Rebeldes líbios prendem imigrantes africanos
Acusados de lutar como mercenários ao lado de Muamar Kadafi, centenas de negros são mantidos prisioneiros em Trípoli
Enquanto líderes rebeldes pedem aos seus companheiros que evitem
vingança contra seus "irmãos líbios", alguns combatentes têm voltado sua
ira aos imigrantes vindos da África Subsaariana. Sem nenhuma evidência
exceto à cor de sua pele, centenas deles foram presos acusados de lutar
como mercenários ao lado de Muamar Kadafi.
Foto: NYT
Sem nenhuma evidência clara, africanos são mantidos prisioneiros pelos rebeldes em Trípoli
Ainda assim, em um país com uma longa história de violência racista, o
fato de africanos ajudarem o governo de Kadafi serve quase como uma
prova de fé entre os rebeldes. E desde a queda do líder, a caça por
pessoas suspeitas de serem mercenárias tornou-se uma preocupação
importante.
Defensores dos direitos humanos acreditam que essa situação em
Trípoli - em que os negros africanos servem de bode expiatório para os
rebeldes - se assemelha ao ocorrido na cidade de Benghazi. Quando os
rebeldes tomaram seu controle, há seis meses, os negros chegaram a ser
linchados.
A recente prisão dos africanos, no entanto, ocorre em um momento
delicado quando o novo governo provisório tenta estabelecer sua
credibilidade. O tratamento dado aos presos será um teste crucial tanto
do compromisso do governo provisório com o Estado de direito, quanto de
sua capacidade de controlar seus milhares de combatentes frouxamente
organizados. Além disso, o novo governo também espera atrair de volta os
milhares de trabalhadores estrangeiros necessários para ajudar a
reconstruir a Líbia.
Cerca de 300 negros estavam sendo mantidos prisioneiros em um hangar
mal iluminado de concreto. Vários disseram ter sido presos enquanto
andavam nas ruas ou em suas casas, sem armas. Alguns disseram ser líbios
de pele escura da região sul do país. "Nós não sabemos por que estamos
aqui", disse Abdel Karim Mohamed, 29.
El Araby Abu el-Meida, um engenheiro de 35 anos que virou rebelde,
parecia quase pedir desculpas pelas condições. "Somos todos civis e não
temos experiência em coordenar prisões", disse ele.
Nos últimos dias, o governo provisório iniciou o esforço para a
centralização do processamento e detenção dos prisioneiros. Abdel Hakim
Belhaj, o líder dos rebeldes do conselho de Trípoli, disse que na
quarta-feira passada estendeu sua proteção a um grupo de 10
trabalhadores africanos que chegou a seu quartel-general em busca de
refúgio.
"Nós não concordamos com as prisão das pessoas apenas porque elas são
negras", disse ele. "Nós entendemos o problema, mas ainda estamos em
uma zona de batalha."
* Por David D. Kirkpatrick