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terça-feira, 21 de setembro de 2010

ANÁLISE DE FILMES;

Tempos modernos [filme] Enviado sab, 27/03/2010 - 19:38 por Thiago Henrique... Tempos modernos (Abaixo, uma breve análise do filme “Tempos modernos”, exibido dia 27 de março. Lembro que outras interpretações são válidas — e bem-vindas —: avaliar criticamente é um direito de todos.) Tempos modernos (1936), dirigido por Charlie Chaplin, foi escolhido como segundo filme a ser exibido, e não por acaso: depois de A guerra do fogo, seria interessante outro filme que trabalhasse com algumas das mesmas questões (o avanço técnico e tecnológico, as relações sociais, a comunicação, a instrumentalidade), mas vistas de uma perspectiva histórico-social diferente. Ainda que trate de um tema sério, o filme de Chaplin apresenta cenas engraçadas; mas mais do que nos fazer rir por diversão, o riso pode funcionar como uma arma poderosa quando se mostra uma expressão do drama que assistimos — e que vivemos atualmente. Podemos rir de situações engraçadas vivenciadas por Carlitos, mas não podemos nos esquecer de que a época atual é a continuação da época representada no filme, continuação esta que de certo modo é ainda mais grave do que a retratada na fábrica e nas ruas da cidade em Tempos modernos. Vale lembrar que o filme foi lançado em 1936, o que nos remete a um acontecimento importante ocorrido nos Estados Unidos e que devemos ter em mente para compreender melhor a história: a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque; focaliza-se, portanto, a vida urbana dos EUA na década de 30. Vejamos, agora, alguns pontos interessantes do filme, mas sem entrar em muitas especulações (é mais útil apontarmos caminhos para que cada um siga do que apontar apenas um, que acaba por ser compreendido erroneamente como “o único possível”; fica, pois, o convite para que interpretem as situações listadas abaixo, aceitando ou negando o que sobre elas se dirá). A respeito das primeiras cenas, que se passam dentro da fábrica, é bem nítida a crítica satírica feita sobre o sistema capitalista e a industrialização (ou, em duas palavras, sobre o “capitalismo industrial”). É mostrada a vida na sociedade industrial, caracterizada pela produção em massa, pela linha de montagem e pela especialização do trabalho. Tais pontos, vale lembrar, referem-se ao Fordismo, modo de produção capitalista baseado em inovações organizacionais e técnicas que se articulam a fim de se garantir uma maior racionalização e objetividade da produção; o trabalho é simplificado, fragmentando, e cada operário é responsável apenas por uma pequena parte do todo (algo bem diferente de tempos mais remotos, em que os artesãos, por exemplo, responsabilizavam-se pela produção total de um produto, do início ao fim, realizando todas as etapas do processo). Isso é bem nítido nas cenas iniciais do filme, quando Carlitos, na linha de montagem, é responsável por uma única coisa: apertar parafusos. Algo interessante de se notar é que o sistema fordista de produção requer menos tempo para a formação e o treinamento do trabalhador, algo útil na produção capitalista por não exigir pessoas com maior qualificação para fazer o trabalho. Assim, operários também são, de certa maneira, produzidos “em massa”: uma simples pessoa do povo, sem grande formação educacional, pode rapidamente ser transformada em um trabalhador para a linha de montagem. A charge acima é significativa se levarmos em conta o filme. Nele, não sabemos o que a fábrica produz. Ainda que possamos vê-la de dentro, seu maquinário, seus operários, não sabemos o que ali se produz; não são apenas os trabalhadores (tanto os da charge acima quanto os do filme) que desconhecem o que estão ajudando a fazer, pois nós também não temos esse conhecimento. Outro ponto importante é a produção acelerada (ainda mais quando o diretor ordena que a produção seja acelerada). É válido, sobre isso, notarmos os efeitos que essa rapidez causa nos trabalhadores, que mal dão conta de seguir o ritmo imposto. Note-se o uso da expressão “ritmo imposto”, pois os operários não têm o direito de ditar o ritmo do processo; na verdade, é a máquina (sob as ordens do capitalista) que impõe o ritmo, não os operários que as manuseiam. Nesse ponto podemos nos lembrar de um conceito importante, que é o de “fetichização”, ou seja, uma espécie de “culto à máquina”, admirada pelo capitalista por ser o aparelho tecnológico que lhe permite a criação de novos produtos e, consequentemente, o lucro. E se por um lado o maquinário tem extrema importância nesse processo, por outro lado o operário não tem grande valor, torna-se um artigo descartável — afinal, se não estiver fazendo bem sua parte, com facilidade pode ser substituído por outro (vale lembrar: mão de obra sem qualificação para esse tipo de trabalho não é algo difícil de se encontrar). Nesse sentido, nota-se tanto a mecanização da fábrica quanto a mecanização do trabalhador: este é alienado, está robotizado, agindo maquinalmente, fazendo incessantemente os mesmos movimentos. E essa situação, claro, acaba por ter resultados negativos, o que é ilustrado no filme pela crise nervosa de Carlitos, que “surta” depois do desgaste que sofreu. Ele, e os outros trabalhadores, são vítimas de uma situação na qual acabam por se tornar impessoais (são números, não pessoas), tendo sua vida prejudicada, tornada fria, dura, automatizada, irrefletida, acelerada, instantânea, pois a rapidez é essencial para a existência desse “homem moderno” — que não foi feito para viver sob a pressão desse ritmo incessante. O operário torna-se, nesse meio, uma coisa; é negado, engolido pelo poder do capital, e até mesmo perseguido se tentar qualquer espécie de revolta. É o que nos mostram as cenas posteriores, nas quais vemos o início de um protesto por parte de Carlitos. Mas esse protesto não é calculado, organizado: ocorre por acaso, quando Carlitos levanta uma bandeira vermelha (simbologia que nos liga ao Socialismo) e a multidão passa a acompanhá-lo, talvez realizando aquilo que queria realizar (o protesto) mas que nunca o havia feito por não ter um líder que iniciasse uma revolta. O curioso é que esse protesto também acaba sendo feito de forma automática, e os operários, maquinalmente, seguem cegamente quem lhes levante a bandeira. Durante todo o filme, há cenas muito interessantes que nos instigam a pensar a respeito. Vejamos algumas delas. Já na primeira cena temos uma questão interessante; nela, enquanto aparecem os créditos do filme, vemos ao fundo um relógio. Ora, um relógio nos faz lembrar de tempo, e se tivermos em mente a célebre frase moderna “tempo é dinheiro”, poderemos compreender que essa cena inicial é o prenúncio daquilo que será mostrado depois: a fábrica em ritmo frenético; a aceleração da produção, ordenada pelo diretor; a falta de tempo dos trabalhadores para descansar por um instante (ponto que fica claro se nos lembrarmos de quando Carlitos para descansar e acaba interferindo no processo todo, chegando até a ser necessário parar a linha de montagem). Outra cena emblemática é a que se segue ao close up do relógio: nela, vemos um rebanho de ovelhas, uma série de animais que totalizam uma massa sem identidade. O que torna a cena interessante é a mescla feita para uma cena posterior, quando então podemos ver uma multidão de homens e ficamos com a forte sugestão de serem, também, uma massa sem identidade, tratada como um grupo de animais: os operários, como já dissemos, perdem sua humanidade, sua individualidade, a partir do momento em que são inseridos nessa massa sem face. Como resultado, eles se tornam alienados, isto é, passam a viver sem conhecer ou compreender a realidade social e política que os cerca, deixando, por isso, que sejam influenciados e condicionado a agirem como agem, mas sem pensarem sobre a maneira como atuam. O que também podemos notar durante o filme é a clara distinção entre ricos e pobres. Na fábrica, a imagem do burguês em seu terno choca-se com as cenas que nos apresentam os trabalhadores em seus trajes sujos. Essa desigualdade ficará visível em outros momentos do filme, e ficará clara a configuração de uma situação em que a exploração do operário, do trabalhador, do proletariado, é que permite todo conforto e todo divertimento da burguesia: o lucro gerado pelo trabalho das massas desfavorecidas move o mundo de riquezas da classe mais abastada. Mais um ponto interessante é o que diz respeito ao filme em si, que é mudo. Mas não é totalmente mudo: se, por um lado, os operários não têm voz, por outro lado o burguês é o único que a tem. Isso é significativo, pois nos aponta a situação da sociedade capitalista, na qual aqueles que detêm o poder, o capital, podem expressar o que pensam, podem se fazer ouvir, mas a massa de trabalhadores não; a ela resta a obediência silenciosa. Mas podemos também notar que o rádio tem “voz”: ouvimos as palavras do locutor e, se quisermos, podemos ouvir uma espécie de eco dessa situação, qual seja, o rádio, os meios de comunicação, como uma extensão do sistema capitalista, isto é, a parte midiática de seu poder. Isso é bastante visível atualmente, já que os meios de comunicação monopolizam a informação e acabamos por consumir apenas aquilo que julgam ser notícia válida; não somos nós que escolhemos saber o que aconteceu, pois essa escolha é feita por nós, que estamos no fim dessa cadeia (que, para sermos poéticos, nos prende). Afinal, as informações de que dispomos podem passar, sem que suspeitemos, por uma série de “lavagens”, de modo que recebemos notícias “impuras” e, geralmente, tendenciosas. Em outra cena célebre, Carlitos é engolido pela maquinaria. Ainda que engraçada, ela nos aponta uma situação preocupante: Carlitos, o operário, torna-se momentaneamente parte da máquina — seja literalmente, dentro das engrenagens, seja metaforicamente, dentro do sistema de produção em que ele, como mão de obra, é uma parte, uma peça do todo. Isso nos leva ao conceito de “reificação”, ou seja, um processo a partir do qual a atividade produtiva (e os trabalhadores que dela fazem parte), as relações sociais e a subjetividade humana se identificam com a condição do inanimado; o homem é transformado em coisa (e tratado como coisa), tendo seus sentimentos ignorados pelo sistema, tornando-se embrutecido, inumano; em suma, é aceito como um objeto. Outra cena pilhérica é a do “revolucionário” aparelho automático de alimentação. Podemos rir com a imagem de Carlitos sofrendo com a máquina a entupir-lhe com comida, mas isso traz à tona algo sério: a tecnologização das coisas banais do cotidiano. Os homens, sob a vontade de facilitarem suas vidas (talvez querendo facilitá-la demais), criam aparelhos que realizem atos comuns. Hoje em dia temos escovas de dente elétricas, facas elétricas, lâmpadas que são acesas sem a necessidade de tocarmos em um interruptor... Por mais que algumas invenções de fato facilitem nosso viver (o automóvel, a lâmpada, o computador), é importante não fazermos delas mestras de nossas vidas; isso ocorrendo, cada vez mais seremos servos das máquinas, estaremos sujeitados até chegar um ponto em que não saberemos mais viver sem elas (se ficarmos uma semana acampados em algum lugar afastado da cidade, viveremos na pele essa situação e sentiremos a falta que algumas invenções fazem). Nesse processo de desenvolvimento acelerado, poderemos compreender que tal situação transparece como um grande limitador das relações humanas: o tempo é cada vez mais gasto com máquinas, e nós, ainda que não sejamos Carlitos, ficamos a cada dia mais “maquinizados” e impessoais ao fazermos de nós mesmos pessoas dependentes dos instrumentos tecnológicos. Voltando à cena, o que a torna engraçada é o fato de que, nesse caso, a máquina não melhora a situação para a qual foi concebida; incontrolável, ele acaba por atrapalhar e fazer de uma ação simples (comer) uma situação maquinal, artificial e, de certo modo, perigosa. Mas esse aparelho automático de alimentação pode nos fazer pensar em algo mais: se tivermos em mente que ela foi concebida para que os trabalhadores se alimentassem mais rapidamente, assim sobrando mais tempo para o trabalho e para o lucro do capitalista, poderemos trazer tal situação para nossos dias e perceber que é exatamente esta a lógica das redes de fast-food, onde podemos comer (mal, mas sem perder tempo) e voltar ao trabalho. Em outra ocasião, o capitalista em sua sala é visto tomando um comprimido. Não podemos saber do que se trata, mas podemos fazer uma ligação com o mundo atual e lembrar de doenças como a úlcera gástrica, a dor de cabeça e o stress, problemas de saúde eminentemente “modernos”. Alguns estudos científicos já relacionaram o stress, por exemplo, como efeito de uma vida acelerada, em que somos abocanhados por prazos, tempo curto, pouco dinheiro, problemas e preocupações diárias que, aos poucos, nos levam ao célebre “estado de nervos”. A propósito, não é outra a situação a que chega Carlitos quando “surta”. Não é, pois, apenas o capitalista que sofre com esses problemas: é sobretudo o trabalhador a vítima dessas complicações da vida moderna. E Carlitos, em crise nervosa, comporta-se de modo instigante ao apresentar atitudes anti-hierárquicas. Lembremo-nos, por exemplo, que ele joga óleo no patrão. E, ainda para especular, não poderíamos dizer que essa atitude não é uma forma de deixar implícito que todos os personagens dessa situação (Carlitos, os outros operários, o capitalista...) não passam de engrenagens dessa gigantesca máquina capitalista, e que precisam ser “lubrificados” para “funcionarem” melhor? Outra interessante cena é aquela em que Carlitos acende um cigarro no banheiro. O que temos, quase que imediatamente, é a aparição do capitalista numa tela gigante, mostrando-se onipresente e colocando em dúvida a validade e a existência, nessa sociedade, de direitos como a liberdade e a privacidade. Se nos lembrarmos da atualidade, saberemos bem que ter privacidade não é algo tão fácil quando estamos em muitos momentos sendo filmados por câmeras em uma situação que, se por um lado, tem o intuito de nos garantir maior proteção, por outro lado nos faz suspeitos em potencial. Longe de ser uma situação agradável, é algo que nos rouba muito de nossa intimidade, além de ser uma condição um tanto irônica quando lemos as famigeradas placas de “sorria, você está sendo filmado!” — sorrir? Mas qual é a graça? No geral, o que temos em Tempos modernos é um constante movimento de máquinas, de homens e também do Estado (representado pela polícia, por exemplo), buscando a ordem em uma sociedade feita de contradições — o que resulta em uma situação de constantes e inevitáveis conflitos. O filme, ainda que retrate os altos e baixos de Carlitos, não nos deixa ilesos porque podemos reconhecer na sociedade apresentada pelo filme a nossa própria sociedade. Em outras palavras, e como disse Villegas Lôpez, “em Tempos modernos não temos mais o drama de Carlitos, mas Carlitos vivendo nosso drama”. E por ser nosso esse drama que se evidencia em cada cena do filme, não podemos deixar de trazer questões que as imagens nos incitam a fazer. Uma delas, e talvez a mais preocupante, é: se tomarmos por base o mundo atual, o que Tempos modernos nos evidencia seria uma sátira ou uma espécie de profecia? E ainda podemos questionar: todo esse avanço tecnológico de fato atinge o objetivo de melhorar a vida de todos, da sociedade em geral, ou apenas a de alguns? Há, obviamente, outras muitas perguntas que poderíamos fazer. Fica o convite para fazermos esse levantamento e tentarmos (por que não?) responder algumas das interrogações. Para finalizar, dois poemas. O primeiro, escrito por Carlos Drummond de Andrade, diz respeito a Carlitos, o célebre personagem criado e personificado por Charlie Chaplin e que nos conduziu nesse passeio chamado “Tempos modernos”. O segundo, de Fernando Pessoa (sob o heterônimo de Álvaro de Campos), a cantar o novo mundo das máquinas que se estende, insaciável, desde o advento da Revolução Industrial. Canto ao homem do povo Carlos Drummond de Andrade I Era preciso que um poeta brasileiro, não dos maiores, porém dos mais expostos à galhofa, girando um pouco em tua atmosfera ou nela aspirando a viver como na poética e essencial atmosfera dos sonhos lúcidos, era preciso que esse pequeno cantor teimoso, de ritmos elementares, vindo da cidadezinha do interior onde nem sempre se usa gravatas mas todos são extremamente polidos e a opressão é detestada, se bem que o heroísmo se banhe em ironia, era preciso que um antigo rapaz de vinte anos, preso à tua pantomima por filamentos de ternura e riso dispersos no tempo, viesse recompô-los e, homem maduro, te visitasse para dizer-te algumas coisas, sobcolor de poema. Para dizer-te como os brasileiros te amam e que nisso, como em tudo mais, nossa gente se parece com qualquer gente do mundo — inclusive os pequenos judeus de bengalinha e chapéu-coco, sapatos compridos, olhos melancólicos, vagabundos que o mundo repeliu, mas zombam e vivem nos filmes, nas ruas tortas com tabuletas: Fábrica, Barbeiro, Polícia, e vencem a fome, iludem a brutalidade, prolongam o amor como um segredo dito no ouvido de um homem do povo caído na rua. Bem sei que o discurso, acalanto burguês, não te envaidece, e costumas dormir enquanto os veementes inauguram estátua, e entre tantas palavras que como carros percorrem as ruas, só as mais humildes, de xingamento ou beijo, te penetram. Não é a saudação dos devotos nem dos partidários que te ofereço, eles não existem, mas a de homens comuns, numa cidade comum, nem faço muita questão da matéria de meu canto ora em torno de ti como um ramo de flores absurdas mando por via postal ao inventor dos jardins. Falam por mim os que estavam sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo, que entraram no cinema com a aflição de ratos fugindo da vida, são duras horas de anestesia, ouçamos um pouco de música, visitemos no escuro as imagens — e te descobriram e salvaram-se. Falam por mim os abandonados da justiça, os simples de coração, os parias, os falidos, os mutilados, os deficientes, os indecisos, os líricos, os cismarentos, os irresponsáveis, os pueris, os cariciosos, os loucos e os patéticos. E falam as flores que tanto amas quando pisadas, falam os tocos de vela, que comes na extrema penúria, falam a mesa, os botões, os instrumentos do ofício e as mil coisas aparentemente fechadas, cada troço, cada objeto do sótão, quanto mais obscuros mais falam. II A noite banha tua roupa. Mal a disfarças no colete mosqueado, no gelado peitilho de baile, de um impossível baile sem orquídeas. És condenado ao negro. Tuas calças confundem-se com a treva. Teus sapatos inchados, no escuro do beco, são cogumelos noturnos. A quase cartola, sol negro, cobre tudo isto, sem raios. Assim, noturno cidadão de uma república enlutada, surges a nossos olhos pessimistas, que te inspecionam e meditam: Eis o tenebroso, o viúvo, o inconsolado, o corvo, o nunca-mais, o chegado muito tarde a um mundo muito velho. E a lua pousa em teu rosto. Branco, de morte caiado, que sepulcros evoca mas que hastes submarinas e álgidas e espelhos e lírios que o tirano decepou, e faces amortalhadas em farinha. O bigode negro cresce em ti como um aviso e logo se interrompe. É negro, curto, espesso. O rosto branco, de lunar matéria, face cortada em lençol, risco na parede, caderno de infância, apenas imagem entretanto os olhos são profundos e a boca vem de longe, sozinha, experiente, calada vem a boca sorrir, aurora, para todos. E já não sentimos a noite, e a morte nos evita, e diminuímos como se ao contato de tua bengala mágica voltássemos ao país secreto onde dormem os meninos. Já não é o escritório e mil fichas, nem a garagem, a universidade, o alarme, é realmente a rua abolida, lojas repletas, e vamos contigo arrebentar vidraças, e vamos jogar o guarda no chão, e na pessoa humana vamos redescobrir aquele lugar — cuidado! — que atrai os pontapés: sentenças de uma justiça não oficial. III Cheio de sugestões alimentícias, matas a fome dos que não foram chamados à ceia celeste ou industrial. Há ossos, há pudins de gelatina e cereja e chocolate e nuvens nas dobras do teu casaco. Estão guardados para uma criança ou um cão. Pois bem conheces a importância da comida, o gosto da carne, o cheiro da sopa, a maciez amarela da batata, e sabes a arte sutil de transformar em macarrão o humilde cordão de teus sapatos. Mais uma vez jantaste: a vida é boa. Cabe um cigarro: e o tiras da lata de sardinhas. Não há muitos jantares no mundo, já sabias, e os mais belos frangos são protegidos em pratos chineses por vidros espessos. Há sempre o vidro, e não se quebra, há o aço, o amianto, a lei, há milícias inteiras protegendo o frango, e há uma fome que vem do Canadá, um vento, uma voz glacial, um sopro de inverno, uma folha baila indecisa e pousa em teu ombro: mensagem pálida que mal decifras o cristal infrangível. Entre a mão e a fome, os valos da lei, as léguas. Então te transformas tu mesmo no grande frango assado que flutua sobre todas as fomes, no ar; frango de ouro e chama, comida geral, que tarda. IV O próprio ano novo tarda. E com ele as amadas. No festim solitário teus dons se aguçam. És espiritual e dançarino e fluido, mas ninguém virá aqui saber como amas com fervor de diamante e delicadeza de alva, como, por tua mão a cabana se faz lua. Mundo de neve e sal, de gramofones roucos urrando longe o gozo de que não participas. Mundo fechado, que aprisiona as amadas e todo o desejo, na noite, de comunicação. Teu palácio se esvai, lambe-te o sono, ninguém te quis, todos possuem, tudo buscaste dar, não te tomaram. Então encaminhas no gelo e rondas o grito. Mas não tens gula de festa, nem orgulho nem ferida nem raiva nem malícia. És o próprio ano-bom, que te deténs. A casa passa correndo, os copos voam, os corpos saltam rápido, as amadas te procuram na noite... e não te veem, tu pequeno, tu simples, tu qualquer. Ser tão sozinho em meio a tantos ombros, andar aos mil num corpo só, franzino, e ter braços enormes sobre as casas, ter um pé em Guerrero e outro no Texas, falar assim a chinês a maranhense, a russo, a negro: ser um só, de todos, sem palavra, sem filtro, sem opala: há uma cidade em ti, que não sabemos. V Uma cega te ama. Os olhos abrem-se. Não, não te ama. Um rico, em álcool, é teu amigo e lúcido repele tua riqueza. A confusão é nossa, que esquecemos o que há de água, de sopro e de inocência no fundo de cada um de nós, terrestres. Mas, ó mitos que cultuamos, falsos: flores pardas, anjos desleais, cofres redondos, arquejos poéticos acadêmicos; convenções do branco, azul e roxo; maquinismos, telegramas em série, e fábricas e fábricas e fábricas de lâmpadas, proibições, auroras. Ficaste apenas um operário comandado pela voz colérica do megafone. És parafuso, gesto, esgar. Recolho teus pedaços: ainda vibram, lagarto mutilado. Colo teus pedaços. Unidade estranha é a tua, em mundo assim pulverizado. E nós, que a cada passo nos cobrimos e nos despimos e nos mascaramos, mal retemos em ti o mesmo homem, aprendiz bombeiro caixeiro doceiro emigrante forçado maquinista noivo patinador soldado músico peregrino artista de circo marquês marinheiro carregador de piano apenas sempre entretanto tu mesmo, o que não está de acordo e é meigo, o incapaz de propriedade, o pé errante, a estrada fugindo, o amigo que desejaríamos reter na chuva, no espelho, na memória e todavia perdemos VI Já não penso em ti. Penso no ofício a que te entregas. Estranho relojoeiro cheiras a peça desmontada: as molas unem-se, o tempo anda. És vidraceiro. Varres a rua. Não importa que o desejo de partir te roa; e a esquina faça de ti outro homem; e a lógica te afaste de seus frios privilégios. Há o trabalho em ti, mas caprichoso, mas benigno, e dele surgem artes não burguesas, produtos de ar e lágrimas, indumentos que nos dão asa ou pétalas, e trens e navios sem aço, onde os amigos fazendo roda viajam pelo tempo, livros se animam, quadros se conversam, e tudo libertado se resolve numa efusão de amor sem paga, e riso, e sol. O ofício é o ofício que assim te põe no meio de nós todos, vagabundo entre dois horários; mão sabida no bater, no cortar, no fiar, no rebocar, o pé insiste em levar-te pelo mundo, a mão pega a ferramenta: é uma navalha, e ao compasso de Brahms fazes a barba neste salão desmemoriado no centro do mundo oprimido onde ao fim de tanto silêncio e oco te recobramos. Foi bom que te calasses. Meditavas na sombra das chaves, das correntes, das roupas riscadas, das cercas de arame, juntavas palavras duras, pedras, cimento, bombas, invectivas, anotavas com lápis secreto a morte de mil, a boca sangrenta de mil, os braços cruzados de mil. E nada dizias. E um bolo, um engulho formando-se. E as palavras subindo. Ó palavras desmoralizadas, entretanto salvas, ditas de novo. Poder da voz humana inventando novos vocábulos e dando sopros exaustos. Dignidade da boca, aberta em ira justa e amor profundo, crispação do ser humano, árvore irritada, contra a miséria e a fúria dos ditadores, ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode caminham numa estrada de pó e de esperança. Ode triunfal Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! Em fúria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos dissecados fora, Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical - Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força - Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro, Porque o presente é todo o passado e todo o futuro E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão, E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta, Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem, Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes, Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando, Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma. Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina! Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo! Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento A todos os perfumes de óleos e calores e carvões Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável! Fraternidade com todas as dinâmicas! Promíscua fúria de ser parte-agente Do rodar férreo e cosmopolita Dos comboios estrénuos, Da faina transportadora-de-cargas dos navios, Do giro lúbrico e lento dos guindastes, Do tumulto disciplinado das fábricas, E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão! Horas europeias, produtoras, entaladas Entre maquinismos e afazeres úteis! Grandes cidades paradas nos cafés, Nos cafés - oásis de inutilidades ruidosas Onde se cristalizam e se precipitam Os rumores e os gestos do Útil E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo! Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares! Novos entusiasmos de estatura do Momento! Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas, Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos! Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific! Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis, Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots, E Piccadillies e Avenues de L'Opéra que entram Pela minh'alma dentro! Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule! Tudo o que passa, tudo o que pára às montras! Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos; Membros evidentes de clubes aristocráticos; Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete De algibeira a algibeira! Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa! Presença demasiadamente acentuada das cocotes Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?) Das burguesinhas, mãe e filha geralmente, Que andam na rua com um fim qualquer; A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos; E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra E afinal tem alma lá dentro! (Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!) A maravilhosa beleza das corrupções políticas, Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos, Agressões políticas nas ruas, E de vez em quando o cometa dum regicídio Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana! Notícias desmentidas dos jornais, Artigos políticos insinceramente sinceros, Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes - Duas colunas deles passando para a segunda página! O cheiro fresco a tinta de tipografia! Os cartazes postos há pouco, molhados! Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca! Como eu vos amo a todos, a todos, a todos, Como eu vos amo de todas as maneiras, Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!) E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar! Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós! Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura! Química agrícola, e o comércio quase uma ciência! Ó mostruários dos caixeiros-viajantes, Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria, Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios! Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos! Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar! Olá grandes armazéns com várias secções! Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem! Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem! Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos! Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos! Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos! Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. Amo-vos carnivoramente. Pervertidamente e enroscando a minha vista Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis, Ó coisas todas modernas, Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima Do sistema imediato do Universo! Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus! Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks, Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes - Na minha mente turbulenta e encandescida Possuo-vos como a uma mulher bela, Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama, Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima. Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas! Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios! Eh-lá-hô recomposições ministeriais! Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos, Orçamentos falsificados! (Um orçamento é tão natural como uma árvore E um parlamento tão belo como uma borboleta). Eh-lá o interesse por tudo na vida, Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras Até à noite ponte misteriosa entre os astros E o mar antigo e solene, lavando as costas E sendo misericordiosamente o mesmo Que era quando Platão era realmente Platão Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro, E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele. Eu podia morrer triturado por um motor Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída. Atirem-me para dentro das fornalhas! Metam-me debaixo dos comboios! Espanquem-me a bordo de navios! Masoquismo através de maquinismos! Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho! Up-lá hô jockey que ganhaste o Derby, Morder entre dentes o teu cap de duas cores! (Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta! Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!) Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais! Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas. E ser levado da rua cheio de sangue Sem ninguém saber quem eu sou! Ó tramways, funiculares, metropolitanos, Roçai-vos por mim até ao espasmo! Hilla! hilla! hilla-hô! Dai-me gargalhadas em plena cara, Ó automóveis apinhados de pândegos e de..., Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas, Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria! Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto! Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro, As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam, Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto E os gestos que faz quando ninguém pode ver! Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva, Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos Em crispações absurdas em pleno meio das turbas Nas ruas cheias de encontrões! Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma, Que emprega palavrões como palavras usuais, Cujos filhos roubam às portas das mercearias E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! - Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada. A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão. Maravilhosamente gente humana que vive como os cães Que está abaixo de todos os sistemas morais, Para quem nenhuma religião foi feita, Nenhuma arte criada, Nenhuma política destinada para eles! Como eu vos amo a todos, porque sois assim, Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus, Inatingíveis por todos os progressos, Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida! (Na nora do quintal da minha casa O burro anda à roda, anda à roda, E o mistério do mundo é do tamanho disto. Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente. A luz do sol abafa o silêncio das esferas E havemos todos de morrer, Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo, Pinheirais onde a minha infância era outra coisa Do que eu sou hoje...) Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante! Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus. E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios De todas as partes do mundo, De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios, Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas. Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado! Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores! Eh-lá grandes desastres de comboios! Eh-lá desabamentos de galerias de minas! Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos! Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá, Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões, Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim, A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa, E outro Sol no novo Horizonte! Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo, Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje? Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento, O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro, O Momento estridentemente ruidoso e mecânico, O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais. Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar, Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos, Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar, Engenhos brocas, máquinas rotativas! Eia! eia! eia! Eia electricidade, nervos doentes da Matéria! Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente! Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez! Eia todo o passado dentro do presente! Eia todo o futuro já dentro de nós! eia! Eia! eia! eia! Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita! Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô! Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me. Engatam-me em todos os comboios. Içam-me em todos os cais. Giro dentro das hélices de todos os navios. Eia! eia-hô! eia! Eia! sou o calor mecânico e a electricidade! Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa! Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia! Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá! Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá! Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o! Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z! Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!

O mito da neutralidade dos transgênicos

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LÍNGUA ,LINGUAGENS.: FALANDO SOBRE GRANDES AUTORES DA MÚSICA BRASILEIRA...: "CHICO BUARQUE"