontura, queda e choque. Se a doença não for tratada com rapidez, pode levar à morte (TEIXEIRA et al, 1999, p. 12).

Gráfico 8 – Incidência da Febre Hemorrágica da Dengue em Rondonópolis.

Fonte: Dados da pesquisa.


Mais uma vez é possível observar que no período de dezembro a fevereiro a incidência da doença é maior, pois com o aumento das chuvas e a falta de cuidados da população o ambiente torna-se propício para a proliferação do mosquito da dengue e a conseqüente contaminação da população.
Essa realidade também pode ser notada a nível de Estado, pois a Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso divulgou que somente no ano de 2010, no período de janeiro a maio, foram notificados 36.405 casos da doença. Desse total, 876 foram notificados como casos graves da doença. Sendo que 45 casos foram a óbito, destes, 31 casos foram confirmados e 14 casos estão sob investigação (Assessoria SES/MT, 2010).
Em se tratando dos problemas ambientais que contribuem para a proliferação do mosquito da dengue, a população participante da pesquisa apontou que no Jardim dos Pioneiros os problemas mais evidentes são: lixo nas ruas, água empossada, terrenos baldios sujos, lixo nos quintais, entre outros (falta de cuidado de vizinhos, animais nas ruas, bueiros abertos, lixo no rio, esgoto a céu aberto e queimadas). A incidência destes problemas pode ser observada no Gráfico 9.

Gráfico 9 – Problemas ambientais no Jardim dos Pioneiros que contribuem para o aparecimento da dengue. Fonte: Dados da pesquisa.


Algumas medidas devem ser adotadas para se evitar que o mosquito da Dengue se prolifere, observe:


·     Evitar água parada.
·     Sempre que possível, esvaziar e escovar as paredes internas de recipientes que acumulam água.
·     Manter totalmente fechadas cisternas, caixas d'água e reservatórios provisórios tais como tambores e barris.
·     Furar pneus e guardá-los em locais protegidos das chuvas.
·     Guardar latas e garrafas emborcadas para não reter água.
·     Limpar periodicamente, calhas de telhados, marquises e rebaixos de banheiros e cozinhas, não permitindo o acúmulo de água.
·     Jogar quinzenalmente desinfetante nos ralos externos das edificações e nos internos pouco utilizados.
·     Drenar terrenos onde ocorra formação de poças.
·     Não acumular latas, pneus e garrafas.
·     Encher com areia ou pó de pedra poços desativados ou depressões de terreno.
·     Manter fossas sépticas em perfeito estado de conservação e funcionamento.
·     Colocar peixes barrigudinhos em charcos, lagoa ou água que não possa ser drenada.
·     Não despejar lixo em valas, valetas, margens de córregos e riachos, mantendo-os desobstruídos.
·     Manter permanentemente secos, subsolos e garagens.
·     Não cultivar plantas aquáticas (Disponível em: http://www.apromac.org.br/dengue.htm).

Os agentes ambientais também detectam esses problemas nas residências quando fazem a visita periódica de conscientização contra a dengue. Eles afirmam que os ambientes em que há maior proliferação do mosquito da dengue são: vasilhames, bebedouros de animais e garrafas pet, conforme informado pela Secretaria Municipal de Saúde.
Também, durante a visita, foi possível observar que 20% das residências tinham caixas d’água destampadas, vasilhas plásticas e vasos com plantas com água acumulada. Apesar de não ser alto esse índice é interessante observar, como mostra o Gráfico 10.

Gráfico 10 – Índice de residências com fontes de proliferação para o mosquito da dengue.

Fonte: Dados da pesquisa.


Sabemos que qualquer local que possa juntar água limpa e parada é um foco do mosquito Aedes Aegypti, assim o perigo maior está nas casas. “Calcula-se que 90% dos focos do mosquito sejam domésticos” (FREITAS, 2008, p. 1).
Para modificar essa realidade algumas medidas devem ser tomadas pelos moradores, observe:
Coloque areia no prato das plantas ou troque a água uma vez por semana. Mas não basta esvaziar o recipiente. É preciso esfregá-lo, para retirar os ovos do mosquito depositados na superfície da parede interna, pouco acima do nível da água. O mesmo vale para qualquer recipiente com água. Pneus velhos devem ser furados e guardados com cobertura ou recolhidos pela limpeza pública. Garrafas pet e outros recipientes vazios também devem ser entregues à limpeza pública.Vasos e baldes vazios devem ser colocados de boca para baixo. Limpe diariamente as cubas de bebedouros de água mineral e de água comum. Seque as áreas que acumulem águas de chuva. Tampe as caixas d’água (FREITAS, 2008, p. 1).
A Secretaria Municipal de Saúde desenvolve ações todos os anos no combate a dengue, dentre as quais estão: a atualização do Plano Municipal de Contingência da Dengue; Integração com a Vigilância Epidemiológica e Laboratório Central que está repassando cópia das notificações assim que chegam das unidades de saúde; Agilidade na atualização e alimentação do Sinan-NET; Capacitação para médicos e enfermeiros para seguirem as normas técnicas para dengue, enfatizando a prova laço; Acompanhamento e investigação dos casos suspeitos de FHD; Envio de amostras ao MT-Laboratório para isolamento viral; Aumento da equipe de bloqueio químico de 1 (uma) para 5 (cinco); Contratação de ASA para atuarem nas áreas cobertas; Prioridade no bloqueio químico vetorial em localidades que registram as primeiras notificações positivas; Mutirão setorizado com os agentes, em localidades que registraram mais de 5 notificações positivas, nas últimas 3 semanas; Mutirão Municipal em parceria com todas as Secretarias, dando ênfase dengue e leishmaniose (coleta de lixo e limpeza de terreno baldio).
Estas são algumas das ações que a Secretaria Municipal de Saúde vem desenvolvendo para combater a dengue em nosso município, mas é preciso que a população se conscientize e faça a sua parte, só assim será possível erradicar a doença.


CONCLUSÃO


Através da pesquisa desenvolvida foi possível observar que os problemas ambientais contribuem de forma considerável para o aparecimento de doenças, dentre as quais se destaca a dengue.
O melhor método para se combater essa doença é evitando a procriação do mosquito, que ocorre em ambientes úmidos em água parada, seja ela limpa ou suja.
No bairro Jardim dos Pioneiros, onde foi desenvolvida a pesquisa, foi observado que algumas pessoas ainda deixam de cumprir seu papel de cidadãs e acabam contribuindo para a criação de locais propícios para a proliferação do mosquito da dengue.
Apesar do bom nível de informação dos moradores do bairro e da visita de agentes de saúde, falta a conscientização por parte dos mesmos em controlar a infestação do mosquito.
Com base nos dados obtidos e analisados, verificou-se que os problemas ambientais são os maiores causadores para a proliferação do mosquito da dengue.
Dessa forma, ainda se faz necessário o desenvolvimento de campanhas de conscientização, com divulgação dos índices de contaminação e mortes em decorrência da doença para ver se as pessoas mudam de atitude e deixam de lado os hábitos que contribuem para a degradação ambiental e conseqüente aparecimento de doenças, como a dengue. 
Enquanto a população achar que as questões ambientais são de responsabilidade dos outros e não mudar seu comportamento as doenças provenientes de problemas ambientais continuarão a aparecer e, a cada ano, mais pessoas serão infectadas pelo mosquito da dengue, podendo até mesmo perder suas vidas, sendo que pequenos hábitos poderiam reverter essa situação.

 

REFERÊNCIAS



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FERRI, Mário Guimarães. Ecologia geral. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.


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LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005.


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SÁ, Rodrigo Aparecido de Melo. O ambiente e a proliferação do mosquito transmissor da dengue em Rondonópolis – MT. UFMT. Monografia de Graduação, 2006.


SÍLVIA, I. G. da et al. Distribuição de Aedes Aegypti em Goiânia. In: Revista Patologia Tropical. Goiânia. UFG. 20, 1-5, 1991.


TAVARES, Antônio Carlos. Geografia, Meio Ambiente e sociedade. VL. 13, 1988.
Umidade do ar já registra índice preocupante na região Sul de Mato Grosso. Disponível em: http://www.sonoticias.com.br/mostra.php?id=71718 Acesso em: 22/06/2010.


TEIXEIRA, M. G.; BARRETO, M. L.; GUERRA, Z. Epidemiologia e Medidas de Prevenção do Dengue. Informe Epidemiológico do SUS, 1999.





























    Antártica


         A Antártica está situada na região polar austral e tem grande parte do seu território localizada no círculo polar antártico. O continente é cercado pelo oceano Antártico, formado pelo encontro das águas dos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, a chamada Confluência Antártica. Divide-se em duas partes, a Antártica Oriental, com área maior e totalmente coberta por gelo, e a Antártica Ocidental, constituída por um arquipélago de ilhas montanhosas.

     O continente representa quase 10% da área continental do planeta e 98% de seu território está coberto por gelo e neve, com espessura que varia de 2.000 a 4.800 metros. A região concentra 90% da água doce do planeta. Se todo esse gelo derretesse, o nível dos mares subiria 60 metros.

A proximidade do território brasileiro faz com que a Antártica seja importante estrategicamente para o País. Para isso, o Ministério de Ciência e Tecnologia mantém programas de pesquisas na região. Desde 1975, o Brasil é membro consultivo do Tratado Antártico, que rege as atividades científicas relacionadas ao continente.

Em 1982 foi criado o Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Gerenciado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), realiza atividades de pesquisa para compreender os fenômenos ambientais que ocorrem naquela área e suas influências globais, especialmente sobre o território brasileiro.

Fonte:
Ministério de Ciência e Tecnologia


























 Por do sol














   Costa da Antártica. 

Costa da









Icebergs na costa da Antártica. Alguns Icebergs que se desprendem da costa do continente podem chegar a 100km de extensão. Eles navegam pelos oceanos seguindo as forças do vento e correntes marinhas.


                                                                                   
Pinguins reúnem-se em um iceberg.








 Orca nas águas geladas da Antártica.








Iceberg na costa do Canadá.


Canal LeMaire entre a ilha Booth e a Península Antártica.


















Excursão de trenós na Passagem Noroeste, Canadá. O nome deve-se à busca por exploradores que, no século 16 em diante, buscavam uma passagem noroeste para a Índia.










                                                                                 
Luta entre ursos polares.






 

 

 

 

 

 

Meio Ambiente

Amazônia

03/09/2010 16:48 - Portal Brasil

Ministério da Ciência e Tecnologia Brasil busca soluções para desenvolvimento sustentável da Amazônia 
  • Brasil busca soluções para desenvolvimento sustentável da Amazônia

          A Amazônia possui seis milhões de quilômetros quadrados, que correspondem a aproximadamente 40% do território da América do Sul. O ecossistema concentra cerca de 20% da água doce do mundo e 1/3 das reservas florestais da Terra, distribuídas pelo Brasil, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana, Guiana Francesa, Bolívia, Peru e Equador. No Brasil, a chamada Amazônia Legal abrange nove estados brasileiros e cobre cerca de 60% do território nacional. Ao todo, a vegetação ocupa 3,58 milhões de quilômetros quadrados.

Para preservar a riqueza natural e promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia, o governo mantém ações na região. Dentro do Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional estão iniciativas para gerar conhecimento e inovação com base na riqueza da biodiversidade da região. Também é prioridade a articulação das atividades das Secretarias de Ciência e Tecnologia dos Estados da Amazônia com as de instituições de pesquisa e ensino que atuam na região e a formação e fixação de recursos humanos.

Mudanças de usos da terra, como a substituição em grande escala das florestas por pastagens ou campos agrícolas, reduzem as taxas de evaporação e a condensação de nuvens, com grande potencial de modificação do regime de chuvas. A região passa atualmente por um processo de intenso dinamismo para o desenvolvimento das matrizes nacionais de produção agrícola e energética. Essas ações estratégicas devem ser implantadas não só no Brasil, mas nos chamados “países amazônicos”, que carregam a responsabilidade de preservar a biodiversidade da floresta e permitir a desenvolvimento sustentável em benefício à sociedade.

Fonte:
Ministério da Ciência e Tecnologia 















Especiais 


Impactos do Código Florestal são analisados


4/8/2010


Por Fabio Reynol


      Agência FAPESP – Impactos potenciais da revisão no Código Florestal, em tramitação no Congresso Nacional, na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos foram debatidos por pesquisadores de diversas áreas do conhecimento nesta terça-feira (3/8), em evento organizado pelo programa Biota-FAPESP, na sede da Fundação.


      Carlos Alfredo Joly, coordenador do Biota-FAPESP e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), abriu o encontro lamentando a falta de participação da comunidade científica nas discussões sobre as alterações no atual Código Florestal – que preveem, por exemplo, reduções significativas nas áreas de preservação permanentes (APP) e anistia a desmatamentos feitos até 2008.


“Essa nossa crítica foi destacada em uma carta assinada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), as duas maiores representantes da comunidade científica”, disse Joly. As duas entidades deverão ampliar as discussões sobre o assunto por meio de um grupo de trabalho.


      Ricardo Ribeiro Rodrigues, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), que coordenou o encontro junto com Joly, ressaltou que a proposta de revisão do código ensina importantes lições à comunidade científica, entre elas a importância de tomar iniciativas de mudanças antes que outros o façam.


“O Código Florestal atual vigora desde 1965 e nós [pesquisadores] não tínhamos nos preocupado em atualizá-lo até hoje”, disse Rodrigues, ressaltando a importância da pesquisa científica para sustentar políticas públicas.


      Na parte da manhã, cientistas apresentaram os impactos que grupos taxonômicos específicos poderiam sofrer no caso de ser aprovada a proposta do novo código aprovada pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados.


     Os palestrantes foram convidados a usar suas apresentações como ponto de partida para artigos científicos, que serão submetidos para publicação na próxima edição da revista Biota Neotropica.


     Lilian Casatti, professora do campus de São José do Rio Preto da Universidade Estadual Paulista (Unesp), falou sobre possíveis impactos aos peixes. Um dos principais problemas da proposta de revisão do código, segundo ela, seria a redução na largura das matas ripárias – que acompanham os cursos d’água – de 30 metros para 15 metros em riachos e ribeirões com menos de 5 metros de largura.


       De acordo com a pesquisadora, isso afetaria a ictiofauna em vários aspectos. Sem a cobertura vegetal ciliar os peixes estariam mais expostos à luz solar. Espécies que possuem larvas sensíveis à radiação ultravioleta seriam reduzidas. Peixes que utilizam a identificação visual para selecionar parceiros também seriam prejudicados e várias cadeias tróficas seriam irremediavelmente alteradas.


“Muitos peixes se alimentam de determinados insetos que, por sua vez, alimentam-se de certas folhas dessas matas. Há estudos apontando que, com menos matas, os peixes perdem biomassa. causando perdas genéticas e até de espécies”, disse.


      A perda da cobertura vegetal ripária também causaria o aumento na turbidez dos rios devido ao assoreamento, o qual também provocaria a entrada de poluentes no curso d’água.


      Um dos maiores prejuízos seria a extinção de diversas espécies de peixes. Estudos realizados no Estado de São Paulo mostram que o maior número de espécies está concentrado em pequenos córregos. No Estado, foram encontradas 344 espécies – do total de 2.587 peixes brasileiros de água doce – e 66 estão ameaçadas, sendo que 45 vivem em pequenos ambientes.


“Essas espécies vivem em apenas 10 metros quadrados, em média, durante toda a vida”, disse Lilian, para ilustrar que até perdas de pequenas porções de vegetação natural podem resultar no desaparecimento de diversos táxons.


      Segundo a professora da Unesp, os pequenos cursos d’água guardam uma grande diversidade genética que estaria ameaçada após as mudanças no Código Florestal. A região de São José dos Dourados (SP), estudada por Lilian, possui 4 mil quilômetros de pequenos rios enquanto que o rio principal tem apenas 220 quilômetros.


“Nessa região, entre 61% a 78% dos córregos já estão cercados pela plantação de cana-de-açúcar, eles não podem se dar ao luxo de ter mais áreas reduzidas”, afirmou.


Problemas agravados


Felipe Toledo, do Museu de Zoologia da Unicamp, falou sobre os possíveis impactos em anfíbios. Habitantes da água, dos biomas terrestres e das áreas de transição entre ambos, os anfíbios seriam um dos grupos mais afetados pela redução das matas ripárias.


“Em todo o mundo, os anfíbios formam o grupo mais ameaçado da natureza, com 32,5% das espécies sob risco”, disse. Bastante sensíveis às alterações ambientais, os anfíbios já são afetados pelos efeitos das mudanças climáticas globais, que secam trechos de riachos e lagos,expondo ovas a predadores e intempéries.


Por respirar através da pele, o grupo também tem sentido os efeitos do uso de defensivos agrícolas, sendo registrados muitos casos de má formação de sapos e rãs que os tornam presas fáceis de predadores. Todos esses problemas seriam agravados com a aprovação das mudanças no Código Florestal, segundo Toledo.


       Como agravante, muitos anfíbios dependem de espécies específicas de plantas para se reproduzir. Alguns só se acasalam em bromélias, outros em certos tipos de bambus e uma espécie de rã depende de plantas com folhas dobráveis para o acasalamento. A perda desses vegetais poderia também representar o desaparecimento dos anfíbios que deles dependem.


      Os impactos potenciais nos répteis foi apresentado por Otávio Marques, pesquisador do Instituto Butantan. O grupo taxonômico tem 20% de suas espécies sob ameaça de extinção em todo o planeta e a maior causa disso seria a perda dos habitats, o que seria agravado com a aprovação da proposta que está no Congresso.


“O atual código também erra ao permitir a compensação de uma área desmatada com a preservação de outra área dentro do mesmo bioma. Uma espécie que habita um local pode não viver em outro”, afirmou.


      Sob o ponto de vista econômico, o país perde com a perda da biodiversidade. Anfíbios e répteis fornecem moléculas complexas que podem ser aplicadas em fármacos. “O anti-hipertensivo desenvolvido a partir do veneno da jararaca rende US$ 5 bilhões ao laboratório que o criou”, exemplificou Marques.


     A ausência de anfíbios e peixes provocaria um aumento nas populações de insetos, representando um aumento de doenças na população e de pragas na agricultura, resultando em maior necessidade de agrotóxicos.


     Novas doenças surgiriam no gado originadas pela perda do habitat de cervos, segundo apontou Mauro Galetti, professor do campus de Rio Claro da Unesp, que analisou os efeitos potenciais da revisão do Código Florestal sobre os mamíferos.


       A proximidade do gado com os cervos que perdem seus ambientes provoca trocas de doenças entre as duas espécies. Boa parte dos mamíferos prefere viver próximos a matas ripárias e, de acordo com Galetti, a redução dessas matas exporia os animais a predadores, a caçadores e a acidentes como atropelamentos.


       O ornitólogo Pedro Ferreira Develey, da Save Brasil, apontou que muitas aves dependem de pequenas ilhas de vegetação nativa, sendo que várias espécies não saem dessas matas. “Elas tem fotofobia e estão acostumadas a viver na sombra, por isso não saem para áreas abertas”, disse.


       O Brasil tem 17 de suas espécies de aves ameaçadas de extinção habitando matas ripárias, por isso, reduzir esses biomas poderia ser o golpe de misericórdia para algumas delas, destacou Develey.


       Vera Fonseca, professora do Instituto de Biologia da USP, falou sobre possíveis consequências para abelhas da proposta de revisão do código . “Responsáveis pela polinização de boa parte da produção agrícola brasileira, o desaparecimento de espécies desses insetos seria um desastre para inúmeras culturas, como o maracujá, o açaí, o cupuaçu e a castanha-do-pará”, disse.


        Giselda Durigan, do Instituto Florestal, falou sobre o Cerrado, onde estão localizadas as principais bacias hidrográficas do Brasil. O bioma, ao mesmo tempo, é considerado o celeiro do país, por concentrar boa parte da produção agrícola nacional. A cientista narrou os esforços de se recuperar a vegetação nativa do Cerrado, em muitos casos impossível, devido ao alto nível de degradação do solo.


       José Galizia Tundisi, do campus de São Carlos da USP, falou sobre os impactos hídricos que a redução de cobertura vegetal nativa prevista no novo código poderia trazer.


“Reduzir as matas ciliares que agem como tampões de proteção atingiria diretamente a qualidade das águas, aumentaria a toxicidade, reduziria ainda mais o nível dos rios por causa de assoreamento e encheria a água de sedimentos, aumentando o custo do tratamento”, disse.


        Segundo Tundisi, na região do Baixo Cotia, em São Paulo, por exemplo, o custo para tratar mil metros cúbicos de água é de cerca de R$ 300. Em comparação, o tratamento da mesma quantidade em uma cidade que possui rios com proteção de matas ciliares em seus mananciais cai para R$ 2.


       A própria agricultura seria prejudicada. “Aumentar a área agrícola reduzindo a mata ciliar reduzirá a água disponível. É um tiro no próprio pé”, disse.


Conservação com expansão


        Sérgius Gandolfi, da Esalq-USP, previu um apagão hídrico e citou como exemplo a usina hidrelétrica de Assis Chateaubriand, no Mato Grosso do Sul, que viu seu reservatório desaparecer por causa dos danos causados aos pequenos rios que o abasteciam.


      Gandolfi também criticou vários aspectos da proposta de revisão do Código Florestal, como a previsão de concessão de incentivos aos produtores rurais à guisa de incentivo ao reflorestamento.


“Isso é o mesmo que fazer o governo pagar para que industriais instalem filtros em suas fábricas. No Estado de São Paulo são 324.601 propriedades rurais, se o governo gastar R$ 10 para cada uma, serão mais de R$ 3 milhões em dinheiro público gastos para pagar uma obrigação dos produtores”, comparou.


       O pesquisador também chamou a atenção para uma alteração que reduz ainda mais a área preservada. A versão atual do Código Florestal considera a margem do rio no período de cheia, chamado de leito maior. Entre as alterações previstas na revisão está a medição das margens a partir do leito menor, quando o rio está mais baixo.


“O assoreamento atingiria principalmente os rios mais frágeis, ou seja, os menores, que são cerca de 90% dos rios do país”, disse Gandolfi.


         Rodrigues apresentou o programa desenvolvido na Esalq-USP de adequação ambientais de propriedades rurais. Sua equipe encontrou diversas propriedades com possibilidade de aumentar a área agrícola sem ferir o atual Código Florestal. “Não estão usando toda a área a que têm direito para plantar”, disse.


“Esse projeto de lei [a revisão do Código Florestal] veio em um momento muito ruim, pois vários proprietários rurais já estavam se conscientizando sobre a importância de cumprir o código atual”, disse Rodrigues, ressaltando que aqueles que se comprometeram a recuperar as áreas vigentes serão punidos com as alterações no código.


       Geld Sparovek, também da Esalq-USP, explicou por que a conservação ambiental não impede a expansão das fronteiras agrícolas, apresentando vários estudos que mostram possibilidades de crescimento da área plantada sem atingir a vegetação a ser preservada.


Novo debate e alternativas


       Nos encaminhamentos finais do encontro, os participantes decidiram que os sumários das apresentações serão encaminhados ao grupo de trabalho, organizado pela SBPC e ABC, que vem discutindo a proposta de mudança do Código Florestal.


       Os palestrantes também se comprometeram a participar de uma segunda reunião, quando será apresentado um documento executivo que proponha alternativas.


       Os pesquisadores concordam que é preciso rever e atualizar o Código Florestal Brasileiro, pois nas últimas décadas aumentou consideravelmente o conhecimento científico tanto em termos da biodiversidade brasileira como em termos da biologia da conservação, ecologia da paisagem e serviços ecossistêmicos.


“Portanto, o país tem condições transformar esse conhecimento em políticas públicas, como fez o Programa Biota-FAPESP aqui no Estado de São Paulo. Na avaliação dos pesquisadores, o substitutivo aprovado pela Comissão Especial do Câmara dos Deputados vai na contra mão do avanço do conhecimento, representando um grande retrocesso na legislação ambiental brasileira caso venha a ser aprovado pelo Congresso Nacional”, afirmou Joly.


     Outra proposta – que ainda será avaliada – será a organização de um debate com representantes da comunidade científica, políticos e jornalistas do país e do exterior. “O objetivo é tornar o debate público e mais acessível a toda a sociedade, pois mais de 80% da população brasileira vive em cidades e talvez não tenha condições de avaliar adequadamente as consequências das alterações propostas no Código Florestal”, disse.


“A reunião foi excelente pela qualidade das apresentações. Os pesquisadores já estavam preocupados com os aspectos salientados, eles já estavam trabalhando com essas questões há tempos. Isso demonstra uma consistência muito grande entre pesquisadores de diferentes áreas. Vamos reunir essas informações em um documento que sintetize o que foi apresentado para que, com ele, possamos abrir espaço para uma discussão mais ampla com lideranças do Congresso Nacional”, disse Joly.








 1. MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Gilvan Sampaio de Oliveira
Carlos Afonso Nobre

INTRODUÇÃO

   As influências do homem no equilíbrio natural do planeta preocupam. As
mudanças climáticas antropogênicas estão associadas às atividades humanas
com o aumento da poluição, de queimadas, com o desmatamento, a
formação de ilhas de calor etc. A partir do final do século XIX e no século
XX há aumento significativo da produção industrial e da quantidade de
poluentes na atmosfera, sobretudo nos últimos 70 anos, e da quantidade
dos chamados gases estufa na atmosfera, tais como o dióxido de carbono
(CO2), o metano (CH4) e os óxidos de nitrogênio (NOx) e, portanto, a
intensificação do efeito estufa. Com isso, há também um crescente aumento
da temperatura média, o chamado aquecimento global. A década de 1990
foi a mais quente do milênio, e o ano de 2005 foi o mais quente já registrado
por métodos diretos de medida. As projeções do IPCC em 2007 indicam
para o final deste século aumento da temperatura média global entre 1,8 °C
e 4,0 °C e aumento do nível médio do mar entre 0,18 m e 0,59 m, o que pode
afetar significativamente as atividades humanas e os ecossistemas terrestres.
O segundo e terceiro relatórios de mudanças climáticas do IPCC (1996,
2001) demonstraram que o aquecimento global tem alta probabilidade de
ser causado pelas emissões antrópicas de gases de efeito estufa. Já o quarto
relatório (2007) aponta para a influência do homem como o responsável
pelo aquecimento global. O gradual aquecimento provoca maior dinâmica
atmosférica, acelerando os ciclos hidrológico e de energia na atmosfera, que
consequentemente podem afetar a frequência e a intensidade de eventos
climáticos extremos. Tanto as mudanças médias do clima quanto o possível
aumento da frequência dos extremos poderiam ampliar a instabilidade dos
ecossistemas e acelerar as taxas naturais de extinção de espécies.
16
Sendo assim, é crucial entendermos quais são os impactos do
aquecimento global nas atividades humanas e nos ecossistemas para que seja
estabelecido maior nível de atenção e para a mitigação das consequências,
uma vez que a mudança do clima não é mito, não é moda: é uma realidade.
A FÍSICA DO EFEITO ESTUFA
E MUDANÇAS CLIMÁTICAS NATURAIS
O clima da Terra é determinado por diversos fatores tanto internos quanto
externos. Podemos citar como fatores externos, por exemplo, a inclinação do
eixo da Terra em relação ao Sol e a sua órbita . Existem ainda fatores internos,
tais como a distribuição dos continentes, a disponibilidade de fontes de
umidade, relevo, vegetação etc.
A composição do ar seco da atmosfera terrestre é de cerca de: 78%
de nitrogênio, 21% de oxigênio, 0,93% de argônio, 0,037% de dióxido
de carbono e demais gases com menor concentração, como neônio,
hélio, metano, kriptônio, hidrogênio, ozônio etc. O nitrogênio e o oxigênio
ocupam até 99% do volume do ar seco e limpo. A maior parte do restante
1% é ocupada pelo gás inerte argônio. Embora esses elementos sejam
abundantes, têm pouca influência sobre os fenômenos do tempo. A influência
de um gás ou aerossol atmosférico (partícula em suspensão na atmosfera,
como por exemplo, poeira, pólen etc., em estado líquido ou sólido) não está
relacionada a sua abundância relativa. Por exemplo, o dióxido de carbono, o
vapor d’água, o ozônio e os aerossóis ocorrem em pequenas concentrações,
mas são decisivos para os fenômenos meteorológicos e para a vida. Por
exemplo, embora constitua apenas 0,0379% da atmosfera (IPCC, 2007), o
dióxido de carbono é essencial para a fotossíntese. Além disso, por ser
eficiente absorvedor da radiação de onda longa emitida pela superfície
terrestre, influencia o fluxo de energia através da atmosfera, fazendo com que
a baixa atmosfera retenha o calor, tornando a Terra adequada à vida. Da
mesma forma o vapor d’água é eficiente absorvedor da radiação de onda
longa emitida pela Terra e também de alguma energia solar. É um dos mais
variáveis gases na atmosfera, e junto com o dióxido de carbono, o vapor
d’água atua como uma espécie de manta para reter o calor na baixa
atmosfera, o que conhecemos como efeito estufa natural. Se não houvesse
essa absorção de radiação por causa dos gases, principalmente por causa do
vapor d’água e do dióxido de carbono (que são chamados gases estufa), a
Terra teria temperatura média de –18 ºC. No entanto, por causa da absorção
e emissão das radiações solar e terrestre pelos gases da atmosfera, a temperatura
média da Terra é de cerca de 15 ºC, ou seja, há uma diferença de 33 ºC.
Agora vamos pensar o seguinte: e se aumentarmos, por exemplo, a
concentração de dióxido de carbono na atmosfera, o que aconteceria? Muito
desse gás adicional será absorvido pelas plantas através da fotossíntese, mas
em torno de 50% permanecerá no ar. Com isso pode haver mais absorção e
emissão das radiações solar e terrestre, o que pode levar a um aquecimento
da baixa atmosfera (intensificação do efeito estufa), portanto pode produzir
mudanças climáticas antropogênicas, ou seja, mudanças climáticas induzidas
pelas atividades humanas.
Sabe-se que mudanças climáticas naturais ocorreram, e os principais
fatores que as induzem são a deriva dos continentes, as variações da
quantidade de radiação solar que chega a Terra, as variações dos seus
parâmetros orbitais, a quantidade de aerossóis naturais (provenientes de
fontes minerais, incêndios florestais de origem natural e o sal marinho), as
erupções vulcânicas e fenômenos climáticos que podem modificar o clima
localmente, tais como: furacões, tempestades violentas e os fenômenos
El Niño e La Niña.
Variações na órbita da Terra, e as consequentes variações da quantidade
de calor que é recebida nos diferentes locais influenciaram na determinação
das variações climáticas do passado. Com a variação da radiação solar por
motivos astronômicos há variação no volume de gelo e consequentemente na
temperatura global. A teoria matemática do clima baseada nas variações
sazonais e latitudinais da radiação solar é conhecida como Teoria de
Milankovitch, descoberta pelo sérvio Milutin Milankovitch no início
do século passado. A Teoria de Milankovitch está baseada nas variações
cíclicas de três elementos, o que ocasiona variações na quantidade de energia
solar que chega a Terra.
1. Precessão: mudanças na orientação do eixo rotacional da Terra. Essas
mudanças alteram as datas do periélio e do afélio, portanto aumentam o
contraste sazonal em um Hemisfério e diminui em outro. O período médio
é de 23 mil anos.
2. Mudanças na obliquidade: mudança na inclinação do eixo da Terra.
Influenciam na magnitude da mudança sazonal, ou seja, quando a inclinação
é maior as estações são mais extremas (os invernos são mais frios, e os verões
17
18
mais quentes), e quando a inclinação é menor, as estações são mais suaves
em ambos os Hemisférios. Atualmente a inclinação é de 23,5º. O período
médio é de 41 mil anos, variando entre as inclinações de 21,5º e 24,5º.
Quando os verões são mais frios, significa que há maior permanência de neve
e gelo nas altas latitudes, o que contribui para um feedback positivo, ou seja,
mais neve, significa albedo maior, portanto maior resfriamento.
3. Variações na ecentricidade: a ecentricidade está relacionada com a
órbita de a Terra em relação ao Sol ser mais elíptica (alta ecentricidade) ou
mais circular (baixa ecentricidade). Atualmente existe uma diferença de 3%
entre a maior aproximação (periélio) e o afélio. Essa diferença na distância
significa 6% da insolação entre janeiro e julho. Quando a órbita está mais
elíptica a diferença da insolação é da ordem de 20 a 30% entre janeiro e
julho. O período é de 90 mil a 100 mil anos.
Juntos, os períodos desses movimentos orbitais tornaram-se conhecidos
como ciclos de Milankovitch. A Figura 1 ilustra os três elementos que ocasionam
variações na quantidade de energia solar que chega a Terra. As Eras
Glaciais e Interglaciais então ocorrem quando a Terra está passando por
diferentes estágios de variações orbitais, ou seja, a cada 100 mil anos aproximadamente.
Figura 1 – Variações orbitais – precessão, obliquidade e ecentricidade
descritas por Milankovitch.


 

Fonte: Earth Observatory – Nasa.
Outro fator que induz mudanças climáticas naturais é a concentração de
aerossóis de origem natural na atmosfera. Os aerossóis são partículas em
suspensão na atmosfera, como por exemplo, poeira, pólen etc., em estado
líquido ou sólido. Os aerossóis têm papel inquestionável no balanço de
energia do sistema Terra-atmosfera, pois podem absorver radia ção influenciando
assim no balanço de energia. Todavia, são as erupções vulcânicas que
pro duzem os maiores impactos relacionados aos aerossóis na atmosfera. Isto
se dá principalmente por três motivos: 1) a grande quantidade de aerossóis
que são lançados na atmosfera quando há uma erupção vulcânica; 2)
dependendo da intensidade da erupção vulcânica os seus aeros sóis podem
atingir a estratosfera, e como praticamente não há comunicação entre a
troposfera (camada mais baixa da atmosfera, entre a superfície e aproximadamente
12 km de altitude) e a estratosfera (camada da atmosfera entre
aproximadamente 12 e 50 km de altitude), esses aeros sóis podem ficar nessa
camada da atmosfera por até cerca de dois e três anos, fazendo com que
chegue menos radiação solar à superfície, influenciando assim no balanço de
energia do sistema Terra-atmosfera; e 3) os vulcões emitem na atmosfera
dióxido de enxofre que vai reagir com o vapor d’água, formando então o
ácido sulfúrico, por consequência, a chamada chuva ácida. Erupções
vulcânicas como as do El Chichon no México em 1982 e do Tambora na
Indonésia em 1815, lançaram na atmosfera cerca de 7 e 175 mil megatoneladas
de ácido sulfúrico, respectivamente.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS: CAUSAS ANTROPOGÊNICAS
Considerando os avanços científicos sintetizados pelos relatórios do
IPCC e os estudos recentes observacionais e de modelagem sobre a
variabilidade climática de longo prazo e mudanças climáticas futuras, chegase
à conclusão de que o clima, de fato, está mudando global e regionalmente.
As mudanças climáticas antropogênicas estão associadas às atividades
humanas pelo aumento da poluição por queima de combustíveis fósseis,
queimadas, desmatamento, formação de ilhas de calor etc. Com isso, há
também um crescente aumento da temperatura global, como pode ser
observado na Figura 2, que apresenta a variação da temperatura global
média desde 1860 em relação ao período de 1951-1980. Da mesma
forma, também há um aumento médio global da temperatura da superfície
do mar.
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Figura 2 – Variação da temperatura média global à superfície desde
1880 até 2006 em relação ao período de 1951 a 1980
Fonte: <http://www.giss.nasa.gov/research/news/20070208/>
Nos últimos 650 mil anos a quantidade de dióxido de carbono na
atmosfera variou entre 180 e 280 partes por milhão por volume (ppmv), ou
seja, entre 0,018% e 0,028%. Entretanto, durante os últimos cem anos, a
quantidade desse gás aumentou para 379 ppmv. O gradativo aumento
da temperatura é atribuído principalmente às emissões de poluentes na
atmosfera, sobretudo a partir dos últimos 70 anos, com aumento da
quantidade de CO2 atmosférico, portanto aumento do efeito estufa, como
pode ser observado na Figura 3. Cerca de 80% do aquecimento global atual
é devido ao CO2.
Figura 3 – Evolução temporal da
concentração de CO2 na atmosfera
nos últimos 100 mil anos (sendo o
ano zero 2005), e desde 1750 até
o presente (painel interno à figura)
Fonte: IPCC (2007).
Os países desenvolvidos são os principais emissores de dióxido de
carbono na atmosfera, todavia, em alguns países em desenvolvimento, é também
grande a quantidade de emissão de dióxido de carbono por mudanças no uso
do solo. No caso do Brasil, 75% das emissões de dióxido de carbono são
provenientes de mudanças no uso do solo e da terra, e por queimadas.
É importante ressaltar que o CO2 não é o único gás de efeito estufa que
vem aumentando em concentração na atmosfera em virtude das atividades
humanas. Há também aumento das concentrações de metano, óxidos de
nitrogênio, ozônio troposférico e vapor d´água.
E quais são/serão as principais consequências do aquecimento global?
Derretimento das calotas polares, com aumento do nível médio do mar e
inundação de regiões mais baixas. A evaporação nas regiões equatoriais irá
aumentar e por consequência os sistemas meteorológicos, como furacões e
tempestades tropicais, ficarão mais ativos. Além disso, deverá haver aumento
da incidência de doenças tropicais, tais como malária, dengue e febre
amarela.
Desde 1995 o IPCC vem ampliando suas áreas de interesse para além
do entendimento dos mecanismos que levam às alterações climáticas.
A divulgação do seu último relatório em fevereiro de 2007 apresentou mais
detalhes e resultados mais precisos do que os apresentados nos últimos
relatórios.
OBSERVAÇÕES DO AQUECIMENTO GLOBAL
A temperatura média global do planeta à superfície vem aumentando nos
últimos 120 anos, já tendo atingido aumento de 0,6 a 0,7 °C, com a maior
parte desse aquecimento nos últimos 50 anos. A última década foi a mais
quente dos últimos mil anos da história recente da Terra, sendo 2005, 1998,
2002, 2003 e 2006 os anos mais quentes. Hoje existe um crescente consenso
na comunidade científica, que se ocupa do estudo das mudanças climáticas,
refletido, por exemplo, nas análises sistemáticas do Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas (IPCC), de que o aquecimento global
observado nos últimos 120 anos é explicado pelas emissões antropogênicas
dos Gases de Efeito Estufa – GEE (principalmente, dióxido de carbono,
metano, óxido nitroso, CFCs) e de aerossóis, e não por eventual variabilidade
natural do clima. Na verdade, muitos cientistas enxergam inúmeras
evidências apontando não mais para a possibilidade de o planeta enfrentar
21
22
futuras mudanças no clima, mas indicando que já estaríamos vivendo a era
das mudanças climáticas resultantes do aquecimento global.
Os relatórios do IPCC de 2001 e de 2007 levantaram indicadores que
confirmam que durante o século XX:
• Houve aumento da temperatura média global de 0,6 °C (± 0,2 ºC).
• Entre 1906 e 2005 o aumento da temperatura média global foi de 0,74 °C.
• A amplitude da temperatura diária diminuiu de 1950 para 2000.
• Houve diminuição, em praticamente todas as áreas continentais, do
número de dias com geadas.
• A precipitação nos continentes aumentou de 5% a 10% no Hemisfério
Norte e diminuiu em várias regiões (Oeste da África e partes do
Mediterrâneo).
• Aumentou a ocorrência de precipitações fortes nas latitudes médias do
Hemisfério Norte.
• Aumentou a frequência de secas extremas no verão. Em algumas regiões
da Ásia e África a frequência e a intensidade aumentaram nas últimas
décadas.
• Aumentou a frequência, permanência e intensidade do fenômeno El
Niño nas últimas décadas, se comparado com os últimos cem anos.
• Houve aumento de 12 a 22 cm do nível do mar.
• A taxa de aumento do nível do mar era de 1,8 mm por ano no período de
1961 a 2003, e entre 1993 e 2003 passou a ser de 3,1 mm por ano.
• A espessura da camada de gelo no Ártico está 40% mais fina nas últimas
décadas e está diminuindo 2,7% por década.
• A duração do gelo sobre rios e lagos diminuiu em média em duas semanas
nas latitudes médias do Hemisfério Norte.
• A extensão da camada de gelo no Ártico diminuiu de 10% a 15% na
primavera/verão desde 1950.
• Houve retração das geleiras não-polares.
• Observações por satélite (a partir da década de 1960) indicam diminuição
da cobertura de neve em 10%.
• O período de crescimento das plantas no Hemisfério Norte aumentou
de um a quatro dias por década nos últimos 40 anos.
• No Hemisfério Norte, as plantas estão florescendo mais cedo, as aves
chegam antes, e o acasalamento começa mais cedo. Os insetos também
aparecem mais cedo.
• Também no Hemisfério Norte está ocorrendo o branqueamento de corais.
CENÁRIOS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS FUTURAS
Os cenários projetados para este século indicam que a temperatura média
do planeta continuará subindo, no mínimo mais 1,8 ºC e no máximo cerca
de 4,0 ºC, com a melhor estimativa, segundo o IPCC (2007), que seja em
torno de 3,0 °C, conforme podemos observar na Figura 4.
Figura 4 – Variações da temperatura média global a partir do ano 1900 e
cenários projetados para o século XXI.
Fonte: IPCC, 2007
As projeções dos modelos indicam variações do clima em diversas escalas.
Como a forçante radiativa do sistema climático muda, o continente aquece
mais rapidamente do que os oceanos, e há maior aquecimento relativo em
altas latitudes. As projeções dos modelos climáticos indicam decréscimo na
amplitude da temperatura diurna em muitas áreas. A maior parte dos
modelos mostra decréscimo da amplitude diurna da temperatura do ar
próximo à superfície no inverno e aumento no verão em regiões continentais
23
24
do Hemisfério Norte. Com o aumento da temperatura, a cobertura de neve
e a área de gelo sobre o mar diminuirão, sobretudo no Hemisfério Norte. Se
as tendências de crescimento das emissões se mantiverem, os modelos
climáticos indicam que poderá ocorrer aquecimento de até 8 °C em algumas
regiões do globo até o final do século XXI.
A associação entre eventos extremos de tempo e clima observados e as
mudanças do clima é recente. As projeções indicam maior número de dias
quentes e ondas de calor em todas as regiões continentais, principalmente
em regiões onde a umidade do solo vem diminuindo. Há ainda projeções de
aumento da temperatura mínima diária em todas as regiões continentais,
principalmente onde houve retração de neve e de gelo. Além disso, dias com
geadas e ondas de frio podem se tornar menos frequentes. As projeções de
mudanças da temperatura do ar próxima à superfície e na umidade da
superfície podem resultar em aumento da sensação térmica (que é uma
medida dos efeitos combinados da temperatura e da umidade).
Há ainda muita incerteza em relação às possíveis mudanças na precipitação
pluviométrica. Entretanto, as projeções do IPCC (2007) indicam que
é muito provável que haja aumento da intensidade da precipitação em
diversas regiões, sobretudo na região tropical. Além disso, há projeções de
secas generalizadas em regiões continentais durante o verão. É possível que
os ciclones tropicais futuros (tufões e furacões) sejam mais intensos, com
ventos e precipitações associados com o aumento da temperatura do mar
tropical. Muitos modelos mostram aumento da temperatura da superfície do
mar no oceano Pacífico Equatorial, o que sugere uma situação futura de El
Niño quase permanente.
A retração geral dos glaciares e capas de gelo continuará durante o século
XXI e se projeta que a capa de neve e o gelo marinho do Hemisfério Norte
continuarão diminuindo. As projeções do IPCC (2007) indicam diminuição
do gelo no Ártico e na Antártica. Em algumas das projeções mais pessimistas
estima-se que o gelo desaparecerá no Ártico no fim do verão, a partir da
segunda metade do século XXI.
A taxa de aumento do nível médio relativo do mar nas áreas costeiras,
como consequência da expansão termal dos oceanos e do derretimento de
calotas polares e geleiras continentais, representa considerável impacto em
termos socioeconômicos e ecológicos. Essa taxa foi de 18 cm por século
entre 1961 e 2003 para 31 cm por século entre 1993 e 2003 (IPCC, 2007).
O significado econômico desse processo trará consequências para a pesca,
agricultura, navegação, lançamento de efluentes, proteção costeira, produtividade
biológica e biodiversidade. Logo, essas áreas serão alteradas significativamente.
As projeções da elevação média do nível do mar em escala
mundial entre 1990 e 2100, obtidas com uma série de modelos de circulação
geral da atmosfera e dos oceanos, que levaram em conta os efeitos diretos das
emissões de aerossóis e sulfatos, oscilam entre 0,18 e 0,59 m. Essa margem
de variação reflete a incerteza que caracteriza a elaboração desses modelos.
O aquecimento global pode provocar ainda mudanças nos ecossistemas
terrestres com mudanças nos padrões globais da vegetação. Estudos recentes
indicam que, ao contrário da maioria das atividades humanas, ecossistemas
naturais não apresentam grande capacidade de adaptação (ou bem-sucedida
migração em resposta) à magnitude das mudanças climáticas se elas
ocorrerem no curto intervalo de décadas. Normalmente os ecossistemas
naturais apenas podem migrar ou se adaptar a mudanças climáticas que
ocorram na escala de muitos séculos a milênios. Quando somamos ao
aquecimento global as alterações de vegetação resultantes das mudanças dos
usos da terra, notadamente os desmatamentos das florestas tropicais e
dos cerrados, é quase certo que acontecerão rearranjos significativos nos
ecossistemas, e mesmo redistribuição de biomas. A assombrosa velocidade
com que tais alterações estão ocorrendo, em comparação àquelas dos
processos naturais em ecossistemas, introduz séria ameaça à megadiversidade
de espécies da flora e da fauna dos ecossistemas, em especial da Amazônia,
com o provável resultado de sensível empobrecimento biológico.
Importante ressaltar que a maioria dos gases do efeito estufa tem longa
vida (décadas a séculos) na atmosfera até serem removidos. Cálculos recentes
com sofisticados modelos climáticos globais mostraram que, mesmo que as
concentrações desses gases na atmosfera fossem mantidas constantes nos
valores atuais, as temperaturas continuariam a subir por mais de 200 anos, e
o nível do mar, por mais de um milênio.
IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO BRASIL
(AGRICULTURA, BIODIVERSIDADE, RECURSOS HÍDRICOS,
SAÚDE HUMANA, ZONAS COSTEIRAS ETC.)
Quando se analisam os possíveis impactos das mudanças climáticas, as
avaliações do IPCC indicam que os países em desenvolvimento são, de
modo geral, os mais vulneráveis. Para o Brasil, não é difícil entender o
25
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porquê dessa vulnerabilidade: encontram-se abundantes exemplos de
impactos adversos da variabilidade natural do clima, como as secas e
estiagens, as cheias e inundações e os deslizamentos em encostas, somente
para citar alguns. Decorre daí que, quanto maior tenha sido a dificuldade
histórica de uma sociedade em conviver com a variabilidade natural do
clima, e com seus extremos, maior será o esforço para adaptar-se às
mudanças futuras do clima, e deve-se levar em conta que a frequência de
ocorrência de muitos tipos de extremos climáticos poderá aumentar. Em
particular, há setores que podem ser particularmente vulneráveis, tais como:
os ecossistemas naturais (com possíveis mudanças nas coberturas vegetais
atuais e na biodiversidade dos ecossistemas), os agroecossistemas e os
socioeconômicos (através dos efeitos na agricultura, recursos hídricos, saúde
humana etc.).
As projeções da temperatura para o final do século XXI relativas à
América do Sul indicam aumento da temperatura em praticamente todo o
continente. No Brasil a variabilidade natural do clima, sentida através de
eventos extremos e alternados, como secas e estiagens, propicia grandes
dificuldades de recuperação para a sociedade. Eventos climáticos de grandes
proporções podem ser mais freqüentes, e alguns exemplos atuais são as
chuvas intensas no Nordeste, que foram mais de 600% acima do normal em
15 dias de janeiro 2004, e o recente fenômeno Catarina, que afetou a costa
de Santa Catarina e Rio Grande do Sul em março de 2004. Dessa forma, se
pensarmos que o aquecimento global pode intensificá-los, maior deverá ser
a capacidade da população em se adaptar às mudanças.
Ecossistemas costeiros e ribeirinhos em áreas sob influência das marés
poderão ser profundamente alterados, com uma eventualmente rápida (da
ordem de décadas) elevação do nível do mar. Também a agricultura e a
geração de hidroeletricidade poderiam ser afetadas por mudanças na
distribuição das chuvas ou na ocorrência de períodos secos de longa duração.
No caso da bacia amazônica, sabe-se que ela contém enorme porção da
biodiversidade do mundo e, além disso, possui a maior fonte de escoamento
de água da Terra, representando aproximadamente 15 a 20% do fluxo global
dos rios. Dessa forma, o ciclo hidrológico é fator-chave do sistema climático
global, e uma vez que as mudanças climáticas afetarem a região amazônica,
espera-se que haja efeitos decorrentes no clima global e através de interações
consecutivas haja aumento no risco de perda da biodiversidade. Entretanto,
quando se trata do ciclo hidrológico, em particular da quantidade de chuvas,
ainda não existe consenso do que pode ocorrer. Alguns modelos projetam
diminuição das chuvas, enquanto outros não indicam alteração, ou até
mesmo apontam aumento.
Para a América do Sul Tropical, as projeções (sem considerar as mudanças
do uso do solo) indicam aumento da área de savana (Cerrado) e diminuição
da área de Caatinga no semiárido do Nordeste do Brasil. Ao lado do aquecimento
global deve-se também levar em conta outras alterações que
contribuem para criar as condições de substituição de biomas. É o caso
das alterações da cobertura da vegetação que ocorrem em diversas partes do
globo assim como no Brasil a taxas alarmantes, como os desmatamentos da
floresta tropical amazônica, que, segundo várias projeções, causarão mudanças
climáticas regionais em direção a clima mais quente e seco na região. Outro
fator de distúrbio é o fogo. A densa floresta amazônica era praticamente
impenetrável ao fogo. Mas, devido à combinação da fragmentação florestal,
desmatamentos e aquecimento em razão dos próprios desmatamentos e
devido ao aquecimento global, aliados à prática agrícola predominante, que
utiliza fogo intensamente, esse quadro está rapidamente mudando, e a
frequência de incêndios florestais vem crescendo assustadoramente a cada
ano. O grande incêndio nas florestas, savanas e campos de Roraima, entre
janeiro e março de 1998, é um ilustrativo exemplo do que pode acontecer no
futuro com mais frequência. Resultado de uma persistente e intensa seca
causada pelo fortíssimo episódio El Nino de 1997-98 e o uso indiscriminado
de fogo, mais de 13 mil km2 de florestas foram afetados pelo fogo, talvez no
maior incêndio jamais observado na Amazônia.
Dessa forma, impactos intensos de longo prazo seriam sentidos nos solos,
na biodiversidade e nos sistemas hídricos. Com relação ao último, além da
forte mudança no ciclo hidrológico, haveria também um problema socioeconômico.
Primeiro porque a pesca é uma atividade essencial, tanto para
prover alimento quanto para manter o comércio, e os rios subsidiam grande
parte da demanda hídrica da população. Além disso, haveria problemas com
o mais importante meio de locomoção na região: o transporte fluvial.
O número de estudos sobre a resposta de espécies da flora e da fauna
amazônica e do Cerrado às mudanças climáticas é ainda reduzidíssimo, mas
eles indicam que, aumento de 2 °C a 3 °C na temperatura média, até 25%
das árvores do Cerrado e cerca de 40% de árvores da Amazônia poderiam
desaparecer até o final deste século.
27
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Também na região amazônica registra-se o caso mais crítico do agravamento
das condições de saúde da população. Alguns estudos mostram
que, com cenários de mudanças climáticas, as taxas de mortalidade
aumentam devido às enchentes, secas e ondas de calor. De forma indireta,
esses eventos extremos podem causar ainda aumento de malária, dengue e
cólera.
Com relação à Mata Atlântica, poucos estudos de modelagem foram
desenvolvidos, por isso pouco se pode constatar. Uma das possíveis causas é
o fato de ser um ecossistema que apresenta muitas espécies endêmicas (isto
é, que só ocorrem nessa região), e consequentemente a vegetação possui
características que ainda não são bem representadas nos modelos. É possível
observar, no entanto, que esse bioma é bastante sensível a forçantes
climáticas – especialmente à temperatura e ao regime de chuvas – por
apresentar grandes contrastes em sua composição, de acordo com a
respectiva localização espacial (latitude e altitude). Mesmo assim, num
estudo que comparou a previsão de modelos climáticos para o final deste
século, esse bioma é mantido, de acordo com sua representação inicial.
Outro setor que pode ser bastante afetado pelas mudanças climáticas é o
de sistemas agrícolas. Os estudos em geral indicam que as elevações de
temperatura e de precipitação não serão benéficas para a agricultura, no que
se refere ao tamanho das áreas aptas para o cultivo. Projeta-se que o maior
impacto relativo ao aumento de temperatura poderá ser sentido pela soja,
com a redução de até 60% na área potencial de plantio.
Em decorrência da história de ocupação do território brasileiro, as regiões
costeiras abrigam grande parte da população. Grandes centros urbanoindustriais
estão situados em áreas costeiras ou contíguas a elas e, portanto,
diretamente ameaçadas pelo aumento previsto do nível médio do mar.
Cidades como João Pessoa (PB), Recife (PE), Maceió (AL), Aracajú (SE),
Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), Vitória (ES), Santos (SP), Paranaguá
(PR) e Florianópolis (SC) representam áreas de grande densidade populacional
e desenvolvidos complexos industriais, portuários e turísticos,
incluídos na área de influência e, por isso mesmo, potencialmente inundáveis
em suas porções mais baixas num futuro próximo.
REFERÊNCIAS
ASSAD, E. D. et al. Impacto das mudanças climáticas no zoneamento
agroclimático do café no Brasil. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 39, n. 11,
p. 1057-1064, 2004.
BETTS, R. A.; COX, P. M.; WOODWARD, F. I. Simulated responses of
potential vegetation to doubled-CO2 climate change and feedbacks on
near-surface temperature. Global Ecology and Biogeography, n. 9, p. 171-180,
2000.
BOER, G. J.; FLATO, G.; RAMSDEN, D. A transient climate change
simulation with greenhouse gas and aerosol forcing: projected climate for
the 21st century. Clim. Dyn., n. 16, p. 427-45









DESASTRES NATURAIS
Conhecer para prevenir


      Os Desastres Naturais constituem um tema cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, independentemente destas residirem ou não em áreas de risco. Ainda que em um primeiro momento o termo nos leve a associá-lo com terremotos, tsunamis, erupções
vulcânicas, ciclones e furacões, os Desastres Naturais contemplam, também, processos e fenômenos mais localizados tais como deslizamentos, inundações, subsidências e erosão,que podem ocorrer naturalmente ou induzidos pelo homem.
Responsáveis por expressivos danos e perdas, de caráter social, econômico e ambiental, os desastres naturais têm tido uma recorrência e impactos cada vez mais intensos, o que os cientistas sugerem já ser resultado das mudanças climáticas globais.
     No Estado de São Paulo, e no Brasil de uma forma geral, embora estejamos livres dos fenômenos de grande porte e magnitude como terremotos e vulcões, são expressivos o
registro de acidentes e mesmo de desastres associados principalmente a escorregamentos e inundações, acarretando prejuízos e perdas significativas, inclusive de vidas humanas.
    Embora o tema seja objeto de diversas publicações em várias partes do mundo, no Brasil ainda carecemos de uma obra que reúna a questão de desastres em um mesmo material. A presente publicação constitui, assim, uma primeira contribuição no sentido
de reunir, em um único volume, os diversos aspectos que balizam as ações de prevenção de desastres naturais. Para tanto, procurou-se reunir conceitos, terminologias, métodos de análise, e aplicações que possibilitam um entendimento dos cenários potencialmente
favoráveis à ocorrência de acidentes e desastres, bem como que sirva para subsidiar os agentes envolvidos na análise,gerenciamento e intervenções de áreas de risco ou potencialmente perigosas. Além disso, foi dada ênfase aos processos e fenômenos típicos
do Estado de São Paulo e do Brasil

 A publicação, em seu capitulo inicial, aborda a conceituação e classificação dos desastres naturais e apresenta um panorama geral da ocorrência de desastres naturais
no mundo, no Brasil e no Estado de São Paulo. Na sequência, nos capítulos 2 a 8, são apresentados os principais fenômenos geoambientais relacionados aos desastres naturais,
seus mecanismos e as medidas de prevenção. No capítulo 9, discorre-se sobre os conceitos básicos de perigo e risco e os métodos empregados na análise e mapeamento de risco,
instrumentos técnicos fundamentais na prevenção e na gestão de desastres naturais.
    Finalizando, no último capítulo, são tratadas as ações de gerenciamento de desastres
naturais adotadas em âmbito municipal, estadual e nacional, apresentando as diversas
experiências de prevenção e mitigação de desastres no Brasil com destaque aos planos
desenvolvidos e adotados no Estado de São Paulo.
     O Livro – Desastres Naturais: conhecer para prevenir – é resultado da experiência
de técnicos e pesquisadores do Instituto Geológico, da SMA, que a cerca de vinte anos
tem desenvolvido pesquisas e atividades sobre o tema. A atuação do IG no assunto tem se ampliado e consolidado a cada ano, permitindo que a Instituição atue de forma expressiva
e aplicada em apoio à prevenção de Desastres no Estado e no País. Os trabalhos associados a escorregamentos já estão consolidados na região da Serra do Mar, na região do ABC,na região de Sorocaba e mais recentemente nas regiões do Vale do Paraiba e Serra da
Mantiqueira, no Estado de São Paulo. Além disso, o IG tem desenvolvido ações nos temaserosão, continental e costeira, subsidências, e recentemente associados a inundações nas
regiões de Ribeirão Preto e Araraquara. Esta experiência adquirida, ao longo de 20 anos,permitiu que o Instituto atuasse com destaque no Estado de Santa Catarina, em apoio aos
desastres ocorridos em novembro de 2008.

Além das ações diretamente relacionadas ao gerenciamento e enfrentamento
das situações de riscos e dos acidentes, os trabalhos do IG no tema aplicam-se também
às ações e instrumentos de gestão ambiental e de ordenamento territorial do Estado,
implementados no âmbito da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo
(SMA).
Com esta publicação, esperamos contribuir para que, técnicos, gestores e público
em geral possam obter uma visão abrangente que envolva os processos perigosos, os
impactos possíveis, a forma de análise, os instrumentos de gestão e as ações mitigadoras
que se apliquem a prevenção de Desastres Naturais.
Ressaltamos, por fim, que esta publicação integra um conjunto de materiais de
divulgação sobre o tema e que reflete a experiência acumulada no Instituto Geológico, em
trabalhos junto a SMA e a Defesa Civil do Estado de São Paulo.
Francisco Graziano Neto Ricardo Vedovello
Secretário de Estado do Meio Ambiente Diretor do Instituto Geológico


CAPÍTULO 1
DESASTRES NATURAIS: POR QUE OCORREM?
A relação do homem com a natureza ao longo da história evoluiu de uma total
submissão e aceitação fatalista dos fenômenos da natureza a uma visão equivocada de
dominação pela tecnologia. As inundações que ultrapassaram e romperam diques e
barragens em New Orleans, por ocasião do Furacão Katrina em 2005, nos Estados Unidos
e o terremoto de Kobe no Japão em 1995, com milhares de vítimas e pessoas afetadas,
são exemplos que demonstram que muitas vezes os fenômenos naturais surpreendem
até mesmo as nações mais bem preparadas para enfrentá-los. Obviamente os avanços
tecnológicos permitem hoje que a humanidade enfrente melhor os perigos decorrentes
destes fenômenos. Assim, esta publicação visa destacar que, para a efetiva prevenção dos
fenômenos naturais, as leis da natureza devem ser respeitadas. Ou seja, estes fenômenos
devem ser bem conhecidos quanto à sua ocorrência, mecanismos e medidas de prevenção.
Os desastres naturais podem ser provocados por diversos fenômenos, tais
como, inundações, escorregamentos, erosão, terremotos, tornados, furacões, tempestades,
estiagem, entre outros. Além da intensidade dos fenômenos naturais, o acelerado processo
de urbanização verificado nas últimas décadas, em várias partes do mundo, inclusive no
Brasil, levou ao crescimento das cidades, muitas vezes em áreas impróprias à ocupação,
aumentando as situações de perigo e de risco a desastres naturais.
Além disso, diversos estudos indicam que a variabilidade climática atual, com
tendência para o aquecimento global, está associada a um aumento de extremos climáticos.
Nesta situação, os eventos de temporais, de chuvas intensas, de tornados ou de estiagens
severas, entre outros, podem tornar-se mais frequentes, aumentando a possibilidade de
incidência de desastres naturais.
1.1. O que são desastres naturais?
Quando os fenômenos naturais atingem áreas ou regiões habitadas pelo homem,
causando-lhe danos, passam a se chamar desastres naturais.
A conceituação adotada pela UN-ISDR (2009) considera desastre como
uma grave perturbação do funcionamento de uma comunidade ou de uma sociedade
envolvendo perdas humanas, materiais, econômicas ou ambientais de grande extensão,
cujos impactos excedem a capacidade da comunidade ou da sociedade afetada de arcar
com seus próprios recursos. Os critérios objetivos adotados no Relatório Estatístico Anual
do EM-DAT (Emergency Disasters Data Base) sobre Desastres de 2007 (Scheuren, et. al.
2008) consideram a ocorrência de pelo menos um dos seguintes critérios:
• 10 ou mais óbitos;
• 100 ou mais pessoas afetadas;
• declaração de estado de emergência;
• pedido de auxílio internacional.
14 Desastres naturais: conhecer para prevenir
No Glossário da Defesa Civil Nacional, desastre é tratado como sendo “resultado
de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável),
causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos
e sociais. A intensidade de um desastre depende da interação entre a magnitude do evento
adverso e o grau de vulnerabilidade do sistema receptor afetado” (Castro,1998).
Desastres naturais podem ser definidos como o resultado do impacto
de fenômenos naturais extremos ou intensos sobre um sistema social,
causando sérios danos e prejuízos que excede a capacidade da comunidade
ou da sociedade atingida em conviver com o impacto.
(Tobin e Montz,1997; Marcelino, 2008).
1.2. Classificação dos desastres
As classificações mais utilizadas distinguem os desastres quanto à origem e à
intensidade (Alcântara-Ayala, 2002; Marcelino, 2008).
Classificação quanto à origem
Quanto à origem ou causa primária do agente causador, os desastres podem
ser classificados em: naturais ou humanos (antropogênicos). Desastres Naturais
são aqueles causados por fenômenos e desequilíbrios da natureza que atuam
independentemente da ação humana. Em geral, considera-se como desastre natural
todo aquele que tem como gênese um fenômeno natural de grande intensidade,
agravado ou não pela atividade humana. Exemplo: chuvas intensas provocando
inundação, erosão e escorregamentos; ventos fortes formando vendaval, tornado e
furacão; etc. Desastres Humanos ou Antropogênicos são aqueles resultantes de
ações ou omissões humanas e estão relacionados com as atividades do homem, como
agente ou autor. Exemplos: acidentes de trânsito, incêndios urbanos, contaminação de
rios, rompimento de barragens, etc (Alcântara-Ayala, 2002; Castro, 1999; Kobiyama
et al. 2006; Marcelino, 2008).
Os desastres naturais podem ser ainda originados pela dinâmica interna e externa
da Terra. Os decorrentes da dinâmica interna são terremotos, maremotos, vulcanismo
e tsunamis. Já os fenômenos da dinâmica externa envolvem tempestades, tornados,
inundações, escorregamentos, entre outros.
Classificação quanto à intensidade
A avaliação da intensidade dos desastres é muito importante para facilitar
o planejamento da resposta e da recuperação da área atingida. As ações e os recursos
necessários para socorro às vítimas dependem da intensidade dos danos e prejuízos
provocados (Tabela 1.1).
Desastres naturais: por que ocorrem? 15
Tabela 1.1. Classificação dos desastres em relação à intensidade (modificado de Kobiyama
et al, 2006).
Nível Intensidade Situação
I
Desastres de pequeno porte, também
chamados de acidentes, onde os impactos
causados são pouco importantes e os
prejuízos pouco vultosos.
(Prejuízo menor que 5% PIB municipal)
Facilmente superável com os recursos do
município.
II
De média intensidade, onde os impactos são
de alguma importância e os prejuízos são
significativos, embora não sejam vultosos.
(Prejuízos entre 5% e 10% PIB municipal)
Superável pelo município, desde que
envolva uma mobilização e administração
especial.
III
De grande intensidade, com danos
importantes e prejuízos vultosos.
(Prejuízos entre 10% e 30% PIB
municipal)
A situação de normalidade pode ser
restabelecida com recursos locais, desde
que complementados com recursos
estaduais e federais.
(Situação de Emergência – SE)
IV
De muito grande intensidade, com
impactos muito significativos e prejuízos
muito vultosos.
(Prejuízos maiores que 30% PIB
municipal)
Não é superável pelo município, sem que
receba ajuda externa. Eventualmente
necessita de ajuda internacional.
(Estado de Calamidade Pública – ECP)
1.3. Desastres naturais no mundo
Em âmbito mundial, tem-se verificado, nas últimas décadas, um aumento das
ocorrências de desastres naturais e dos prejuízos decorrentes (Figura 1.1). Constata-se uma
tendência global para o significativo incremento do número de desastres a partir da década
de 70 que, conforme EM-DAT (2009) passou de 50 registros por ano para 350 em 2008,
tendo chegado a 500 em 2005. Segundo esta mesma fonte, os prejuízos estimados, que em
1975, eram de aproximadamente 5 bilhões de dólares, passaram a 180 bilhões em 2008. Em
2005, ano do Furacão Katrina nos Estados Unidos, o prejuízo atingiu 210 bilhões de dólares.
As populações em risco têm apresentado um crescimento anual em torno de
setenta a oitenta milhões de pessoas, sendo que, mais de noventa por cento dessa população
encontra-se nos países em desenvolvimento, com as menores participações dos recursos
econômicos e maior carga de exposição ao desastre (Figura 1.2). Em teoria, os perigos
naturais ameaçam igualmente qualquer pessoa, mas na prática, proporcionalmente,
atingem os mais desfavorecidos, devido a uma conjunção de fatores: há um número
muito maior de população de baixa renda, vivendo em moradias mais frágeis, em áreas
mais densamente povoadas e em terrenos de maior suscetibilidade aos perigos. Assim, a
estratégia de redução de desastres precisa ser acompanhada do desenvolvimento social e
econômico e de um criterioso gerenciamento ambiental. Portanto, deve ser construída
com políticas de desenvolvimento sustentável que levem em conta os perigos existentes e
os planos para redução dos riscos (Alcantara-Ayala, 2002; UN-ISDR, 2004).
16 Desastres naturais: conhecer para prevenir
Figura 1.1 - Evolução do crescimento mundial (1975 a 2008) no número de ocorrências de desastres naturais (a)
prejuízos estimados em bilhões de dólares (b). Fonte: EM-DAT (2009).
b
a
Desastres naturais: por que ocorrem? 17
A década de 1990, declarada pelas Nações Unidas, como a Década Internacional
para Redução de Desastres Naturais (International Decade for Natural Disaster Reduction –
IDNDR), foi dedicada à promoção de soluções para redução do risco decorrente de perigos
naturais, fortalecendo os programas de prevenção e redução de acidentes naturais. Uma das
ações derivada da IDNDR foi a implantação da Estratégia Internacional para Redução de
Desastres (International Strategy for Disaster Reduction – ISDR), voltada para promover maiores
envolvimentos e comprometimentos públicos, disseminação de conhecimentos e parcerias
para implementar medidas de redução de riscos. Hoje, há um crescente reconhecimento que
enquanto esforços humanitários ainda são importantes e necessitam de atenção continuada,
a avaliação e a mitigação dos riscos e das vulnerabilidades são fatores fundamentais a serem
considerados na redução dos impactos negativos dos perigos e desta maneira são essenciais
para a implantação do desenvolvimento sustentável (UN-ISDR, 2004).
Uma das explicações do grande desequilíbrio entre prevenção e resposta de
urgência, conforme observado por Veyret (2007), é que as ações de redução de riscos não
oferecem a mesma visibilidade às políticas de organismos oficiais nacionais e internacionais,
arrecadadores de fundos, em relação aos programas de atendimentos emergenciais, os
quais normalmente têm grande exposição na mídia.
Atualmente, as Nações Unidas por meio da ISDR, focam muito na questão da
vulnerabilidade que é um estado determinado pelas condições físicas, sociais, econômicas
e ambientais, as quais podem aumentar a suscetibilidade de uma comunidade ao impacto
de eventos perigosos. Uma vez que o perigo de ocorrer um determinado desastre natural
em geral, já é conhecido e, muitas vezes inevitável, o objetivo é minimizar a exposição
Figura 1.2 - Distribuição dos tipos de desastres naturais no mundo, período 1900-2006 (Marcelino, 2007).
Legenda: IN – inundação, ES – escorregamento, TE – tempestades (furacões, tornados e vendavais), SE – secas,
TX – temperatura extrema, IF – incêndios florestais; TR – terremoto; VU - vulcanismo; RE - ressaca.
18 Desastres naturais: conhecer para prevenir
ao perigo por meio do desenvolvimento de capacidades individuais, institucionais e da
coletividade que possam contrapor-se aos perigos e aos danos. O papel da participação
comunitária e da capacidade de enfrentamento da população é considerado elemento
chave no entendimento do risco de desastre (UN-ISDR, 2004).
1.4. Desastres naturais no Brasil
No Brasil, os principais fenômenos relacionados a desastres naturais são derivados
da dinâmica externa da Terra, tais como, inundações e enchentes, escorregamentos de
solos e/ou rochas e tempestades (Figura 1.3). Estes fenômenos ocorrem normalmente
associados a eventos pluviométricos intensos e prolongados, nos períodos chuvosos que
correspondem ao verão na região sul e sudeste e ao inverno na região nordeste.
De acordo com EM-DAT, o Brasil encontra-se entre os países do mundo mais
atingidos por inundações e enchentes, tendo registrado 94 desastres cadastrados (segundo
os critérios já comentados) no período de 1960 a 2008, com 5.720 mortes e mais de
15 milhões de pessoas afetadas (desabrigados/desalojados). Considerando somente os
desastres hidrológicos que englobam inundações, enchentes e movimentos de massa, em
2008 o Brasil esteve em 10º lugar entre os países do mundo em número de vítimas de
desastres naturais, com 1,8 milhões de pessoas afetadas (OFDA/CRED, 2009).
Quanto aos fenômenos da dinâmica interna, o Brasil caracteriza-se por uma fraca
atividade na ocorrência de tremores, que em sua maioria, são de baixa magnitude variando
entre 2° e 4° na escala Richter. No entanto, já foram registrados no país, tremores de magnitudes
maiores, como em 1955 no Estado do Mato Grosso, de 6,6° (escala Richter) e 6,3° no mesmo
ano no litoral do Estado do Espírito Santo. Como ocorreram em regiões desabitadas não
provocaram danos. Em geral, no Brasil são pouco frequentes os danos associados a tremores.
Porém, em 2007, no município de Itacarambi (MG), ocorreu um terremoto (4,9° na escala
Richter) que provocou, provavelmente por falta de preparo para o enfrentamento destas
situações no Brasil, uma morte e pelo menos 6 feridos, além de derrubar 5 casas e danificar
Figura 1.3 - Distribuição por região dos desastres atendidos pela Defesa Civil Nacional (SEDEC, 2009).
Desastres naturais: por que ocorrem? 19
outras 60. Outro exemplo, sem danos, foi o abalo sísmico que atingiu a cidade de São Paulo no
dia 22 de Abril de 2008, cujo epicentro (local de projeção na superfície de origem) ocorreu no
Oceano Atlântico a 215 km do município de São Vicente, e foi sentido também nos estados
do Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Dos estados brasileiros, o Ceará é o que tem
registrado maior número de ocorrências de sismos (Hansen et al. 2008).
Seguindo a tendência mundial, constata-se também no Brasil um crescimento
significativo das ocorrências de desastres naturais a partir de 1960, uma vez que do total de
289 ocorrências registradas pelo EM-DAT, no período de 1900 a 2009 (até o 1º trimestre
de 2009), em torno de 70% são posteriores a 1.960. Entretanto, os dados do EM-DAT para
o Brasil estão longe da realidade, como já haviam observado Marcelino et al. (2006) que
apontaram discrepâncias nestes dados. Nos registros do EM-DAT constam 89 eventos para
o Brasil, no período de 1980 a 2003, enquanto somente no Estado de Santa Catarina foram
computados 3.373 desastres naturais no mesmo período. No banco de dados da Defesa
Civil de Santa Catarina são registradas apenas as ocorrências que levaram os municípios a
decretarem Situação de Emergência (SE) ou Estado de Calamidade Pública (ECP), os quais
são compatíveis com os critérios do EM-DAT. Portanto, se forem considerados também os
acidentes que envolvem danos menores, estes números podem ser muito maiores.
Este aumento na incidência de desastres naturais é considerado por diversos autores
como consequência do intenso processo de urbanização verificado no país nas últimas
décadas, que levou ao crescimento desordenado das cidades em áreas impróprias à ocupação,
devido às suas características geológicas e geomorfológicas desfavoráveis. As intervenções
antrópicas nestes terrenos, tais como, desmatamentos, cortes, aterros, alterações nas drenagens,
lançamento de lixo e construção de moradias, efetuadas, na sua maioria, sem a implantação de
infraestrutura adequada, aumentam os perigos de instabilização dos mesmos. Quando há um
adensamento destas áreas por moradias precárias, os desastres associados aos escorregamentos
e inundações assumem proporções catastróficas causando grandes perdas econômicas e sociais
(Fernandes et al, 2001; Carvalho e Galvão, 2006; Lopes, 2006; Tominaga, 2007).
Este fato é também corroborado por Maffra e Mazzola (2007) que observaram
que no Brasil há uma estreita relação entre o avanço da degradação ambiental, a intensidade
do impacto dos desastres e o aumento da vulnerabilidade humana.
Os municípios mais atingidos por desastres naturais localizam-se nos estados de São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná, Bahia, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Paraíba e Ceará (Kobiyama et al. 2006; Carvalho & Galvão 2006).
1.5. Ocorrências de acidentes e desastres naturais no Estado de São Paulo
Os acidentes e desastres naturais no Estado de São Paulo estão associados
predominantemente aos escorregamentos de encostas, inundações, erosão acelerada
e tempestades (ventanias, raios e granizo). A Figura 1.4 mostra que a maior parte do
estado (porção central e oeste) apresenta suscetibilidade à erosão, sendo que na região
oeste ocorrem também os colapsos de solos; na região leste do estado predominam os
processos de escorregamentos e inundações. Enchentes e inundações ocorrem em todo
estado, ao longo dos principais cursos d’água. Entretanto, as regiões do Vale do Ribeira
20 Desastres naturais: conhecer para prevenir
e Litoral Sul, por receberem mais chuvas do tipo frontal, que podem ser muito intensas
e de longa duração, produzindo grandes volumes de escoamento superficial, atingem
maior número de pessoas, entre desabrigados e desalojados. Além disso, as características
morfológicas da bacia também favorecem a ocorrência de grandes cheias. As inundações
nesta região atingem vários municípios, muitos dos quais já tiveram que decretar situação
de emergência ou estado de calamidade pública (Ikeda & Bertagnoli, 2000). De acordo
com informações da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (CEDEC, 2009), dos vinte
e nove municípios paulistas que decretaram Situação de Emergência, no primeiro semestre
de 2009, sete (em torno de 25%) são da Região do Vale do Ribeira. Por outro lado é a
Região Metropolitana de São Paulo que, segundo dados da CEDEC, tem tido maior
número de óbitos em consequência de enchentes e inundações, provavelmente devido ao
adensamento populacional, dentre outros fatores.
Apesar de não se dispor ainda de um banco de dados de desastres naturais no
Estado de São Paulo, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (CEDEC) iniciou em
2000, a organização dos dados de atendimentos efetuados durante as Operações Verão (vide
Cap. 10), implantada anualmente, durante os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março.
Assim, no período de 2000 a 2008, foram cadastrados pela CEDEC os atendimentos e
vistorias emergenciais relacionados a acidentes diversos, incluindo escorregamentos, erosão,
Figura 1.4 - Suscetibilidade aos principais processos associados a desastres naturais no Estado de São Paulo.
Fonte: fotos A, B, D e E – Acervo IG; foto C – Ney Ikeda (DAEE).
Desastres naturais: por que ocorrem? 21
inundação e processos similares (enchentes, transbordamentos de rios, alagamentos), dentre
outros (raios, chuvas fortes, vendavais, desabamentos de casas, etc).
No intervalo de 2000 a 2008, foram registrados 1.861 acidentes, relacionados
aos vários tipos de fenômenos, sendo: em torno de 50% (944) de inundações (incluindo
enchentes e alagamentos), 19% (367) de escorregamentos, 4% (65) de raios, 27% (485) de
acidentes diversos (chuvas fortes, vendavais, desabamentos de casas e muros, etc) (Figura
1.5). Os danos identificados referem-se a número de óbitos (225 registros) e número
de pessoas afetadas que envolvem desabrigados e desalojados(50.347 registros) (Figuras
1.6 e 1.7). A Região do Alto Tietê que engloba a Região Metropolitana de São Paulo
apresentou, neste período, o maior número de acidentes (567) e de óbitos (77). Em relação
ao número de pessoas afetadas, a Região do Ribeira de Iguape/Litoral Sul envolveu 18.327
pessoas, na maior parte em consequência de inundações (Brollo & Ferreira, 2009).
Figura 1.5 - Número e tipos de acidentes registrados no Estado de São Paulo, no período de 2000 a 2008
(CEDEC, 2009).
Figura 1.6 - Número de óbitos registrados no Estado de São Paulo, no período de 2000 a 2008 (CEDEC, 2009).
22 Desastres naturais: conhecer para prevenir
1.6. Considerações finais
As ações emergenciais de enfrentamento dos riscos decorrentes dos desastres
naturais são coordenadas e executadas pelo Sistema de Defesa Civil, estruturado em
nível federal, estadual e municipal. Desta forma, há uma estrutura organizacional com
diretrizes e planos de ação para os atendimentos emergenciais em todo território nacional.
Entretanto, as ações de prevenção aos desastres naturais não têm o mesmo tratamento,
ficando em segundo plano. Como observado por Carvalho & Galvão (2006), no Brasil,
apesar de já se dispor de conhecimentos técnicos desenvolvidos por universidades e
institutos de pesquisa para dar suporte técnico às ações de prevenção de riscos urbanos,
ainda é reduzido o número de municípios que contemplam a gestão de riscos em seus
planos de desenvolvimento urbano.
Em relação aos dados de ocorrência de desastres naturais no Brasil, a ausência de
um banco de dados nacional, dificulta a compreensão do comportamento dos desastres
naturais e suas consequências, conforme já apontado por Marcelino et al. (2006). As falhas
verificadas por estes autores nos dados brasileiros registrados pelo EM-DAT são bastante
significativas. Isto mostra a urgente necessidade de se organizar os dados referentes aos
desastres naturais em âmbito estadual e nacional, para que se tenha um quadro da realidade
brasileira e as informações necessárias para a prevenção e gestão destes desastres.
Outra questão que deve ser enfatizada é quanto à necessidade de respeitar e
fazer respeitar, por meio da fiscalização, a legislação ambiental, uma vez que as áreas de
preservação permanente (APPs), que abrangem as margens de corpos d’água (rios, lagos,
lagoas), as encostas íngremes e os topos de morros são naturalmente suscetíveis à inundação
e escorregamentos, com potencial de se tornarem áreas de risco, ao serem ocupadas.
Esta publicação foi elaborada com o objetivo de disseminar o conhecimento dos
fenômenos associados aos desastres naturais, bem como das medidas preventivas para evitar ou
reduzir seus danos, procurando, assim, contribuir com as ações de gestão de risco e principalmente
de prevenção de riscos urbanos em âmbito municipal e nas demais esferas do poder público.
Figura 1.7 - Número de afetados (desabrigados/desalojados), no período de 2000 a 2008 (CEDEC, 2009).
Desastres naturais: por que ocorrem? 23
Bibliografia recomendada
CARVALHO, C. S. & GALVÃO, T. (Org) 2006. Prevenção de Riscos de Deslizamentos em
Encostas: Guia para Elaboração de Políticas Municipais. Brasília: Ministério das Cidades;
Cities Alliance, 2006.
CASTRO, A. L. C.1999. Manual de planejamento em defesa civil. Vol.1. Brasília: Ministério da
Integração Nacional/ Departamento de Defesa Civil.133 p.
KOBIYAMA, M.; MENDONÇA, M.; MORENO, D.A.; MARCELINO, I.P.V.O;
MARCELINO, E.V.; GONÇALVES, E.F.; BRAZETTI, L.L.P.; GOERL, R.F.;MOLLERI,
G.S.F.; RUDORFF, F.M. 2006. Prevenção de Desastres Naturais: Conceitos Básicos. Curitiba:
Ed. Organic Trading. 109 p. Disponível em: http://www.labhidro.ufsc.br/publicacoes.html
MARCELINO, E. V. 2008. Desastres Naturais e Geoteconologias: Conceitos Básicos. Caderno
Didático nº 1. INPE/CRS, Santa Maria, 2008.


         
Mudança Climática e Energias Renováveis

André Santos Pereira
A Revolução Industrial marca, de forma muito clara, o início de um processo de transformações progressivas que vêm ocorrendo em diversas áreas da humanidade, sobretudo na economia, na sociedade, na tecnologia e no meio ambiente. As causas e consequências da mudança global do clima estão fortemente ligadas a estes quatro aspectos, e sua análise nos permite compreender melhor esta afirmação.
O advento do tear a vapor, que marca o começo da Revolução Industrial, representa também o início de um aumento acelerado do consumo de combustíveis fósseis. O carvão mineral tornava-se então o principal combustível das novas máquinas a vapor, cuja utilização cresceria de forma vertiginosa ao longo do século XIX. Posteriormente, a utilização de derivados do petróleo como fonte energética para iluminação através da sua combustão em lampiões, seguindo-se a isto uma ampliação fenomenal do uso de derivados de petróleo e do gás natural em motores de combustão, cujas finalidades foram se diversificando à medida em que o processo de industrialização seguia seu curso, explicam a explosão no consumo de combustíveis fósseis desencadeada pela Revolução Industrial.
Os combustíveis fósseis são formados pela decomposição de matéria orgânica através de um processo que leva milhares e milhares de anos e, por este motivo, não são renováveis ao longo da escala de tempo humana, ainda que ao longo de uma escala de tempo geológica esses combustíveis continuem a ser formados pela natureza. O carvão mineral, os derivados do petróleo (tais como a gasolina, óleo diesel, óleo combustível, o GLP - ou gás de cozinha -, entre outros) e ainda, o gás natural, são os combustíveis fósseis mais utilizados e mais conhecidos.
O aumento do controle e do uso, por parte do Homem, da energia contida nesses combustíveis fósseis, abundantes e baratos, foi determinante para as transformações econômicas, sociais, tecnológicas - e infelizmente ambientais - que vêm ocorrendo desde então.
Dentre as conseqüências ambientais do processo de industrialização e do inerente e progressivo consumo de combustíveis fósseis - leia-se energia -, destaca-se o aumento da contaminação do ar por gases e material particulado, provenientes justamente da queima destes combustíveis, gerando uma série de impactos locais sobre a saúde humana. Outros gases causam impactos em regiões diferentes dos pontos a partir dos quais são emitidos, como é o caso da chuva ácida.
A mudança global do clima é um outro problema ambiental, porém bastante mais complexo e que traz consequências possivelmente catastróficas. Este problema vem sendo causado pela intensificação do efeito estufa que, por sua vez, está relacionada ao aumento da concentração, na atmosfera da Terra, de gases que possuem características específicas. Estes gases permitem a entrada da luz solar, mas impedem que parte do calor no qual a luz se transforma volte para o espaço. Este processo de aprisionamento do calor é análogo ao que ocorre em uma estufa - daí o nome atribuído a esse fenômeno e também aos gases que possuem essa propriedade de aprisionamento parcial de calor, chamados de gases de efeito estufa (GEE), dentre os quais destaca-se o dióxido de carbono (CO2).
É importante notar que o dióxido de carbono, bem como os outros GEE em geral (vapor d'água, por exemplo), não causam, em absoluto, nenhum dano à saúde e não "sujam" o meio ambiente. Seria incorreto classificar estes gases como poluentes -, já que os mesmos não possuem as duas características básicas de um poluente segundo a definição tradicional do termo (idéia de dano à saúde e/ou sujeira). Todavia, novas definições de poluição, mais técnicas e abrangentes, fizeram-se necessárias e surgiram ao longo da última década, fazendo com que os gases de efeito estufa fossem classificados como poluentes.
Essas novas definições, porém, são muito pouco usuais e o cidadão comum não tem, em geral, acesso às mesmas. Mais do que simplificar a comunicação, a classificação dos gases de efeito estufa como poluentes confunde o público leigo, induzindo-o a pensar erroneamente que esses gases causam danos à saúde e/ou que têm efeito local, o que não é verdade. Por este motivo, recomenda-se que o termo emissão de gases de efeito estufa seja utilizado em substituição à poluição, sobretudo fora do meio especializado.
Cabe lembrar que o efeito estufa existe na Terra independentemente da ação do homem. É importante que este fenômeno não seja visto como um problema: sem o efeito estufa, o sol não conseguiria aquecer a Terra o suficiente para que ela fosse habitável. A temperatura média do planeta estaria em torno de 17º C negativos, cerca de 32º C inferior à temperatura média atual. Portanto o problema não é o efeito estufa, mas sim sua intensificação.
É importante notar também que o aumento das emissões e das concentrações atmosféricas de CO2, ocorrido a partir da RI, está nitidamente relacionado ao aumento do consumo dos combustíveis fósseis. Por sua vez, o aumento da presença do CO2 e de outros GEE, medidos pela sua concentração, é o responsável pela intensificação do efeito estufa e pelo aumento do calor aprisionado na atmosfera. Este calor adicional ou, dito de outra forma, este delta de energia térmica, tem uma influência determinante sobre o funcionamento do clima do planeta, já que essa energia é a responsável pela circulação dos ventos e dos oceanos, pela evaporação e pela precipitação.
Sendo assim, por meio desse processo, o Homem vem interferindo no funcionamento do sistema climático. Isto é o que afirma de forma categórica o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, ou simplesmente IPCC - do inglês Intergovernmental Panel on Climate Change, formado por milhares de cientistas do mundo, inclusive do Brasil. Dentre as consequências desta interferência do Homem sobre o clima da Terra, destacam-se o aumento da temperatura média do planeta, a elevação do nível dos oceanos, o derretimento das geleiras e das calotas polares, perda de biodiversidade, aumento da incidência de doenças transmissíveis por mosquitos e outros vetores (malária, febre amarela, dengue e esquistossomose por exemplo), mudanças no regime de chuvas, intensificação de fenômenos extremos (tais como secas, inundações, furacões e tempestades tropicais), desertificação, perda de áreas agriculturáveis, acirramento dos problemas relacionados ao abastecimento de água doce, aumento de fluxos migratórios, entre outras.
A mudança climática coloca em questão os padrões de produção e consumo hoje vigentes, já que, como foi visto, suas causas estão ligadas sobretudo à queima/consumo de combustíveis fósseis, principal fonte primária da energia e força motriz da economia global. Atualmente fala-se muito em descarbonizar a matriz energética mundial, isto é, em aumentar a participação das energias renováveis em detrimento dos combustíveis fósseis. Isto seria uma condição necessária mas não suficiente para a atenuação da mudança do clima, que depende também de outras mudanças na infra-estrutura, na tecnologia e na economia.
Algumas fontes renováveis de energia, como a solar e a eólica por exemplo, não geram a emissão de GEE. Ora, a maioria destes contém o elemento carbono em sua composição, e por este motivo o termo descarbonizar vem sendo utilizado com este novo significado. Cabe ainda mencionar a energia hidrelétrica, outra fonte renovável, cujas emissões de GEE atualmente são consideradas inexistentes pelo IPCC. No entanto, é importante citar estudos coordenados pela COPPE/UFRJ que revelam a existência de emissões de GEE, principalmente o CO2 e o metano (CH4), nos reservatórios das grandes usinas hidrelétricas. A despeito da complexidade do assunto e da incompletude da pesquisa, é possível afirmar que uma unidade de energia gerada em usinas hidrelétricas contém menor quantidade de GEE do que uma unidade de energia gerada em usinas termelétricas com combustíveis fósseis e, por este motivo, do ponto de vista de mudança do clima, as usinas hidrelétricas, principalmente as de pequena escala, são bem vindas.
Outras fontes renováveis geram, contudo, a emissão de GEE, como por exemplo o álcool etílico e do biodiesel (produzido a partir de oleaginosas, gordura animal ou até mesmo de óleo vegetal usado). Os processos de queima destes combustíveis geram CO2. No entanto, este CO2 faz parte de um ciclo renovável, ou seja, é retirado da atmosfera através da fotossíntese e fixado temporariamente na biomassa a partir do qual são produzidos os combustíveis (cana-de-açúcar, soja, etc.), até que estes sejam queimados novamente, formando-se com isto um ciclo. Este ciclo renovável é infinitamente mais curto do que o ciclo dos combustíveis fósseis.
É fundamental termos a exata noção da complexidade da descarbonização da matriz energética mundial. Esta é uma questão intrincada, já que não é possível prescindirmos de energia - e muita - e as fontes fósseis atualmente representam cerca de 80% da energia primária consumida no mundo, em que pese o crescimento recente das fontes renováveis. A energia fóssil, além da principal força motriz do sistema econômico mundial, também influencia de forma significativa a quantidade e o tipo dos bens produzidos na economia mundial, e a redução no uso de combustíveis fósseis depende de mudanças radicais, incluindo novas tecnologias e realocações econômicas no setor industrial e de transportes. Esta redução exigirá, por exemplo, que determinadas empresas - como empresas de geração de energia termelétrica a carvão, para citar uma - ou realizem uma mudança no núcleo dos seus negócios, ou sofram uma perda significativa de mercado. Isto tem gerado uma forte resistência por parte de algumas dessas empresas, muitas do quais possuem enorme peso econômico e político no cenário internacional.
A análise histórica da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima revela muito bem este conflito de interesses. Esta Convenção, que na verdade é apenas uma carta de princípios e objetivos, prevê em seu texto a continuidade do processo de negociação em torno dos meios pelos quais seus objetivos - sobretudo a estabilização da concentração de GEE na atmosfera - devem ser atingidos.
O Protocolo de Quioto, que foi adotado em dezembro de 1997 na cidade japonesa de mesmo nome pelos países que assinaram a Convenção, é um instrumento jurídico que representa justamente a continuidade do processo de negociação. O Protocolo de Quioto necessitava ainda de uma série de regulamentos complementares, o que foi concluído em Marraqueche no final de 2001. O alcance dos objetivos da Convenção, que também são do Protocolo, depende, dentre outros fatores, da descarbonização da matriz energética mundial - e isto em maior ou menor escala, dependendo dos cenários futuros de crescimento econômico, populacional e das mudanças tecnológicas.
O Protocolo representa uma diretriz na direção dessa descarbonização, ainda que não de forma explícita. Primeiro, estabelece metas quantitativas para reduzir as emissões de GEE, porém exclusivamente para as Partes da Convenção listadas no chamado Anexo I. Neste Anexo I, encontram-se listadas as economias industrializadas e as repúblicas da extinta União Soviética. Esta separação é feita porque a Convenção reconhece que esses países são os maiores responsáveis pelo problema e devem tomar a iniciativa para combatê-lo, em consonância com o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas, adotado em seu texto. De fato, estudos cientificamente consistentes revelam que a responsabilidade dos países em desenvolvimento (Não-Anexo I) é, em termos de contribuição para o aumento da temperatura média do planeta, ainda é muito pequena em relação aos países desenvolvidos (parte significativa do Anexo I), e permanecerá inferior até o final deste século.

As metas quantitativas para redução de emissão de GEE impostas pelo Protocolo são modestas do ponto de vista ambiental, pois contribuem muito pouco para a redução das emissões globais de GEE. Apesar disto, o cumprimento dessas metas não é de forma alguma tarefa simples. Sendo assim, para conferir alguma flexibilidade aos países do Anexo I, de forma que pudessem atingir suas metas mais facilmente, o Protocolo estabeleceu 3 mecanismos de mercado, dentre os quais o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), o único que envolve diretamente países em desenvolvimento. As metas de redução do Protocolo, conjugadas aos mecanismos de mercado, tendem a gerar um custo de oportunidade para a geração de energia baseada em combustíveis fósseis, fomentando o uso de energias renováveis. A grosso modo, o Protocolo induziria a uma mudança do preço relativo entre fontes de energia fósseis e renováveis.
Ainda que absolutamente inaceitável, por se tratar de uma decisão unilateral tomada em um processo voluntário de negociação multilateral, existente desde 1990, é de fácil entendimento o anúncio feito em março de 2001, pelo presidente George W. Bush, de que os EUA estavam abandonando o Protocolo de Quioto. O posicionamento da administração norte-americana era uma nítida reação, por parte da indústria de combustíveis fósseis, face à iminente perda de market share, o que, como vimos, tende a acontecer no caso do Protocolo entrar em vigor. Ora, esta indústria está muito bem representada pela atual administração da maior potência econômica e militar do planeta!
A mudança climática exemplifica muito bem a intrincada relação entre economia, energia, tecnologia, sociedade e seus impactos sobre o meio ambiente. Por vários motivos, a mudança climática é um dos problemas ambientais mais graves do século: ela intensifica e é intensificada por outros problemas ambientais locais e regionais, o combate às suas causas é extremamente complexo, envolvendo intrincadas questões políticas e econômicas, além de possuir um caráter inercial - ou seja, as causas permanecem atuando por décadas mesmo depois de eliminadas. Ademais, suas consequências são possivelmente catastróficas e muitas delas irreversíveis.
A saída dos EUA do Protocolo de Quioto representa um retrocesso significativo em um caminho longo e árduo, que a humanidade tem que percorrer na direção de uma matriz energética mundial baseada, em sua maior parte, nas fontes renováveis de energia. Isto é condição necessária, ainda que não suficiente, para atenuar este grave problema e para que o bem-estar das gerações futuras não seja seriamente comprometido.
André Santos Pereira é Doutorando do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ. O autor agradece ao Prof. Roberto Schaeffer pela oportunidade de escrever este artigo.

(*) Cristovam Buarque, doutor em economia e professor do Departamento de Economia da UnB (Universidade de Brasília), foi governador do Distrito Federal pelo PT (1995-98). Autor, entre outras obras, de “A Segunda Abolição” (editora Paz e Terra).

Notas:
Este artigo foi publicado no Globo e no Correio Brasiliense, no final de 2000. O fato em si ocorreu em Setembro de 2000 em Nova York, durante o State of The World Forum.